Cap 2

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Descruzei meus braços de seu pescoço, tentando dar alguns passos para longe dele, mas parecia que seu corpo havia criado uma zona gravitacional própria, que me puxava para perto novamente e contra minha vontade, por mais que eu resistisse.
— Estou bem. Estou... só... você sabe... — pare de gaguejar, sua besta! Tentei me recompor da melhor forma possível. — Eu estou...
— Bem — completou ele, ainda com as mãos em minha cintura.
— Isso — disse, afastando-me e vendo-o aos poucos me soltar, quase que a contragosto. — Obrigada.
— Por perguntar se você está bem ou pelo beijo?
— Pelos dois — respondi sem pensar, e ele sorriu, achando graça.
— Não tem de que — falou, dando de ombros e colocando as mãos dentro dos bolsos da calça, com um sorriso misterioso.
— Eu tenho que ir — avisei, antes que minha vergonha se tornasse tão grande que eu não conseguisse mais suportar o peso da minha cara e tivesse que arrastá-la no chão para sair dali. — Obrigada — repeti.
Ele sorriu mais abertamente, certamente achando mais graça. Naquele momento, vi revelados dentes perfeitos que, à luz negra do ambiente, pareceram ainda mais brancos.
Merda, como ele poderia estar tão confortável com a situação? Ah, sim. Não foi ele quem agarrou a primeira pessoa que viu pela frente e enfiou a língua na boca dela até as amígdalas. — Disponha — disse ele.
Fiquei parada, sem ter certeza de como me distanciar. Era só dar as costas e sair andando? Não sabia qual era o comportamento adequado para quando se bolina uma pessoa desconhecida. Sem saber como agir, meu corpo reagiu por mim e, antes que eu pensasse a respeito, minha educação falou mais alto e estiquei a mão para ele em um gesto de "Então, tchau".
Ele olhou para minha mão estendida e dela para mim.
Ok. A sequência agora era assim:
Eu.
Um Buraco.
Eu deitada.
E terra por cima.
Agora, por favor.
Quando cogitei recolher minha mão, ele foi mais rápido e a segurou, balançando-a.
— Alec — falou, apresentando-se e, assim, deixando aquele nome sexy sair por seus lábios, que eram como um convite para o pecado ou um desafio para que eu voltasse a beijá-lo. — Foi um prazer — disse, passando a língua pelo lábio inferior e fazendo meus olhos traidores deslizarem dos seus para sua boca, aquela que estava na minha há menos de um minuto.
Recolhi minha mão.
— Eu preciso mesmo ir embora — reforcei. Não que eu tivesse algum compromisso ou precisasse me justificar por tê-lo beijado e sair correndo, pois todos ao nosso redor deveriam estar fazendo a mesma coisa. E eu deveria ser a, sei lá, décima pessoa que ele beijava naquela noite. Um ciúme descabido aflorou dentro de mim e, como reflexo, senti meu rosto esquentar.
— Tem certeza de que está bem? — perguntou novamente.
Balancei a cabeça em afirmativa e, depois de um pequeno sorriso, virei de costas e comecei a me afastar, sentindo uma estranha sensação de vazio.
Meu Deus, se existisse uma premiação para melhor primeiro beijo da história dado até hoje, com certeza estaríamos entre os prediletos para ganhar a medalha de ouro. Normalmente, o primeiro beijo entre duas pessoas é estranho, como se fosse uma fase de reconhecimento - você não sabe onde colocar as mãos e chega a ser desconfortável. Eu já tive outros primeiros beijos durante a vida, mas nunca nenhum foi assim, tão perfeito. Nós nos encaixamos desde o instante em que os nossos lábios se encontraram.
Depois de procurar mais um pouco, finalmente encontrei a saída. Mas parei e pensei melhor sobre ir embora. Não seria justo com minha amiga perder a sua festa de despedida, ainda mais por um babaca como Lucas. Eu não sabia quando conseguiria vê-la de novo e, por isso, respirei fundo e dei meia volta, indo atrás da bendita área vip.
Perguntei para algumas pessoas que me indicaram por onde ir e finalmente me encontrei. Pelo menos ali dentro eu estaria a salvo, pois caso Lucas ainda estivesse na casa noturna, ele não teria acesso àquela área, já que a pulseira que liberaria sua entrada estava comigo.
