Galoparam sem parar ou olhar para trás, sentindo uma estranha pressão. Marianna sabia que as sombras estavam no seu encalce e qualquer erro ou acidente poderia custar caro. O animal sentia essa urgência e dava o seu máximo, evitando obstáculos que pudessem atrasá-los.

Quando finalmente saíram da floresta, o sol já estava se pondo no horizonte. Marianna direcionou Orvalho para o mosteiro, visível com suas paredes brancas .

— Vamos até o mosteiro, precisamos contar o que aconteceu! – o animal continuava trotando rápido.

— Você acha que eles vão saber o que foi aquilo?

— Não sei, mas espero que sim. Se eles não souberem, é porque tem algo de muito errado acontecendo.

***

Analuz descansava deitada na grama do jardim do mosteiro. Depois de um dia cheio, de treinamentos e tarefas, tinha conseguido uma folga. No dia seguinte, faria dezesseis anos e teria que sair em peregrinação, parte do treinamento de qualquer monge. Era seu sonho, desde que se entendia por gente e começara a ser preparada, deixar os muros do mosteiro, a proteção dos outros monges e vencer o mundo por si mesmo. Ela queria que provar que era capaz, apesar da cegueira.

Até porque Analuz não se considerava mais ou menos por causa disso. Não enxergar era apenas uma característica sua. Conseguia se movimentar no mosteiro sem ajuda e executar todas as tarefas de um noviço sem embaraço. Mesmo nas poucas vezes em que acompanhara um irmão a cidade, ninguém percebera sua cegueira. Era a melhor lutadora da região e podia derrubar qualquer malfeitor na estrada .

Por isso o tom de voz de seus companheiros de clausura a incomodava tanto. Aquela comiseração por ser privada de um dos sentidos. Como se os outros quatro não fossem mais do que suficientes para mantê-la!

Deitada ali, podia sentir o frescor do chão em suas costas, refrescando do calor do sol em seu peito e rosto. Sentia o cheiro ácido e agradável das plantas e podia ouvir o grito das aves.

De repente, focou nos pássaros. O grito estava mais estridente que o costume, como se algo estivesse errado. E eram muitos, como se toda a floresta tivesse resolvido levantar voo ao mesmo tempo. Definitivamente, algo estava acontecendo fora do normal ali. Levantou de um pulo e correu até o sino de alarme. Gritou junto com o som metálico.

— Atenção! Perigo na floresta! Atenção!

Depois de soar o alerta três vezes, correu até o imenso portão. Como o mosteiro era situado no caminho entre duas grandes nações, Saturnia e Alderã, suas portas sempre ficavam abertas durante o dia para acolher quem precisasse de auxílio na viagem. Ela parou no limiar do força que marcava onde começavam as terras selvagens da floresta.

Concentrou-se, tentando descobrir por sons e vibrações o que estava acontecendo. Atrás de si, pode ouvir o alvoroço do mosteiro, os outros preparando-se para atender o alarme. A sua frente, vinha a brisa fria da floresta, os sons estridentes dos pássaros assustados e um cavalo galopando, aproximando-se com rapidez do muro. Além do animal, perseguindo-o, conseguiu distinguir um silvo cortante, um som que jamais tinha ouvido e esperava jamais ouvir de novo. Era como se a dor pudesse ser escutada.

Tomando toda a coragem possível, respirou fundo e saiu do mosteiro, disposta a ajudar quem estivesse chegando.

— Esse pangaré não anda mais rápido?

— Ele não é um pangaré e estamos praticamente voando! – Era verdade. Pelo ritmo das batidas dos cascos no chão e pelo próprio sacolejar do animal, ela sabia que estavam indo a uma velocidade absurda. O cavalo não ia resistir muito mais tempo e os muros do mosteiro ainda estavam longe.

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⏰ Last updated: Oct 11, 2019 ⏰

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Caminho para Mandalay (Andarilhos da Tempestade I)Where stories live. Discover now