Capítulo 1

15 3 11
                                    

Um clarão cegante ataca os olhos de Daniel. Ele tenta protege-los com as mãos e percebe que está imerso em uma bacia com água. Não pode ser água, ele pensa. A consistência é melada e muito gelada, muito gelada mesmo. Ele começa a encolher o corpo, tremendo e, por um segundo, se pergunta como está respirando. Seu pensamento e, por sorte, sua angustia são interrompidos quando uma mão o puxa para fora do caixão de hibernação. A ânsia de vomito é inevitável quando o tubo de 20 cm, usado para alimentação e respiração, é retirado de sua garganta. Ele tosse e se recompõe.

Uma toalha cai sobre seus ombros enquanto outra enxuga sua face. Ele abre os olhos e vê uma moça trajando um macacão branco com faixas vermelhas e uma plaquinha que diz: Equipe de Despertar.

- O... Onde estou?

Extremamente confuso, ele olha ao redor e vê diversos outros caixões como o seu, com enfermeiras como a sua ajudando jovens, crianças e velhos também perdidos como ele.

- Fique calmo, Daniel Correa Castro. Ela lê o nome escrito no caixão. Você é um dos colonizadores do projeto Gemini ll. Em menos de 5h ira chegar ao seu novo lar... Nosso novo lar. Perda de memória após a hibernação é normal e temporário.

Depois de seca-lo ela aponta para uma porta no extremo da sala onde outras pessoas estão se dirigindo e diz:

- Quando se sentir melhor, deve se dirigir aos chuveiros para a limpeza completa e depois a um dos orientadores. Eles irão indicar o número de seu armário.

A moça então se despede, pega seu carrinho de toalhas e vai em direção a outro caixão ainda fechado. O rapaz observa a cena se repetir: a enfermeira puxa outro coitado para fora de sua banheira, o enxuga e instrui. Ao olhar para a porta, um segurança acena para ele, fazendo sinal para que vá até lá, ao entender de Daniel, de forma amigável. Olhou para baixo então e percebeu estar apenas de cueca, ou algo que lembrava uma cueca branca. Terminou de enxugar o cabelo por conta própria e foi em direção a porta. Entrou na fila que havia para sair da sala de hibernação, jogou a toalha em uma caixa que ficava embaixo de uma placa onde pedia-se gentilmente que deixassem as toalhas.

Tomou seu banho em um banheiro enorme, cheio de chuveiros e sem nenhuma parede que impedisse um de ver o outro em seu processo de limpeza. Depois de se secar, enrolou a nova toalha na cintura e foi até o balcão de informações. Não havia nenhuma pessoa lá, apenas um leitor de retina que pedia em voz robótica que se aproximasse, colocassem o olho no local indicado e não se mexessem até a leitura ter sido feita. Daniel seguiu as instruções com obediência, assim como todas aquelas pessoas faziam, ainda meio perdidas. Se perguntou se estavam mesmo conscientes ou em um estado de zumbificação onde fariam qualquer coisa que as vozes mandassem.

- Armário 872. Disse a voz robótica e um mapa animado, indicando como chegar até o local, apareceu em uma tela.

Seguiu o caminho como indicado, parou em frente um armário do tamanho de uma porta e notou que este também tinha um leitor de retina. Repetiu o processo que havia feito alguns segundos atrás e após um bipe positivo, viu a porta do armário se abrir. Era um pequeno armazém onde se podia entrar, se trocar e até se sentar em um banquinho fixo. Notou dois caixotes grandes ao chão e um cabide com algumas roupas. As reconheceu como sendo suas e sentiu a memória voltando. Lembrou que não deixará nada para trás na Terra. Ambos seus pais já haviam falecido, não era casado, não tinha filhos. Tentou se lembrar de algum conhecido que poderia ter vindo com ele, mas não se lembrou de ninguém.

Com um toque na telinha touch ao lado da porta, ele a fechou e percebeu o quao claustrofóbico era o armazém. Sem nenhuma janela e apenas uma luz fraca azul, vestiu seu macacão. Notou que era parecido com o da enfermeira, exceto onde no dela corriam a linhas vermelhas, neste eram azuis e na placa de identificação estava escrito "Colonist. Eletric Eng", traduzindo: Colono, engenheiro elétrico. Virou-se para um espelho escuro em uma das paredes. Fitou um rosto quase quadrado, sem barbas e quase sem cabelo nenhum. Passou a mão nos pequenos pelinhos que ainda restavam e sentiu o pinicar em sua palma. Vai crescer de novo, pensou chateado.

Novo LarWhere stories live. Discover now