Reparei em uma das meninas dançando em uma barra de pole dance com outras duas, que chamavam bastante atenção por estarem em um palanque mais elevado, e entre elas, reconheci Melissa. Minha amiga alta, loira e de olhos verdes, tinha um corpo de dar inveja. Suas pernas eram muito bem torneadas, porém isso não era genética, e sim muitas horas de academia, corrida e natação. Ela era apenas um pouco mais de dois anos mais velha do que eu, mas quando se maquiava para sair, poderia passar por uma mulher de vinte e oito facilmente. Ela sempre elogiava meus seios, e eu elogiava suas pernas; dizíamos sempre que se juntássemos nossas qualidades, o resultado seria a mulher perfeita. Por dentro e por fora. Humildes? Quase nada.
Ela acenou para mim e bateu no punho como quem bate no relógio, falando "Está atrasada". Revirei os olhos para ela. Respirei profundamente uma vez, tomando coragem, e comecei a caminhar em meio à multidão em direção a Mel. Enquanto andava, fiz uma retrospectiva de tudo o que tinha dado de errado durante aquele dia horrível. Primeiro, a luz do meu prédio acabou durante a madrugada, a bateria do meu celular descarregou, o despertador não tocou, cheguei atrasada para minha entrevista de emprego e, com isso, perdi a chance de conseguir o trabalho de que tanto precisava. E para completar, depois de tudo isso, como se fosse pouca coisa, cheguei na casa de Lucas e o peguei na cama com nossa suposta amiga.
Tinha sido um dia e tanto e ainda não havia acabado. Sem contar que teria que lidar com a falta de lugar para morar, já que minha melhor amiga, com quem eu dividia o apartamento, estava se mudando para longe e eu não poderia mais morar com Lucas. Em pouco tempo, seria oficialmente uma sem-teto .
Mas o dia de hoje era da Mel, então não estragaria a festa dela com meus problemas; engoliria toda a vontade de chorar que estava em minha garganta e aguentaria mais algumas horas.
— Onde você estava? — perguntou Mel, se aproximando já bem alegrinha. — Fiquei preocupada. Espere, cadê o Lucas?
— Não vem! — falei, gritando acima da música.
— Não vem? — perguntou, agora ficando séria. Bem, na medida do possível, já que estava usando uma tiara de princesa que piscava luzes de todas as cores. — Por que ele não vem? Vocês brigaram?
— Não. Ele só não vem — respondi rápido, encerrando o assunto.
— Por quê? — insistiu ela. Mel me conhecia muito bem e sabia quando eu não estava nos meus melhores dias. Mas sabia também respeitar minha privacidade.
— Amiga, hoje é o seu dia. Então, vamos esquecer quem está ou não aqui — e, falando isso, peguei a tiara em forma de coroa, com pequenas luzes que acendiam e apagavam, de sua cabeça e coloquei na minha — e vamos estragar um pouco nossos fígados, que estão muito saudáveis.
— Tequiiiiiillllaaaaaaa — gritou Mel.
— Tequiiiiiiilllllaaaaaaaa — gritaram as pessoas atrás dela.
Ri disso e resolvi que colocaria meus problemas em uma caixinha e lidaria com eles depois. Beeeeeeeeem depois. Agora, eu só queria esquecer.
Mel voltou com uma bandeja cheia de copinhos de tequila, limão e sal.
Tequila. Era disso que eu estava precisando. Quem sabe encontrasse a solução dos meus problemas no fundo de um, ou dois, ou três copos de tequila. E se não encontrasse, continuaria procurando nos próximos. Merda de dia de bosta. Bora beber para esquecer.
— Vamos dançar! — gritou Mel, me puxando para junto das outras meninas.
Lá pela quarta dose de tequila, eu já estava me sentindo muito melhor e os problemas pareciam escoar do meu corpo conforme eu dançava. As meninas estavam no poste de pole dance, me chamando, e eu fazia sinal de que precisaria beber mais algumas doses para criar coragem de subir ali.
Ri delas e fui pegar outra coisa para beber, algo que fosse menos forte. Encostei no bar da área vip e, quando fui fazer meu pedido, reconheci a menina que estava servindo as bebidas no bar de baixo.
— Oi de novo — ela falou.
— Oi — respondi.
— Ainda vodca? — perguntou, apontando para as garrafas de bebida atrás dela.
— Queria algo mais leve.
— Pode deixar comigo. Vou fazer uma especial para você — disse ela, piscando.
Vi que pegou várias garrafas e, fazendo algumas manobras, foi despejando pequenas quantidades dentro de um copo que, no final, ficou todo colorido. Ela colocou um guarda-chuva e me entregou.
— Nossa, que sofisticado — disse depois de provar. — Está uma delícia.
— Obrigada. Sou boa com drinks.
— Eu sou Nina — falei, esticando minha mão por cima do balcão e cumprimentando-a.
— Dot — apresentou-se — Tudo bem?
Dei de ombros e ela riu.
