Capítulo 5 - Não é mais como era antigamente

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"Quem me dera, ao menos uma vez,
explicar o que ninguém consegue entender"

(Índios – Legião Urbana)

Enquanto tomava banho naquela segunda-feira começou a pensar a respeito da avó e das primas. As duas moças eram em torno de quatro anos mais velhas que Regina e, de acordo com o que Cassandra havia dito na tarde anterior, as três receberiam conhecimento a respeito de feitiçaria quando completassem trinta e três anos. Ou seja, no futuro, Angélica e Ingrid poderiam já saber de alguma coisa e nunca comentaram nada. Regina gostaria de entender o porquê. Este seria o primeiro assunto a ser tratado com as primas assim que a viagem terminasse.

Saiu distraída do quarto e enquanto se dirigia para a escada, ouviu os pais conversando:

— Tá esquisita mesmo... Você tem que ver os comentários que ela faz quando a gente está assistindo a novela das seis. E ela arrumou o quarto sem nem eu mandar!

Parou no meio do corredor e se agachou para ouvir melhor, já que eles falavam baixo.

— Sexta-feira no caminho pra escola ela me perguntou o que eu achava da prefeita! Ela nunca se interessou por política!

Brigite riu com a mão na boca:

— Sei lá, parece que de um dia pro outro alguém trocou a minha filha por um robô.

Regina levou as duas mãos ao rosto, e sentiu o coração acelerar. Ela precisava agir conforme sua idade, com urgência.

— Está com saudade de ter uma criança, é? — Cido mudou o tom de voz de repente — A gente pode providenciar isso...

— Não obrigada. Mas... a gente pode...

Os olhos da garota se arregalaram quando ela ouviu o que parecia ser um beijo... e um gemido!

— Bom dia! — falou alto enquanto descia as escadas. Ela nunca havia presenciado um momento íntimo dos pais e não pretendia começar naquele momento.

Brigite saiu rindo pra um lado e Cido pigarreou sentando numa cadeira.

Ocupou as horas seguintes repassando aquela cena. Primeiro pela preocupação a respeito de seu comportamento, ela acreditava piamente que estava disfarçando bem, entretanto concluiu que o melhor seria deixar o piloto automático guiá-la a maior parte do tempo, para garantir.

Segundo porque era a primeira vez na vida que ela pensava nos pais como um homem e uma mulher que ainda se amavam, que ainda faziam sexo, que eram como ela e Tiago. Isso ao mesmo tempo a deixou feliz e enojada, se é que fazia algum sentido. A felicidade vinha da adulta, o nojo vinha da adolescente, com certeza.

Sorriu divertida quando chegou a esta conclusão e pensou que, se pudesse, escreveria um diário sobre esta viagem e levaria de volta consigo mesma, para revisitá-lo quando quisesse saber sua própria opinião sobre tantas coisas, quando quisesse relembrar as lembranças...

— Ãh? — falou para si mesma no meio da aula de matemática, enquanto a sala toda estava em silêncio tentando resolver um exercício.

— Esse tá bem difícil mesmo. — Sabrina sussurrou em resposta.

Regina não estava prestando a menor atenção nas aulas daquele dia, mergulhada em pensamentos confusos sobre passado, presente e futuro, não fez uma única anotação nas folhas de fichário coloridas que ela tanto gostava de usar para se organizar.

Durante o intervalo se sentou  com os amigos e, entusiasmada, lhes mostrou o aparelho celular que havia ganhado. Gravou o número de Sabrina e de Andrei na memória do aparelho e comentou displicente:

O último feitiço de Cassandra [Vencedor wattys 2021]Where stories live. Discover now