Entendeu, portanto, que Ed havia testemunhado uma reação violenta a um drone por um indiciado ou suspeito que punha risco à integridade de outro ser humano ou da máquina. Mais: Seria necessário ter havido um crime onde o bem tutelado estaria sob o peso nível 4. Só conhecia 2 bens com esse peso, a vida e a dignidade humana, que abrangia a integridade física por extensão, mesmo que por agressão leve. Direitos humanos de primeira dimensão, estendidos para a coletividade. Ou seja, caso houvesse uma ameaça de mesmo teor à coletividade, a extensão dos princípios seria permitida para o uso da recíproca violenta. Nem mesmo uma afronta a alguns princípios de primeira geração, como liberdade e propriedade permitiriam, sob quaisquer aspectos, que máquinas ferissem seres humanos.

Suspirou enquanto o amigo olhava arregalado pela janela, atônito. Se dirigiu à máquina de café expressa. O sono já tinha sido comprometido pelos acontecimentos. Em 2 minutos voltara com 2 xícaras de café com odor agradável. Entregou uma ao amigo, acompanhada de uma toalha para que se secasse.

— Ed, Não é à toa que você está abalado. A última vez que se teve notícia de uma reação violenta de drones com morte aqui no Rio foi há 14 anos na revolta do Méier. Soube-se que houve 5 mortos e 12 feridos. Que era um bando que tentou se apropriar do software do Condão e da tecnologia robótica dos drones. Não houve jeito de evitar a morte deles. Estavam carregados de explosivos e poderiam por uma multidão em risco.

Claro, fora do Rio havia acontecido algumas outras rebeliões como a da represa hidrográfica de Juazeiro, ou da Reserva Indígena Pataxó, ambas há mais de 10 anos. A primeira, sabia-se, por um ato terrorista. A última, um mistério que não foi muito bem divulgado na mídia. Acabou caindo no esquecimento.

— Eu conheço a Revolta do Méier. Estava lá quando os drones explodiram o grupo. Foi o prédio onde trabalhava, como estagiário ainda, que tentaram invadir. Vi tudo da janela.

Jan ficou surpreso. Como assim, ele tinha apenas 14 anos na época. Desde tão cedo já trabalhava na indústria de software? Estava a ponto de perguntar…

— Eles estavam fumando tecanol, Jan. Só isso!

A xícara do professor agitou-se em sua mão e o líquido quente pingou no pulso fazendo-o soltar um grunhido. Era impossível. Não havia protocolo que permitisse tal procedimento. Aliás era completamente inconcebível. O consumo de tecanol era considerado apenas contravenção, ainda assim, somente em locais públicos.

— Ed, você deve ter se confundido. – disse, ainda mais confuso que o amigo.

O inquieto rapaz ignorou o amigo e partiu para a TV, largando a toalha, o moletom e a camisa. Ficou só de calça e gritou.

– NEWS!

Todos os comandos eram em inglês. Não por uma fixação pela língua e sim porque era mais prático. Os comandos em inglês não se confundiam com o conteúdo, tornando maior a compreensão das máquinas. Aliás, caso fosse usada a língua pátria, seria mais lógico que os comandos fossem em português já que o Brasil era o maior produtor de software há décadas. Em outros países se fazia o mesmo. Nos EUA os comandos eram em alemão, na Alemanha em português, e por assim ia. Na verdade a língua nativa era um capricho que os países mantinham, já que internacionalmente se falava um idioma híbrido, mistura de várias tendências com o mínimo de exigência fonética, algo como o remoto esperanto, mas muito mais técnico.

Condão (Lista Internacional)Where stories live. Discover now