Lydia deixa de novo seu lugar, anda pelo quarto, ajeita os cabelos, torce os dedos, atira uma caixinha com lápis de cor na parede, eles se espalham pelo chão.

—Odeio essa bruxa, odeio! – Ela grita me partindo ainda mais o coração.

—Ei mocinha, você vai recolher isso. – Digo de modo duro. – Sente-se, não acabei de falar.

A raiva dá lugar as lágrimas e ela vem para meus braços em uma crise de choro que só me mata um pouco mais.

— Eu não sei fazer nada sem você, vou ficar sozinha no mundo. – Aperto Lydia em meus braços.

— Sabe sim, você é esperta, sabe até pular os muros do colégio. – Minha lembrança faz o coração acelerar. – Me prometeu nunca mais fazer isso.

— Não vou fazer. – Ela soluça. – Diz não, por favor, Jane, diz não a tia.

— Ela vai parar com seu tratamento, vai me mandar embora e você não pode ir comigo, mesmo que eu pegue você e fuja, se nos encontrarem vou presa e você volta e sua vida será um inferno, se eu não for presa e conseguir um lugar e um emprego, você fica sem tratamento e não podemos abrir mão disso.

— Desculpe, Jane, desculpe, a culpa é minha, vai se prejudicar por minha culpa. Eu devia estar no carro com eles. – É como tomar um tiro, um soco é uma dor que arde o peito ouvi-la dizer algo assim.

—Não diz isso, Lydia, é minha princesa Bela, sem você eu nunca teria conseguido, eu teria me entregado a dor e não estaria aqui, é minha irmãzinha linda que eu amo muito.

— Mas vai se casar com um monstro e ficar presa em uma torre por minha causa.

—Vamos deixar o conto de fadas para depois. Não é tão ruim, eu estive pensando, ele pode ser um cara legal. – Lydia me olha sem expressão. – Meu amor, quem sabe ele é o príncipe?

— Nós não acreditamos em príncipes, Jane, você me ensinou isso, nós acreditamos em princesas. – Suspiro sem saber mais como acalma-la.

— E se quando eu me casar com ele, o tal conde que eu já nem lembro mais o nome for gentil e eu puder confiar nele? Vou sondar o ambiente e se descobrir que ele é de confiança, então conto tudo a ele e quem sabe ele me ajuda a pegar você?

—E se ele for um crápula? E se não puder confiar nele?

— Nesse caso, vamos esperar até que você tenha idade para mandar tia Margareth para o inferno, então vamos ficar juntas de novo, se tudo der muito errado, só vamos ter que esperar cinco anos.

—Cinco anos, sem te ver? Londres é longe, é lá que vai morar, não é?

— Vamos nos falar todos os dias, o tempo todo, fazer coisas juntas pelo telefone, o seu dever, você vai poder ir a todos os médicos e terapias que eu sempre planejei levar você, mas a bruxa nunca permitiu.

— Ele vai te dar dinheiro?

— Sim. – Meu rosto queima de vergonha, me sinto suja. – Não é certo, não é bonito, não...

— Não fica assim. – Lydia me abraça. – Está tudo bem, eu sei que é errado, mas eles estão te obrigando.

— Pode me prometer que não importa muito o que aconteça, não vai deixar a tia Margareth mudar você. Não acredite nas mesmas coisas que ela, se concordar com Tia Margareth, em qualquer coisa que seja, acredite que está errado e repense, promete? Ela vai fazer parecer que é tudo lindo e certo, que eu tive sorte, mas não pode acreditar nisso. Promete?

Aliança(DISPONÍVEL até 19/02)Where stories live. Discover now