Capítulo 2

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Meus olhos estavam pesados das horas mal dormidas e os choros incessantes. A casa estava relativamente cheia, considerando que tínhamos poucas pessoas em nossa vida. Em minha vida. Agora eu estava sozinha. Alguns vizinhos se solidarizaram e vinham me abraçar, lamentando a perda de Emily. Todos carregavam o mesmo discurso maquinal.

— Ela era tão jovem para partir daquele jeito. — lamentavam.

— Sim. — eu respondia breve.

Partir daquele jeito era o modo como descreviam o fato de minha irmã ter sido assaltada e esfaqueada na porta de casa esperando o táxi para a formatura. O ladrão deduziu que ela tinha dinheiro por causa de seu belo vestido esmeralda e tentou pegou sua bolsa. Emily tinha reagido por conta do susto do movimento súbito e ele a esfaqueou três vezes, correndo e deixando-a para morrer na calçada. A polícia conseguiu achar o assassino, porém minha irmã não resistiu.

Minha vontade era de responder que ela era jovem para morrer de qualquer que fosse o jeito. Ela só era jovem para morrer. Emily, dentre tantas pessoas no mundo, não merecia morrer.

Foi um baque e um banho de culpa me atingia a cada segundo que relembrava dela insistindo para que fôssemos na frente e que nos amava. Era como se ela soubesse. Fechei os olhos, apoiando-me na mesinha da entrada e ignorando as contas acumuladas. Tinha vontade de gritar com aquele assassino que não tínhamos dinheiro e que ele a havia matado por nada, uma aparência vazia que só seria dela por algumas horas. O vestido tinha sido uma das poucas coisas que resolvemos ficar de nossa mãe. Ela tinha se formado com aquele vestido e Emily queria fazer o mesmo.

O máximo que conseguiu foi ter o mesmo destino.

Cruzei os braços, observando todas aquelas pessoas transitando por minha casa e senti o vazio que habitava em meu peito aumentou, fazendo-me ficar encolhida com um dos cotovelos recostado na cômoda alta em frente a porta da entrada. Repentinamente a porta foi aberta e um cabisbaixo Lloyd, encarando-me com os inchados olhos castanhos.

Ver alguém que realmente sabia como eu estava me sentindo foi o limite e me joguei em seus braços, chorando copiosamente. Ele me apertou contra o seu peito e seu cheiro se tornou acolhedor, por ser algo conhecido. Permanecemos naquela posição por um tempo até que minhas lágrimas não fossem mais absorvidas por sua camisa e molhassem a bochecha. Levantei minha cabeça e ele enxugou meu rosto delicadamente, mantendo o rosto tenso segurando seu choro.

— Vamos sair daqui. — ele decidiu e eu assenti deixando que ele me puxasse para os quartos. Ele hesitou no corredor, olhando para a porta do quarto de Emily e balançou a cabeça ao me ouvir fungar, puxando-me para o meu quarto do outro lado do corredor. — Quem são aquelas pessoas?

Dei de ombros sentando-me na cama e o vi puxando a cadeira que pertencia a minha penteadeira, sentando-se a minha frente. Puxou um lenço e começou a limpar o meu rosto, passando o pano de maneira suave com o rosto concentrado. Desde a morte de Em, Lloyd não tinha parado um segundo sequer. No enterro, ficou se certificando de que estava tudo nos conformes, cumprimentando a todos e recebendo os pêsames ao meu lado. Não tivemos a chance de conversar, porque ele parecia estar me evitando.

— Não sei. — sussurrei com a voz rouca pelo choro. Ele parou e me encarou inquisitivo. — Reconheci alguns vizinhos, um pessoal do estágio dela e da faculdade. Mas Emily tinha um circulo social maior do que eu imaginava.

Pela expressão de Lloyd, era maior do que ele imaginava também. Quando se deu por satisfeito, levantou-se, jogando o lenço no lixo do banheiro e tirou o paletó, deitando-se na minha cama e me puxando para seus braços. Respirei fundo, não querendo chorar novamente e senti que seu coração estava batendo forte, assim como as tremulações de seu peito.

Aquela que nos uneKde žijí příběhy. Začni objevovat