As lágrimas dele se tornam mais grossas. Não sei o que fazer com pessoas chorando. Quando as gêmeas choravam no início, eu entregava elas para o primeiro adulto responsável que encontrava. Atualmente entrego para o Pierre e saio correndo. Ou o Oliver mesmo. Mas o Dustin? Para quem eu entrego o Dustin?

Tento imitar os meus sócios e esfrego as costas dele. Ele pega a minha mão, porém, e coloca no rosto, cobrindo com a própria. A dor nas lágrimas é tanta que eu tenho vontade de chorar também, o que é muito estranho.

— Não chora, Juzinha. Por favor, não chora. Está tudo bem, você está bem agora. Eu estou aqui e não vou a lugar nenhum mais.

Mas vê-lo ainda derramar lágrimas me faz não poder acatar o pedido dele.

— Estou com defeito. — digo, limpando as lágrimas com a mão livre — Tem água vazando dos meus olhos.

A risada dele é baixa.

— Eu senti tanto a sua falta. Preciso avisar a alguém que acordou para que possam te checar. Você vai ficar bem?

— Não sei o que aconteceu de tão grave para você achar que sou um parasita que não sobrevive sem você, mas sim, vou ficar bem. Traga um remédio para dor também, há algo fazendo minhas entranhas gritarem por socorro.

Ele vai e eu fico lá, observando o branco infinito do teto, enquanto minha memória se ajeita. Consigo lembrar de pouco, mas o bastante para não entender o Dustin aqui.

Ele havia terminado comigo e pedido o divórcio. Havia ido ficar com a Nara. Será que acha que preciso da dó dele? Eu preciso que ele vá ser feliz longe de mim, só isso.

— Julia Rutherford, é um prazer finalmente te encontrar acordada. Você assustou a todos nós muitas vezes e fez com que o seu marido te imitasse. Diga-me sobre um homem mais apaixonado.

Fico calada, concordando em discordar em silêncio. O drama matrimonial que a minha vida se tornou não precisa ser da consciência de ninguém mais. Ele me examina, faz perguntas, me avalia, me toca aqui e ali, e anota tudo na prancheta. A minha cabeça parece estar desinflando aos poucos, uma sensação muito estranha.

— A sua melhora é o que posso chamar de milagre. Ah, não estranhe a dor de cabeça, você teve uma reação alérgica a um remédio hoje cedo. Seu marido me informou da dor que está sentindo na região abdominal, já prescrevi um remédio intravenoso. Como você está tomando muitos fármacos, vamos tentar alterar os horários entre eles e iniciar a alimentação oral. Pedirei que façam uma sopa pra você. Alguma alergia alimentar?

— Não que eu saiba. Quanto tempo preciso ficar aqui?

— Uma semana, estimo. Você não poderá ir para casa imediatamente, mas seu marido falou que alugará um quarto de hotel para vocês. Será breve, só até que possamos garantir que o seu deslocamento seja indolor e não trará efeitos colaterais. Vamos te transferir para um quarto também, só estamos aguardando o leito. Dúvidas?

— O Dustin está bem? Ele parecia um pouco agitado demais.

Ele termina de escrever na prancheta e me olha.

— Estamos tratando ele com ansiolíticos, desde que teve um princípio de infarto.

Fico olhando para ele.

Quando em VegasWhere stories live. Discover now