Capítulo 1

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1990

— Mi-Mi-Michael?

Uma risada masculina e sincera escapou do outro lado da linha, assustando Helen que estava prestes a chorar de emoção, porque mesmo sem a resposta do astro, ela sabia que era ele ali.

"Sim."

A linha então ficou muda de ambos os lados. O telefone quase despencou da mão de Helen, que tremia descontroladamente por puro nervosismo. Seus dentes rangiam em aflição e suas pernas estavam moles. Helen não conseguia pronunciar uma palavra se quer, pois sua respiração descompassada não permitia.

"Tudo bem?"

Seu ídolo estava ao telefone dando atenção a si. Já não bastava ter tido a sorte de ser escolhida aleatoriamente para dançar com o cantor, mas agora estava ao telefone com ele. Michael parecia compreender completamente a situação da moça, esperando que ela respondesse ele, tendo a maior paciência.

— Tô bem... Tô bem sim. — Helen respondeu, gaguejando e tropeçando nas palavras, novamente ouvindo a risada de Mike e sentindo as bochechas queimarem.

"Você gostaria de ir em Neverland comigo?"

A pergunta veio de repente, e a menina teve de parar para raciocinar o que estava acontecendo. Helen não entendia e se quer pensava numa resposta adequada para tal pergunta. Sabia que seria um grande privilégio, além do mais ele era o seu ídolo, e ir para sua mansão sendo convidada por telefone pelo próprio foi melhor ainda. 

Ficou longos e demorados segundos parada, o telefone em mãos, ouvindo a respiração forte de Michael através da linha. Helen suspirou e abriu um sorriso amarelo, tropeçando um sim lento. Michael novamente riu uma risada gostosa e contagiosa, e antes de perceber Helen estava rindo junto dele, mas de nervoso.

"Ótimo! Assim que eu voltar de turnê peço para meu secretário retornar a você para marcar as datas. Tudo bem?"

Helen não poderia estar mais feliz. As lágrimas escorriam de seus olhos em pura emoção. A menina teve até mesmo que se sentar para não acabar caindo, afinal todo seu corpo tremia. Sua mãe então apareceu de repente, estranhando a menina tão desequilibrada emocionalmente ao telefone, e logo pensou ser uma má notícia de algum familiar de fora.

— Muito obrigada. Obrigada mesmo. — agradeceu ela, sentindo suas lágrimas descerem ainda mais rápidas e grossas, desenhando sua bochecha avermelhada.

"Não agradeça." — disse uma última vez e desligou a ligação.

Helen levantou-se, ainda cambaleante, e num salto abraçou sua mãe, dizendo um: 'Nós vamos! Nós vamos!' sem parar diversas e diversas vezes. A mulher de cabelos curtos e levemente grisalhos olhou pra filha confusa, esperando que a mesma parasse de saltitar para fazer seus questionamentos.

— Querida, se acalme! O que aconteceu? — sua mãe perguntara, levando a menina a cama para se sentar, em seu quarto.

— Michael, mamãe. Michael! — foi a única coisa que saiu da boca de Helen, que tremia completamente, sendo segurada pela mãe.

— Ora, mas lá vem esse homem de novo! Não é porque ele é famoso que você precisa falar dele todo segundo, minha filha. — dona Amber reclamou, levantando-se da cama e virando as costas para sair do quarto e voltar aos seus afazeres.

— Mamãe! Vamos para Neverland! — Helen gritou antes que sua mãe pudesse desaparecer porta à fora. 

Amber voltou-se para a filha, olhando quase que não acreditando nas palavras da mesma. O sonho de toda família americana era viajar para o rancho do astro, gostando ou não dele. Era quase que mesmo inacreditável, pois podia ser uma pegadinha de Mike, uma ora que seu espírito infantil o permitia de qualquer coisa.

— Não faça isso comigo, Helen. Pelo amor de Deus! — Amber dizia, apoiando-se na escrivaninha ao lado da cama, olhando incrédula para sua filha que tinha um sorriso iluminado nos lábios grossos.

— Mamãe, eu liguei pra ele. Ele me chamou, nos convidou para ir lá! — ela esperneava, levando sua mão para secar suas lágrimas grossas.

Vendo o semblante ainda confuso da mãe, Helen preparou-se e após um suspiro longo contou tudo o que havia acontecido no show e tudo que Michael a disse ao telefone. Sua mãe ficava boquiaberta com o relato, quem não ficaria, não é mesmo? Mesmo sem acreditar, e não querendo, a mulher suspirou longamente, tentando parecer o mais irritada possível.