A música mudou, e um alvoroço começou na parte de baixo do bar. Olhei para lá e vi que várias dançarinas, com roupas extremamente provocantes, faziam uma coreografia muito bem executada. Se bem que, com aqueles corpos e naquelas roupas, elas poderiam só estar fazendo dois passos para lá e dois para cá que os caras estariam pirando do mesmo jeito.
Uma menina, que só poderia trabalhar lá por suas roupas, foi até o balcão do meu lado e entregou para Dot um pequeno bolo de dinheiro.
— Coloca no cofre para mim — disse. Acompanhei-a com os olhos e percebi que era uma das meninas que dançava para o grupo de homens lá em baixo.
Dot estava de volta em um segundo. Não sei que expressão havia em meu rosto quando ela me olhou, mas respondeu uma pergunta que eu queria muito fazer, apesar de não ter coragem, pois tinha acabado de conhecê-la:
— Gorjetas — falou mais alto que do que a música para que eu pudesse escutá-la.
— O quê? — perguntei, me debruçando por cima do balcão.
— O dinheiro. Era da gorjeta. Todas que dançam ganham gorjetas.
— E vocês podem ficar com ela?
— Sim. O que ganhamos dançando ou servindo mesas é nosso.
— Legal — disse, voltando a tomar meu drink sofisticado, lembrando que precisaria de um emprego o mais rápido possível para pagar as contas, pois não conseguiria adiar os pagamentos do tratamento de minha irmã por muito mais tempo.
— Você está interessada? — perguntou Dot, tirando-me de meus pensamentos desesperados.
— Não entendi.
— Você quer um emprego?
— Dançando? — perguntei, já rindo.
— Não. Fazendo malabarismo — disse, revirando os olhos. — Claro que é dançando
Não consegui segurar a gargalhada.
— Com certeza. Sou tão sexy. Posso começar agora?
— Eu estou falando sério — explicou ela, observando-me de volta.
— Mesmo? — perguntei, parando de rir e fazendo com que ela revirasse os olhos de novo. Voltei a olhar para as meninas que circulavam servindo as bebidas e as que dançavam fazendo coreografias ao nosso redor. — Eu acho que não é pra mim — confessei sentindo vergonha por ela realmente estar sugerindo que eu trabalhasse em uma casa noturna.
— Por quê? Não curte dinheiro fácil?
— Não. Quer dizer, sim. É só que não sei se conseguiria dançar para os outros.
— É mais fácil do que parece — disse ela, enquanto fazia mais um drink verde e amarelo. — Vi você dançando com suas amigas. Você leva jeito.
Dei de ombros, pensando no dinheiro. As dívidas estavam acumulando e Isa dependia de mim. E agora, sem ter Melissa para dividir o aluguel e as despesas de casa, eram pouquíssimos os lugares que eu poderia pagar sozinha, com o dinheiro que ainda restava da reserva dos meus pais. Eu precisava logo de um emprego - na verdade, para ontem. Mas mesmo assim, dançar em uma boate?
Olhei mais uma vez para as meninas trabalhando com roupas provocantes, mas nenhuma estava tirando peças do vestuário ou sendo tocada pelos homens do grupo que as rodeava.
— Acabou de abrir uma vaga. Se quiser, é só me falar que eu falo com o Hoover.
— Quem é?
— O gerente.
— Obrigada. Vou pensar — falei por educação, já descartando a ideia. Sem querer menosprezar o lugar, e mesmo com as finanças indo mal como estavam, eu precisava de um emprego de verdade, durante a luz do dia e que me desse estabilidade.
Mel veio pulando, como uma cabrita, da rodinha de amigas em que estava.
— Onde você se meteu? Vamos dançar. Amanhã, eu viajo e não vamos nos ver por um bom tempo! Venha ficar comigo.
Dei um sorriso para Dot, que entendeu o grau de felicidade causada pelo álcool de minha amiga.
— Tome! — falou Mel, me passando uma dose dupla de tequila.
— Acho que, se tomar mais, vou passar mal — comentei.
— Então, passe — disse, levantando o copo dela. — Vamos viver, amiga!
Olhei para ela e depois para o copo, considerando o quão alterada eu já estava. O suficiente para dançar solta, mas não o bastante para esquecer meus problemas e subir no pole dance.
— Ah, foda-se. Só se vive uma vez — disse, pegando o copo.
— Iiiiiiisssooooo!!!! — gritou Mel, virando o dela em seguida. — Vamos nos acabar de dançar!
A última coisa de que me lembro é de ver as luzes estromboscópicas piscando sem parar, fazendo minha cabeça rodar e rodar enquanto eu dançava com minhas amigas ao meu lado. E, naquele momento, meus problemas não existiam e eu estava feliz.

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O que acharam deste capítulo amorecas?
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