– Gael? – Uma voz familiar chamou, e ele virou tão rápido que quase perdeu o equilíbrio.

– Alba? – Sussurrou surpreso, piscando várias vezes.

Fazia anos que ele não a via. A sensação que ela produzia era a mesma que anos atrás; a mesma sensação que Gael tinha quando ouvia uma música antiga: nostalgia. Era como lembrar fragmentos de uma poesia esquecida e recordá-la por completo. Era a experiência de voltar a infância e depois a vida adulta em segundos. 

Gael ficou mudo por um tempo, apenas encarando a mulher que tinha um sorriso inquieto no rosto. Ela não estava feliz.

Não faz sentido sorrir quando você não quer sorrir.

– Oh, como você cresceu – Se aproximou hesitante, fazendo Gael recuar alguns passos. Ele não era muito bom com reencontros. – Você está lindo, querido. E provavelmente mais inteligente do que era com onze anos.

– Obrigado? – Perguntou ingenuamente, não sabendo o que fazer.

Alba continuava a mesma: olhos azuis, rosto oval e pequena. Só que sua nova versão tinha cabelos grisalhos e olhos chorosos.

– Sim, você respondeu certo. Talvez merecesse um pirulito – Riu com ternura, olhando para Gael que tremia.

Ele também continuava o mesmo, tirando a altura e a falta dos óculos de grau. Alba queria que ele tivesse evoluído, e talvez fosse verdade porquê Gael estava em pé a horas, com frio, sonolência e ansiedade; olhando para seu filho como se ele fosse algo precioso e frágil. Gael nunca olhava para ninguém assim. Seus únicos focos sempre foram livros e cálculos. Nunca outra pessoa.

– Você ajudou meu filho, sabia? – Sorriu, olhando para Alan que permanecia entubado e em coma. – Isso foi muito gentil da sua parte, você entende muito de empatia.

– Alan me desperta empatia – Conversou, enfim. Alba suspirou aliviada, pensando que teria que começar tudo de novo como quando Gael tinha seis anos.

– O que você sente ao vê-lo assim?

– Eu não sei, talvez a senhora devesse patentear ilustrações sobre emoções. Eu poderia apontar qual é mais conveniente.

Alba se lembrou dos desenhos com expressões humanas que mostrava semanalmente para Gael. Era o único jeito de fazê-lo entender que não poderia ficar sério o tempo todo.

Mas ele não estava indiferente como costumava ser: seu cenho estava franzido numa dor irreconhecível. Ele poderia estar ouvindo o que ela dizia, mas seus olhos estavam em Alan. Sempre em Alan.

– Você está triste?

Gael paralisou, refletindo.

– O que é tristeza, exatamente? – Questionou, numa das suas típicas perguntas filosóficas.

Alba odiava quando Gael fazia isso. Eram sempre perguntas óbvias, mas que ela não sabia responder.

– Talvez vontade de chorar, frustração ou vazio – Olhou para Alan também. Era isso que ela sentia. – Você gosta de ver Alan assim?

– Certamente que não – Respondeu rapidamente. – Eu gosto de vê-lo vivaz e vibrante. Não gosto de observá-lo acamado. Meu estomago dói e eu sinto calafrios. Eu acho que odeio Alan em coma.

Alba não gostava de ouvir em voz alta que seu único ômega estava em coma. Mas Gael não entendia isso. Ele não tinha problemas em dizer coisas incomodas.

– Sabe que eu sinto quando o vejo assim? – Gael negou, se encolhendo sob sua voz embargada. Se ela chorasse, ele provavelmente teria um TEA. – Meu coração se parte, e eu sinto que vou desmoronar a qualquer instante.

StrangerWhere stories live. Discover now