A Razão é Você - Livro 1 - Disponível na Amazon

Prólogo

Eu jamais conseguirei entender o que realmente aconteceu ou acontece. Nunca fui boa nessas coisas! Eu vejo como se tudo estivesse embaçado, não consigo enxergar direito, mas tem alguém comigo, disso eu sei. Posso senti-la, posso ouvi-la, mas não consigo vê-la. Tudo à minha volta é um embaçado bem colorido, mas eu reconheço esse lugar, esse cheiro, essa movimentação.

Eu ouvi um choro e um grito enquanto sonhava que voava alto, então caí aqui. Consigo ver a todos, mas não conseguem me ver. Estou indo para a biblioteca, sei disso porque as folhas da enorme porta de cerejeira são únicas, os arabescos e as maçanetas douradas foi ideia minha. Eu escolhi aquela porta dupla, assim como toda a decoração de nossa casa. Decoramos juntos aquela enorme mansão, uma casa cheia de alegria e vida, mas não estou entendendo o silêncio e a tristeza. Será que algo que eu não saiba aconteceu ou está acontecendo? Eu não me lembro de muita coisa, mas agora que estou em casa de novo, mesmo vendo tudo embaçado, posso ver os empregados, os nossos dois cachorros da raça Pharaoh Hound, eles têm pelos pretos brilhantes, são alegres e brincalhões, assim como o dono.

Eu estou entrando na biblioteca e vejo meu marido, Ryan Travis Scott, sentado na enorme poltrona que eu chamo carinhosamente de trono de sua majestade, ele bebe um whisky e seu olhar está perdido, ele não percebeu a minha aproximação, o sol está se pondo, olho para o antigo relógio, e mesmo com tudo ainda embaçado, consigo ver que são oito horas da noite. No hemisfério norte, quando é primavera e verão, os dias são mais longos. Aqui na Irlanda não é diferente.

O jardim deve estar lindo, cheio de flores multicoloridas, as minhas favoritas são os girassóis, e os pássaros devem estar começando a se recolher. Ele me pediu em casamento no final do verão e nos casamos no primeiro mês do outono no jardim da nossa casa, tendo como testemunha nossos familiares e alguns amigos próximos. A família dele é muito importante e influente no Reino Unido, pudera, a família Scott é cheia de advogados e médicos bem-sucedidos. Seu pai, Tristan Scott, é dono de uma rede de hospitais, ele é o filho mais velho de John Scott, o patriarca da família, e meu marido é o neto e filho mais velho. Sua irmã Megan é a caçula de seus pais, mas a terceira ou quarta neta da linhagem. Vovô John é um homem forte, de olhos azuis e cabelos brancos como a neve, meu sogro é sua cópia fiel, enquanto meu marido é a cópia fiel do pai. Não há como negar que o DNA dessa família é forte.

Eu passo por trás dele, que não percebeu a minha presença ainda, o observo, suas feições fechadas e perdidas revelam noites mal dormidas, olheiras roxas e desleixo. Ele é o homem mais bonito que eu conheço, cabelos castanho escuro e olhos pretos, como jabuticabas, ele parece um armário, tem um e noventa e oito de altura e a barba que eu tanto amo está enorme.

Ele coça os olhos e dá um suspiro profundo, parece impaciente, aborrecido, parece que chorou várias noites seguidas. Ele é o CEO da rede de hospitais que o pai deixou em suas mãos após se aposentar.

Ry e eu nos conhecemos quando eu tinha dezessete anos e ele vinte e cinco. Ele é um homem genial, superdotado, com um QI comparável ao de Einstein e parece que nasceu na família certa. Terminou o ensino médio aos quatorze anos e foi convidado a estudar numa das faculdades de referência em medicina nos Estados Unidos.

Nos esbarramos, literalmente, numa livraria, eu procurava um romance enquanto ele procurava um livro de neurologia. Ele é pediatra com especialização em neuropediatria. Lembro-me como se fosse hoje quando nos conhecemos.

"— Desculpe! — Ele disse me pegando em seus braços.

— Eu quem deveria pedir desculpas. Eu sinto muito! Realmente sou a bailarina mais desastrada da companhia de ballet! — Eu disse saindo delicadamente dos seus braços depois de quase me perder naquele abraço e cheiro.