— Tenho que ligar pro teu pai imediatamente. Esse cantor está pregando uma peça numa criança! — Amber gritou, e em segundos começou a xingar de todas as formas Michael.

Helen não se importava, pois ela estava esperançosa de ser tudo verdade. E era. Seu coração mantinha um ritmo descontrolado e nem mesmo ela tinha vontade de ligar para o que a mãe havia dito para si. Nada mais importava, afinal, ela ia para Neverland, a casa de Michael Jackson.

-

Dois meses se passaram e Helen já havia perdido a esperança. Aparentemente sua mãe estava certa sobre Michael, infelizmente. A garota chorou por dias de felicidade, mas agora só sabia chorar de tristeza por ter sido enganada.

Helen montava um quebra-cabeça de poucas pessoas com pouquíssima animação. Sua mente vagava pelo dia do show, onde havia dançado com o rei do Pop. Já passava da meia-noite, seus pais estavam dormindo, mas a garota nem sono tinha. Ela estava quase que depressiva. As peças coloridas do quebra-cabeça deixavam-na se distanciar um pouco da verdadeira dor que estava sentindo, como uma distração. Nem mesmo Katherine poderia alegra-la naquele momento.

Alguns minutos depois e a finalização do jogo estava completa. Ela olhou satisfeita e esboçou um pequeno sorriso. Levantou-se então e se direcionou para a cama, olhando pra fotografia de Michael, a qual ainda se fazia presente em sua escrivaninha. Sua real vontade era e rasgar aquele pedaço de papel e culpar o cantor por seus dias pessimistas, mas ela não conseguia, pois aquela esperança ainda batia em seu peito.

Deitou-se na cama e quando estava prestes a dormir um som estridente soou. Era o telefone. Tão tarde alguém ligando? Seus pais acordaram com o terrível toque que o aparelho antigo fazia. Thomas, o pai de Helen, puxou o telefone do gancho, questionando um "Alô?" breve. Helen encaminhou-se para perto dos pais, abraçando a mãe que estava olhando curiosamente para o marido ao telefone.

"Desculpe pela ligação a essa hora da noite, mas o senhor Michael implorou para que ligássemos imediatamente." — Charles, segurança de Michael, disse, num tom forte e agressivo, como se estivesse ordenando algo.

Thomas estremeceu estranhamente, olhando com um sorriso aberto para Helen e em seguida movendo os lábios em um: 'Ele ligou' que passou totalmente despercebido pelas duas mulheres.

— Não tem problema! — gritou o homem de 49 anos, pegando a mão de Helen e apertando fortemente.

Ela ainda não estava entendendo, mas Amber compreendeu. 

— Filha... é o Michael. — sua mãe esclareceu, olhando pra filha carinhosamente.

Helen sentiu novamente as lágrimas inundando seus olhos. Tudo em si tremia, pensando que mesmo depois de dançar com tantas garotas, passar tanto tempo, ele ainda lembrava-se dela, ainda lembrava da promessa que fez. A garota não tinha palavras, apena secou as lágrimas, um sorriso enorme tomando conta de seu rosto.

"Pelo Michael vim aqui pedir desculpas pela demora, mas ele teve seus motivos. Então, vocês vão à Neverland?"

— Pai, me passe o telefone agora. — implorou Helen, estendendo a mão para pegar o aparelho e assim que o fez levou ao ouvido. — Vamos. Nós vamos sim!

"Michael vai ficar feliz com isso. Um carro pode passar para buscar vocês amanhã mesmo, afinal é final de semana." — Charles sugeriu, sorrindo através do telefone ao ver, sentado na poltrona ao seu lado, Mike rindo gentilmente.

Helen disse a proposta aos pais que aceitaram sem pensar muito. A garota concordou e então a ligação finalizou-se, um sorriso enorme brotando em seus lábios. Estava certo. Eles iriam para Neverland. Conheceria seu ídolo mais de perto e isso já a deixava repleta de alegria e sentimentos espontâneos. 

— Eu disse a vocês! Disse que ele ligaria! — Helen comemorou, sendo abraçada pelos pais.

Ela sabia, lá no fundo, que Michael cumpriria com sua palavra, e a menina esperou por tantos dias, mas no final realmente valeu muito a pena.

Nosso TempoWhere stories live. Discover now