Um Sonho Comum

Um Sonho Comum _ Conto

Naquela manhã, caminhando para o trabalho a passos largos,

os pensamentos a mil, era hora de decidir. Tudo estava indo

mal. Sem dinheiro, aos vinte e cinco anos e ainda morando com a

mãe, Luíza precisava decidir.

Ficara sabendo dessa amiga que estava morando nos Estados

Unidos e que já conseguira comprar um apartamento aqui, num

bairro próximo, com os dólares de lá. Mas para ir para a América

tem-se um longo caminho a percorrer: passaporte, visto, passagem,

e, é claro, o dinheiro. Onde conseguir dinheiro para tudo

isso? Ela tinha que encontrar um meio!

Luíza era uma bela morena que chamava a atenção por onde

passava. De estatura média, pernas bem-feitas e olhos castanhos,

tinha um cabelo liso e brilhante que lhe caía aos ombros como

seda. Sempre enfrentou os altos e baixos da vida com disposição

e serenidade. Não era do tipo que ficava se queixando. Ia à luta!

Ganhava a vida como secretária. Estudara até o terceiro

ano colegial e prestou vestibular para Direito, mas não obteve

sucesso. Depois disso se dedicou a fazer cursos profissionalizantes.

Fez, inclusive, um curso de Inglês, mas falava só o

básico, pois não se identificou muito com o idioma. Ela simplesmente

não suportava a ideia de a vida passar sem que seus

sonhos se realizassem.

Sonhos... todos os têm, mas nem todos são dignos deles.

Quando digo "digno" me refiro ao fato de que muitos sonham,

e só sonham. Outros sonham e de alguma forma fazem com que

esses sonhos se realizem, são aquelas pessoas que fazem acontecer,

como Luíza, que tinha vários sonhos, o de ter seu carro, sua própria

casa, uma família, sonhos de uma pessoa comum.

Seu trabalho como secretária era em um escritório de advocacia.

Seu chefe, um advogado em início de carreira, daqueles de

porta de cadeia, tentara, sutilmente, levá-la para a cama no início,

assim que fora contratada. Luíza, com muita classe, o recusou.

O assédio parou por aí, pois ele entendeu que ela não era dessas

moças interessadas em subir na vida dessa forma, mesmo porque

naquele trabalho ela não iria a lugar algum.

Os dias iam passando, suas dívidas aumentando, sua mãe

irritando-a com insinuações do tipo: "Você precisa conseguir um

emprego melhor... você tem que dar um jeito de fazer uma faculdade

ou não vai passar de uma simples secretária nessa vida... você

tem que procurar o seu padrinho e pedir-lhe emprego na sua empresa...".

Mas é claro, o padrinho! Ele poderia emprestar-lhe dinheiro