​Era algo tão simples, por que tinha que ser justo ela?

— Eu até me ofereci. Estava querendo mesmo ir espiar ele um pouco. — Ela ria do outro lado — Não me importaria nem um pouco. Sabe outro dia o vi pegando café e reparei que temos o mesmo gosto, sabia que ninguém mais aqui do andar coloca leite no café e apenas três gotas de adoçante? Só nós dois.

— Harriet...

— Quais são as probabilidades disso acontecer? — Sua assistente a interrompia — Até a quantidade de gotas. — Dizia toda sonhadora enquanto, com toda certeza, planejava seu casamento com Ryan em sua cabeça — Será que ele gosta de lasanha de brócolis também? Se gostar, com toda certeza é o destino e...

— Harriet! Foco! — Dizia elevando a voz.

— Ah... Sim. — Ela pigarreia voltando do mundo dos sonhos — Então Diana me disse que queria que você fizesse isso, pois deixara você responsável em dar o que ele precisa. E ela disse que ele ressaltara que tem certa urgência.

​Com um grunhido ela bate a testa no volante. Era apenas uma pasta, porque Lucy não podia fazer isso? Ninguém sabia pegar o elevador ou subir uma escada?

— Sinto muito, Alexia. Eu tentei, mas Diana me proibiu de sair da minha mesa, disse que esse não é o meu trabalho. — Pela sua voz e seu total devaneio, que teve há pouco enquanto conversavam, era nítido o seu desanimo.

— Eu já estou chegando. Estou perto da revista. — Dizia antes de terminar a ligação.

​Respirava fundo ainda com a cabeça colada no volante.

Diana podia ter muitos defeitos, ou virtudes como ela gostava de dizer, podia ter instituído várias regras sem fundamentos no escritório, mas nunca imaginara que fosse ficar feliz, e encontrar um lado bom em uma delas. Nada de crianças no escritório, sempre fora algo que nunca compreendera muito bem, pois toda vez que seu neto, Oliver, estava na cidade ficava semanas infernizando todo mundo, correndo pelos andares, desenhando sobre documentos importantes e pintando as paredes. Mas com Ryan perambulando pelo escritório durante o período de sabe Deus quanto tempo, essa regra viria a calhar, pois tudo o que menos queria era que seu passado e Edward convivessem no mesmo ambiente. Ryan era tudo menos idiota, Alexia sabia que se permitir uma conversa entre eles por mais que cinco minutos ele suspeitaria de algo.

Buzinas a assustam fazendo-a pular no banco. O semáforo abrira e ela ainda estava parada. Os carros atrás dela recomeçavam a sinfonia regida pelo maestro com três luzes coloridas.
Pelo que ela se lembrava, Ryan, não era muito adepto a chegar cedo a seus compromissos. No passado já brigara com ele algumas vezes. Talvez isso não houvesse mudado, então chegaria ao escritório, pegaria a pasta, iria até a sala dele e a encontraria vazia.

Não há nada para se preocupar. Ela só tinha que ir lá entregar a pasta e depois levar seu filho ao centro recreativo na hora do seu almoço. Diana não estaria lá mesmo então não haveria problema de quebrar aquela pequena regra uma vez, afinal muitos funcionários abusavam quando ela viajava. É como o ditado: "Quando o gato sai os ratos fazem a festa".

Tudo ia acabar bem.

— Querido? — Ela falava com seu filho que estava distraído com seu brinquedo — Vamos precisar passar no trabalho da mamãe, vai ser rápido, tudo bem?

— Vou poder comer donuts? — Perguntava animado. Ele sabia muito bem o que tinha na cozinha do escritório. Pois como fora dito, quando Diana saía os funcionários abusavam um pouco.

Ela ria atenta à rua.

— Tudo bem, mas apenas um ou vai estragar seu almoço.

— Dois mamãe? — Ele a olhava com uma carinha tão fofa, com grandes olhos pidões e um beiçinho, era quase impossível negar-lhe algo.

No lugar certo (pausado)Where stories live. Discover now