Um Conto de Sangue e Chamas

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Franzi as sobrancelhas e olhei para a lua brilhando no céu escuro. Com um longo suspiro, escondi o rosto nas mãos. Meus dedos deslizaram e chegaram no cabelo loiro enquanto eu respirava fundo.

Depois de horas deixado no fundo daquele barranco, tinha certeza de que não voltariam para me ajudar. Eu estava no meio da floresta, não havia nada por perto além de árvores e o único caminho de volta que eu conhecia era subindo os quase cinco metros do topo do despenhadeiro de onde eu caíra.

Sozinho e com uma dor latente no tornozelo torcido – talvez até quebrado –, mal conseguia me mover e estava sem mantimentos, com exceção da pouca água que ainda restava no cantil.

Traído. Fui traído por meu "irmão" de patrulha. Quando fiz o juramento, disseram que viveríamos numa irmandade todos deveriam se importar e cuidar uns dos outros, especialmente em missões. Não foi o caso. De qualquer forma não era como se eu tivesse escolha. Era a patrulha ou viver nas ruas, e eu preferia ao menos ter comida no estômago e um teto para dormir embaixo. Sobrevivência era a prioridade; nem todo mundo pode realizar seus sonhos mesmo... E tudo isso para acabar aqui, sozinho no meio da floresta.

No desespero, já tinha tentado gritar por ajuda e várias vezes subir de volta, me agarrando nas raízes de árvores e pedras, mas sem sucesso: a terra molhada me fazia escorregar de volta e era complicado me movimentar sem usar uma perna. Agora, derrotado, continuava sentado no chão. Não tinha como escapar. Massageei as têmporas. Já estava difícil manter os olhos abertos e minha cabeça estava leve. Morrer preso daquele jeito e sequer ser enterrado ou cremado não era nem de longe uma das formas que imaginara para o meu fim.

Um calafrio percorreu meu corpo e cruzei os braços tentando me manter aquecido ao menos o colete de couro desconfortável servia para me ajudar a não congelar. Apesar do cansaço e dos músculos gritando em agonia, minha mente não parava, buscando alternativas para sair dali.

Asas bateram e pelo som alto, só podia ser um dragão, acelerando meu coração que já batia violentamente. Prensei as costas contra a parede do penhasco, numa estúpida tentativa irracional de desaparecer do radar do enorme réptil. O típico barulho gutural escapou da criatura. Ela não podia estar muito distante.

Fiquei imóvel, nem sequer respirava para que nenhum som chamasse a atenção da criatura. Depois de mais um baixo rosnado, o dragão se afastou. Soltei um suspiro de alívio. Cansado e ignorando a dor no tornozelo, recostei para descansar e tentar subir o barranco no dia seguinte.

***

A consciência retornava aos poucos, mas minhas pálpebras estavam pesadas, assim como o resto do corpo, então foi difícil de abri-las. Esperava ser recebido pela forte luz do sol, no entanto, estava ainda mais escuro do que antes. Esfreguei os olhos e me sentei lentamente. A caverna era escura e ampla, com um caminho mais estreito e comprido, de onde vinha a única fonte de luz. Era para lá que eu tinha que ir.

Uma onda de dor me atingiu ao tentar levantar. Suprimindo uma reclamação, me forcei a ficar de pé, apoiando o peso no lado não machucado.

Algo claro se mexeu no outro lado da caverna. Apoiei-me na parede áspera de pedra. A criatura veio adiante, entrando apenas o suficiente na fraca luz para que eu reconhecesse a pele de escamas de um dragão branco. Minha mão foi imediatamente para a cintura, onde a espada deveria estar; no entanto, encontrei apenas o ar no lugar do cabo.

O dragão moveu uma das patas, encostando e arrastando algo comprido: a espada na bainha. Arfei e nem pensei antes de tentar sair correndo; obviamente foi uma péssima ideia, pois o tornozelo dolorido cedeu após três passos e caí no chão. Determinado a sair de lá o mais rápido que podia, virei-me e me arrastei para a saída, já que não conseguiria levantar novamente.

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