SÓCRATES: - Por Hermes, uma bela pergunta! Vejo que pela firmeza em suas palavras, você parece um sábio não só para o governo como também para grande parte da plateia que te assiste!
OTÁREO: - Sim, porque penso por mim mesmo!
SÓCRATES: - Fantástico! Algo raro na Grécia Antiga. Se permitir aprender com seu vasto conhecimento, diga-me: O que diferencia uma criança de um adulto?
OTÁREO: - O olhar de mundo! A criança não tem uma capacidade de interpretar a realidade como ela é. Por isso fantasia as coisas, cria falsas aparências, o que a impossibilita de filosofar!
SÓCRATES: - Trouxestes uma importante definição sobre o ato de filosofar: Interpretar a realidade em sua essência!
OTÁREO: - Exato! Filosofar não é mergulhar nos livros que só repetem ideias de autores, mas enxergar e refletir sobre o próprio cotidiano. Aquele pessoalzinho franco-uspiano só sabe fazer o primeiro, por isso não filosofam!
SÓCRATES: - Fantástico! Você acrescenta que o método de filosofar reside, em partes, na imersão da cotidianidade.
OTÁREO: - Correto.
SÓCRATES: - Porém, a qual cotidiano podemos nos referir? Aquele em que vivemos a todo o momento, sem refletir sobre ele ou uma forma combinada de cotidiano com o seu estranhamento, produzida por um reflexivo distanciamento?
OTÁREO: - O segundo, sem dúvidas!
SÓCRATES: - Bela resposta! Filosofar trata-se de realizar um deslocamento de percepção, de modo que possamos dar atenção diferente às coisas, talvez despercebidas no cotidiano!
OTÁREO: - Sim! Por isso digo que no Brasil quase não há filósofos. Eu sou um dos poucos que consigo ver coisas que ninguém percebe e que remetem a outras configurações da realidade.
SÓCRATES: - Estou diante de um gênio! E poderíamos dizer que, o filósofo, diferente da maioria da população, é aquele que não se perde em uma atenção flutuante?
OTÁREO: - Com certeza! Em meus cursos de Seminários de Filosofia Online digo que as sociedades escravocratas têm maior propensão a gerar filósofos, já que há tempo para filosofar.
SÓCRATES: - Bela ponderação! As condições de tempo são relevantes. Do contrário, se é levado pela desatenção quanto a temas fundamentais, quase sempre despercebidos pela maioria.
OTÁREO: - Claro! Por isso não gastei minha juventude estudando filosofia em uma universidade, sou um autodidata!
SÓCRATES: - E como você é uma exceção, deduzo que a maioria não reflete o cotidiano.
OTÁREO: - Sim... Somos um país de imbecis coletivos!
SÓCRATES: - E o que a sociedade diz daqueles poucos que filosofam? Não são eles vistos como intratáveis, perguntadores, incômodos, sem lugar, posto que colocam reflexões incomuns aos que vivem o cotidiano ordinariamente?
OTÁREO: - Com certeza! Por isso sou incompreendido pela academia!
SÓCRATES: - Portanto, a atitude do questionar é o que situa o filósofo como um tipo de consciência invertida de sua época, uma voz dissonante frente aos saberes, práticas e valores instituídos. Se me permite retomar um paralelo entre as crianças e adultos...
OTÁREO: - Vamos lá!
SÓCRATES: - No seu vasto conhecimento, em tese, quem possui mais tempo para observar o cotidiano?
OTÁREO: - Diria que as crianças, de um modo geral!
SÓCRATES: Respondestes bem! Possivelmente por não estarem em um cenário ritmado pelos afazeres do trabalho, pela pressa do tempo... E não são as crianças que possuem menos receios do que um adulto em realizar perguntas?
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Tudo que você precisa saber para ser um ignorante: Sócrates no Brasil
Historical FictionCom humor e ironia, a história narra a vinda de Sócrates da Grécia Antiga para o Brasil. Trazido pelo governo em uma máquina do tempo, a saga almejava uma consultoria educacional para o país. Entretanto, ao questionar ideias e valores em voga, a con...
Capítulo 6: Filosofar é coisa de criança?!
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