_ Bom dia a todos. _ cumprimentei num tom firme e forcei-me a abrir um sorriso. Ouvi alguns suspiros e meus olhos foram para um trio de mulheres sentadas nas cadeiras da primeira fila. As três cruzaram as pernas de uma vez só, lembrando uma apresentação de nado sincronizado. Patético! Quase revirei os olhos. Elas não podiam ser mais óbvias. Detesto mulheres atiradas. Gosto de caçar. Sou um predador nato e quando me deparo com cenas assim é altamente broxante. _ Estou muito satisfeito por estar aqui hoje com vocês. _ retomei meu foco. _ Entendo que nesse momento todos têm dúvidas a respeito do futuro da empresa. _ assumi um ar sério e impecavelmente profissional. _ mas asseguro-lhes que não irei me desfazer da aquisição. Pretendo incorporá-la ao meu escritório central em Londres e aos projetos que já estão em andamento. Um possível intercâmbio pode ser benéfico para as duas realidades. No entanto, acredito que não é segredo para ninguém aqui que persigo sempre um alto padrão de qualidade. _ olhei a plateia silenciosa e completei: _ espero poder contar com vocês.

Disse mais algumas palavras cordiais e me coloquei à disposição dos funcionários para possíveis perguntas. Meus olhos correram pelo espaço, analisando um a um os rostos ansiosos. De repente minha atenção foi captada para uma cabeça ruiva na última fileira. A mulher estava de cabeça baixa, não dava para ver muito de onde estava, mas uma estranha sensação de dejavu invadiu meus sentidos. Aquela cor de cabelos...  Então, alguém fez uma pergunta na primeira fila e eu pisquei, obrigando-me a voltar os olhos para o senhor grisalho que esperava a resposta.

Cassandra

Aproveitei o momento e saí de fininho do auditório. Já no corredor acelerei os passos indo direto para o banheiro. Oh! Deus! Encostei-me à porta e fechei os olhos com força. Isso não podia estar acontecendo. O homem lá no auditório... O homem que evitei a todo custo cruzar seu caminho novamente. O homem que havia me devastado e humilhado há dois anos. Que tirou tudo de mim. Que me usou com frieza e crueldade. Avancei até a pia e coloquei os pulsos embaixo da água fria da torneira, olhando-me no espelho. Meu rosto estava pálido, meus grandes olhos azuis assustados e meus lábios tremiam freneticamente. Quando o vi adentrar o auditório com passos determinados com aquela aura de poder e masculinidade que era própria dele não consegui mais desviar os olhos da sua figura ao mesmo tempo intimidante e bela. Minhas entranhas se reviraram em reconhecimento mesmo antes de Jayden se virar de frente para a plateia. Senti o ar fugir dos pulmões quando olhei o rosto moreno, perfeito a poucos metros à minha frente, aqueles olhos tão negros que prometeram tudo a mim um dia, mas que no final apenas me condenaram.  Havia sido assombrada por dias, meses com aquela imagem desde quando me expulsou de sua vida. Inspirei o ar e soltei devagar. Preciso me acalmar, pensei me recusando a deixar o pânico me vencer. Há dez meses quando cheguei à Paraíso Arquitetura minha vida começou finalmente a mudar. Era meu primeiro emprego depois de um ano sendo free lancer. Ganhava um salário razoável e as coisas tinham melhorado. Havia feito alguns projetos muito lucrativos e importantes. Não posso perder esse emprego. Muita coisa depende disso. Definitivamente não posso me dar ao luxo de ficar desempregada. Deus! Com tantas empresas para sua alteza comprar por que veio parar justamente onde estou tentando refazer minha vida? E no Brasil? Começo a pensar que não sou muito querida lá em cima. Olhei para o teto, ironizando-me. Abracei meu corpo tentando retomar o controle. Com sorte ele iria embora logo após a apresentação. O homem mais sexy e implacável do planeta não perderia tempo com uma pequena firma de arquitetura. Claro que não.

Avancei pelo corredor a caminho da sala de reuniões, cerca de quinze minutos depois. Definitivamente não sou querida lá em cima, bufei quando o gerente de RH, que também é meu tio, veio me avisar que o chefão queria ver meu projeto para melhoria do resort de Angra. Puta que pariu! O cretino de coração gelado ia surtar quando me visse. Meus dedos doíam pela força que fazia apertando a pasta com o projeto solicitado. Deus! Havia pensado que ele iria embora logo após a reunião no auditório, mas agora estou aqui prestes a ter que encarar de novo aqueles olhos tão escuros, intensos e cínicos que me condenaram um dia. Posso fazer isso. Posso fazer isso. Repetia mentalmente. Meu tio andava à minha frente alheio a meu desespero. As portas de madeira da sala de reuniões surgiram como monstros prestes a me engolir. Respirei fundo quando ele girou a maçaneta e abriu as portas duplas para me dar passagem. Oh! Meu Deus! Não posso fazer isso! Quase gemi de pânico, mas era tarde demais para recuar, pois todos viraram a cabeça em minha direção.

PRÍNCIPE DA PERDIÇÃO (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now