— Talvez possamos ser filmados e não identificados.

— Como assim?

— Confie no seu amigo antiquado.

***

Horas antes, a aranha robótica voltara para o seu habitat no corpo do drone terrestre. Sabia que não era parte do drone. O protocolo de inteligência artificial distribuído garantia que não haveria mais integração lógica entre dois corpos robóticos físicos. A aranha tinha apenas o nível de raciocínio suficiente para executar as tarefas inerentes a sua função e até uma certa liberdade para tomadas de decisão em situações de emergência. Só que havia algo mais embutido em seu software: a noção de que era, de alguma forma, um indivíduo.

Aninhou-se em seu nicho e colocou o pequeno fragmento vegetal no receptor externo do drone terrestre, que o recolheu. Dentro, a pequena ponta de folha foi inserida em um compartimento e decomposta até virar uma pitada de pó. Lasers vermelhos escanearam o punhado de poeira e o drone terrestre enviou uma mensagem ultracodificada para a central: “seqDNA:TGCCACCT...”

Capítulo 5

Chegaram no apartamento às 17 horas.

— Vamos comer. Talvez não voltemos tão cedo hoje e não quero perder tempo com lanches.

Edwardo sempre tinha um bom estoque de comida desidratada. Não tinha paciência para preparar refeições a partir de alimentos crus e ninguém que o fizesse para ele. Na verdade isso era cada vez mais raro. Tanto preparar refeições quanto ter alguém para prepará-las. A última babá que tivera notícia fora a que ajudara a criar o seu pai. Só tinha visto em fotos. Empregadas domésticas também só conhecia por registros históricos. A maior parte da limpeza era feita por robôs domésticos e o lixo jogado nos tubos de sucção que levavam às centrais de reciclagem. Obviamente que existiam robôs cozinheiros, mas achava isso um luxo desnecessário. Gostava da comida desidratada. Escolhia-as mais pela tabela de nutrientes impressa na embalagem do que pelo sabor, já que gostava de todas as comidas desidratadas. Só tinha o cuidado de variar bastante. Quando faltava alguma coisa bastava solicitar pela super-rede e um drone de entrega chegava em menos de 10 minutos. Estes drones transportavam qualquer coisa na cidade, mas o transporte de passageiros era restrito aos drones de saúde ou ambulâncias aéreas, decisão tomada pelo governo.

Os antigos drones aéreos particulares de passageiros haviam proporcionado uma pequena revolução de transporte no passado. Quando surgiram, substituíram os automóveis de forma muito rápida. Infelizmente verificou-se que o caos terrestre movera-se para o ar. Mesmo com a utilização de uma variante do sistema de transporte aéreo do italiano Donargio Tento na utilização de camadas direcionais em faixas de altura diferenciadas, o sistema sobrecarregou-se e a velocidade operacional caiu bastante, ainda que não houvesse acidentes devido ao controle de localização das aeronaves. Curiosamente, tudo isso parecia ter sido previsto pelo governo. Enquanto o sistema aéreo entrava em colapso, em terra era construída a enorme rede de tubulações do metrô a vácuo. Como o uso dos veículos terrestres havia caído drasticamente pela utilização dos drones aéreos, foi muito menos traumático demolir 70% do solo e subsolo da cidade. Após entrar em operação, o metrô a vácuo foi gradativamente substituindo os drones de passageiros. Mesmo com as ruas liberadas era mais prático usar trens a vácuo ou continuar com o drone aéreo do que usar os antiquados veículos terrestres de passageiros. Foi então que, com as avenidas pouco utilizadas, o governo teve espaço para criar a supervia, propiciando dois tipos de transportes rápidos para a população e excluindo definitivamente o uso de veículos terrestres motorizados. Por fim os drones particulares de passageiros foram proibidos de voar sobre a cidade, restando apenas os drones aéreos de saúde, os drones de transporte de carga e os drones de segurança, já que o transporte público supria toda a necessidade de locomoção.

Condão (Lista Internacional)Where stories live. Discover now