Pesadelos

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Estava quente fora de casa, era um dia de primavera, apesar da grama tentar nos convencer que era só mais um dia de um outono qualquer, entrei no carro sentando na janela da direita, para que eu pudesse observar nossa casa com mais calma, ali onde lembranças foram feitas, a maioria foram péssimas, mas foram lembranças, e eu as guardaria na memória até o dia em que eu deixasse este mundo.

Eu observava meu pai trazendo malas para guardar no carro e os gêmeos tentando convencer a mamãe a levar as bicicletas, eu achei uma ideia idiota, porque obviamente não tinha espaço para elas, nem em cima do carro, porque também continham malas, nem no próprio suporte de bicicleta, porque eu já havia deixado a minha lá, mas eles sendo os queridinhos da minha mãe acabaram ganhando o direito de levar, mas eu teria que tirar a minha bicicleta. Protestei na mesma hora, não era justo, ela já tinha concordado com o fato de que eu levaria a minha bicicleta para que eu pudesse ir pedalando até chegar ao mar.

-Anda, seus irmãos são mais novos que você.

-Qual a diferença de eles serem mais novos ou não? –Perguntei com raiva –Você já tinha concordado que eu levaria a bicicleta bem antes de eles pedir!!

-Michael Daley você vai me obedecer agora !! –Disse a mãe no mesmo instante, quase não deixando o menino terminar a frase anterior.

-Por favor mãe, você tinha concordado, disse que eu poderia andar de bicicleta até a praia, para sentir o aroma do mar antes mesmo de eu o ver -falei isso de uma maneira que até eu senti pena de mim mesmo, eu não ligava de ir andando ou de ônibus até a praia, mas aquilo era uma questão de vencer os gêmeos, era uma competição para ver quem possuía a mamãe amava mais.

-Se eu tiver que repetir mais uma vez eu vou destruir essa bicicleta todinha quando nós voltarmos da casa do seu tio –Ela já estava sem paciência comigo, foi ali que eu vi que o amor dela por mim estava quase que totalmente vazio.

-Tá bom –disse melancólico, minha própria mãe, a única pessoa que pensei que me amasse acima de tudo, estava cada dia mais distante de mim.

Removi a bicicleta do suporte apoiando-a no chão e arrastando-a até o canto da casa, do lado da casinha de cachorro, Luna estava deitada em cima dela, dei um cafuné na sua cabeça e ela retribuiu com um miado, reconheci oque ela pedia, ela queria que eu a acariciasse mais.

-Não Luna, eu tenho que ir –e a deixei para trás, com aqueles olhos finos que só os gatos possuem, me observando.

Voltei para perto do carro, eu ia entrar novamente no banco de trás, mas fui interrompido pela mamãe que estava parada no mesmo lugar, ao lado dos gêmeos que erguiam suas bicicletas que eram a metade da minha.

-Michael, coloque a bicicleta de seus irmãos no suporte.

Meu sangue ferveu.

-Não mesmo!! Primeiro eu não posso levar a minha e agora eu tenho que fazer favor para essas duas pestes que vivem enchendo a minha vida, pensei que você fosse minha mãe, mas percebi que ama mais eles do que a mim, e uma pessoa que ama uns filhos mais do que outros não pode ser considerada mãe!!! – falei tão alto que o papai parou na escada que tinha frente de casa com uma caixa na mão, observando a situação, tão alto que Mason deixou a bicicleta dele cair, pois havia levado um susto, tão alto que mesmo Emily que estava no carro com as janelas fechadas e um fone de ouvido conseguiu ouvir, algumas pessoas que passavam pela rua também nos observavam, eu havia exagerado, posto toda minha raiva para fora.

-Desculp...

Fui interrompido com um tapa na cara vindo de mamãe, foi um tapa ardido, esfreguei o lugar, lágrimas escorreram pelo meu rosto, pingando no asfalto da rua e evaporando logo em seguida. Levantei a cabeça, direcionando-a para o rosto de mamãe, que me olhava com desgosto.

Tears OceanWhere stories live. Discover now