— Um mecanismo interessante esse, da sua saia.
— Obrigada. Eu tive que aperfeiçoar a forma de descer do cavalo sem ficar presa nas amarras, mas vale a pena. O fator surpresa compensa.
O homem soltou uma gargalhada.
— Eu que o diga, bonitinha. Eu que o diga.
Ela fez uma careta.
— Não me chame assim.
— Mas eu não sei o seu nome. – Ele sacudiu as mãos.
— Marianna. E o seu?
— Leif.
— Sem sobrenome? – Ela foi incisiva na pergunta. Aquela floresta, tão próxima do mosteiro, era tida como tranquila. A presença de um fora-da-lei era inesperada e ela pretendia chegar aos monges com o máximo de informações que conseguisse arrancar dele.
— Você também não me disse o seu, bonitinha.
Ela se calou. Não tinha a menor vontade de dizer o nome de sua família para um desconhecido. Tinha saído de casa para viver seu próprio destino e não queria que mais ninguém soubesse dos seus laços antigos. O silêncio voltou a pesar entre eles enquanto prosseguiam. A tarde ia pela metade e a floresta começava a rarear quando Leif disse algo.
— Você escutou algo?
Ela tinha ouvido sim, algo como passos abafados. Pararam no meio de uma clareira, o sol coado pelas folhas das arvores. Orvalho também ergueu a cabeça, pois não era imune a tensão.
— Você trabalha sozinho, Leif?
— Juro que meu trabalho não é assaltar no meio de florestas, outra hora explico. E sim, eu estava sozinho até hoje de manhã.
A claridade do sol pareceu diminuir e um vento frio ergueu-se do chão. Os dois viajantes olhavam para todas as direções, preocupados.
— Lindinha, não era melhor você me soltar e devolver o meu machado?
— Para você fugir? Não. Afinal, pode ser apenas um animal selvagem e...
O barulho aumentou e vinha de todos os lados. Marianna pensou melhor e em um movimento rápido da espada soltou as mãos de Leif. Com o machado na mão, ele permaneceu parado na frente de Orvalho, esperando para verem o que estava cercando-os.
Não demorou muito para que descobrissem. Sombras acinzentadas vinham de todos os . Eram tantas que Marianna não conseguiu contar em um primeiro olhar.
— Por todos os infernos, o que são essas coisas, Marianna?
— tentou agarrar a rédea de Orvalho e ela o cortou. Para novamente. – Eles se regeneram!
Leif estava cercado por um grupo delas, cortando-as ao meio só para ver as duas partes se juntarem novamente.
— Jura? Nem tinha notado!
Mais uma das criaturas puxava as rédeas de Orvalho, que dava coices e patadas, apavorado. Marianna tentava destruí-las, mas elas sempre se refaziam. A única saída seria fugir e por um instante ficou tentada a simplesmente mandar o cavalo partir, deixando Leif para trás. Só que algo a impediu de agir de forma desleal.
— Leif, suba no cavalo, temos que sair daqui antes que elas nos sufoquem!
Ele girou o machado com força pela última vez, fazendo com que o grupo mais próximo deles se desfizesse. Enquanto as sombras se reagrupavam, ele pulou na garupa do animal e se agarrou na sela. Era o que Marianna e Orvalho precisavam para sair em disparada pela trilha que cortava a floresta.
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Caminho para Mandalay (Andarilhos da Tempestade I)
FantasyUma antiga profecia falava do fim do mundo e da arma dos deuses que o impediria. Forças da luz e das trevas se unem para que isso aconteça. Porém, nem tudo está sob controle.
CAPÍTULO 1
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