Quando em Vegas

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Nem assim ele parou, fui pro hospital, desmaiei quando vi o médico e agora ele me obrigou a ficar em casa, porque aparentemente vomitar minhas tripas não é normal. Aqui estou eu então.

Sozinha com os meus pensamentos, vendo um filme ruim e sentindo falta de algo que eu nunca tive. Se eu só tivesse alguém para me trazer comida... o telefone está do outro lado da sala, então não, eu não consigo pedir por conta própria. Tem um monte de mini futuros ex-marido fazendo a festa dentro da minha cabeça, porque a única outra explicação que achei foi no Google, que disse que eu estava morrendo, e fiquei feliz por isso porque ia parar de doer tanto. Mas o Pierre cortou o meu barato quando me levou no médico, que me garantiu que eu ia sobreviver.

Morrer é mais rápido que ficar melhor. Não que eu almeje a morte ou coisa do tipo, tenho muitos clientes para cuidar. A mulher do filme grita tão alto que parece estar atrás de mim, só que descubro que na verdade é o meu celular tocando. Levanto com as minhas últimas forças.

É o Peter, meu cliente alemão. Demoro a entender o que ele diz por causa da dor de cabeça e do sotaque carregado dele. Ele quer saber sobre a mulher que foi condenada no caso dele, e fico feliz por me distrair com trabalho. Explico o que sei sobre, dou o máximo de detalhes que posso lembrar, e logo ele desliga, a voz da filha gritando ao fundo.

Consigo pensar em uma coisa positiva. Pelo menos não tenho um filho pra cuidar enquanto me sinto como um cocô pisado. Eu não conseguiria cuidar dele com essa dor de cabeça horrorosa.

— Julia? O Pierre acabou de me contar o que... que merda aconteceu com você?

Observo a figura da Lauren como quem observa um lobo fofinho. É lindo, mas é melhor não chegar perto. A mulher é assustadora às vezes, e quando ela está brava é uma dessas vezes. E ela certamente está brava.

— Gripe. O médico disse que meu sistema imunológico estava desprotegido, só por que eu não tomo vacina da gripe há dois anos, acredita?

— Não me diga! Você ligou pra Claire para ela te dar essa vacina?

Choramingo. Ela sabe que não com isso.

— Eu ligarei para ela então. Isso é, se ela tiver tempo nas próximas semanas. Entre trabalhar e namorar uma estrela da música, não sobra muito tempo.

— Sobra sim, é só levar um pé na bunda da estrela e descobrir que ele deixou uma gripe de lembrança.

— O Jake nunca faria isso com ela, você já viu a devoção que tem? O Pierre tá cansado de saber que eu sonho com o Jake todas as noites.

— Somos duas. Eu pedi muito para o universo, e olha o que eu recebi! Tome cuidado com o que você pede. Eu quero morrer, Lauren.

Ela para de catar as bolinhas de queijo que derrubei no chão.

— O que aconteceu com a minha amiga feliz por ser solteira?

Jogo uma bolinha de queijo do sofá na cabeça dela.

— Não me ofenda assim, eu não estou sofrendo por causa dele. Meu corpo está todo doendo, e eu nem pude ajudar o Peter direito hoje.

— Peter é um vizinho? Posso chamar ele para te ajudar a tomar banho? — ela balança as sobrancelhas, insolente.

— Peter é um cliente, que mora no Nebraska. Quero dizer, ele vai se mudar.