Novidades. Deveria existir imenso para contar depois de uma semana de trabalho...

Curva e contra curva e o declive da estrada acentuou-se até chegar a um vale abastecido por um riacho que corria a toda a velocidade pelas pedras cinzentas que rodeavam as bases de uma pequena ponte de madeira. Era ali que tudo começava. Do outro lado da ponte já um pequeno acampamento militar estava montado e um grupo de homens circulava amigavelmente entre ele.

Ali só se viam montanhas e um pequeno edifício, que há medida que me aproximara percebi ser de uma igreja, uma arredondada, acinzentada e pequena igreja no meio de um vale nas montanhas. 

Parei o carro e coloquei a minha velha companheira de tantas viagens às costas e avancei para o grupo. Vários deles eu conhecera na semana anterior, no momento das provas físicas que eu parecia ter de passar para estar ali. Todos me cumprimentaram amavelmente, com sorrisos e com breves "olá". Mas agora, vendo as fardas e todos eles eu percebi que estava sozinha...

- Chegaste! Pensávamos que te tinhas perdido! – Gavin. Sim era o nome do homem que nos seus 40 e tais anos parecia ostentar uma vivacidade de uns breves 15, como se o mundo todo fosse novo e ele o estivesse agora a descobrir. Talvez a minha parte interna, bem interna, gostasse de ser assim.

- Demorei um pouco mais...Peço desculpa...- disse ajustando a mochila ao meu ombro e observando a expressão curiosa do homem à minha frente.

Ele agitou as mãos como se eu estivesse a pedir desculpa em vão.

- Nada disso! Ainda faltam uns minutos até ao breefing! Até lá vou-te dizer onde colocares as tuas coisas e onde vais trabalhar. Pode ser?

Assenti com a cabeça seguindo-o pelos pequenos corredores. Era um elefante numa loja de porcelanas, bem desculpem, a comparação foi incorrecta. Era mais um pardal que tinha aterrado no ninho de uma águia.

Agitei o meu cabelo, o ruivo estava mais cobreado do que era natural pela humidade fornecida pelas árvores que me rodeavam, mas o facto de ele me chegar à cintura e de eu gostar de o ter quase sempre solto, dava-lhe um ar quase molhado, tornando o meu ar ainda mais sem abrigo do que eu desejaria.

Tenda dos doente, tenda do comando e a minha tenda. Todas lado a lado, dando-me menos conforto do que eu pressupunha. Porque eu pressupunha que estar ao lado daqueles que me tinham contratado seria bem mais benéfico... o que estava eu a pensar?
Entrámos na tenda onde se encontravam duas pequenas camas desmontáveis e dois baús, um aceno de cabeça e coloquei a mochila sobre um dos magníficos leitos.

- Ficarás aqui...A outra cama é para um dos nossos curandeiros. Já vos apresento...

Segui-o para fora da tenda onde o acampamento começava a criar o seu próprio espaço e ritmo, depósitos de água, carros, jipes, tendas de muito maiores dimensões e um espaço para chuveiros ao ar livre que me fez agradecer o bikini que trouxera para uma ocasião destas.

Não podia dizer que o ambiente me intimidava pela montanha e pelo modo de sobrevivência, pois estava habituada a ambientes deste género por causa do meu pai. Militar desde sempre, o seu passatempo era criar a filha como um pequeno índio militar que sobrevivesse ao Apocalipse. E aqui estava eu, a ser a menina dos olhos do pai, a calçar as botas de montanha e a participar em exercícios do exercito.

Gavin guiou-me até um grupo que em circulo começava a reunir para o breefing matinal. A maioria dos militares era do sexo masculino, talvez porque era um exercício de uma força especial, mas existiam também um grupo de 4 mulheres naquele universo de testosterona, que se demarcavam. Uma delas era a oficial responsável por toda aquele acampamento e fez questão de chegar-se à frente assim que Gavin e eu nos juntámos ao grupo.

- Ayla Umay?! - Perguntou dirigindo-se a mim. - Eu sou Alba Valkem, responsável pelo treino desta semana e tudo o que acontecer dentro dele.

- Prazer em conhecê-la...

Assenti com a cabeça, olhando os restantes e puxando o meu cabelo para trás.

- Muito bem...- indicou um dos militares a seu lado.- Este é William Ettore e será o teu supervisor. Tudo o que precisares de saber poderás perguntar-lhe.- Fez uma pausa lendo o meu rosto, que inutilmente parecia cansado. - Terão tempo para se conhecer depois do breefing.

William Ettore era um militar. Era isto que via naquele momento. Um homem alto, moreno, com barba suavemente aparada para lhe dar um ar sedutor e másculo, igual a tantos outros homens que tinha visto na minha infância. Para mim, naquele instante ter um supervisor simplesmente não era agradável, independentemente da sua forma física.

Mas vamos a isto!

As indicações do breefing não eram dirigidas a mim, mas sabia agora ser uma das minhas obrigações estar presente em tudo o que os militares em campo estavam. Alvorada, hastear de bandeiras e treino matinal, ficando apenas ilibada da hora de jantar e deitar obrigatória para todos os outros que ficassem no acampamento. Apesar destas recomendações passarem para o grupo sem ser direccionadas a mim, sabia que todos já tinham conhecimento de antemão pelos assentires descontraídos. Todos ali eram oficiais...

- E com isto... Voltem aos vossos postos! Amanhã começaremos! - Ouvi Alba dizer enquanto todos dispersavam e se dirigiam aos seus afazeres. Gavin passou por mim dizendo um breve "até já", uma das raparigas sorriu-me com um "ainda bem que há uma mulher na enfermaria" e todos os outros deixaram um breve olhar em mim.

- Ayla, certo? - E aqui estava ele... - Prazer, William... vais ouvir muitos Will ou Ettore...

Sorri e assenti tirando novamente o aglomerado de cabelo que me escapava para o rosto.

- Prazer. - Disse esperando novas indicações.

- Bem, curandeira? - A dita da conversa de circunstância estava a acontecer com uns olhos castanhos rasgados a inspeccionar cada movimento meu e eu novamente levava a mão ao cabelo para o puxar para trás.

- Sim, sou curandeira.. há 3 anos.. - murmurei esperando que fosse esse o tópico a que ele queria chegar. Eu não era boa a conversar com homens... especialmente com este aspecto.

- E porquê vir até aqui? - Ele estava apenas curioso.

- Não...Eu vivo numa muralha... há pouco lá...

- As coisas não estão bem? - Ele parecia ler-me com demasiada facilidade para quem me conhece há 2 minutos.

Sorri.

- Bem, é uma muralha... pensei arriscar. Além de que.. gosto disto. - Ele olhava-me como se achasse a maior loucura eu estar no meio do mato de botas de montanha, onde passaria uma semana a dormir no chão porque gosto.

- Gostas do ambiente militar? 

- Não...- cortei a frase dele quase antes que pudesse terminar.- Gosto deste ambiente! - Olhei em meu redor como se explicasse exactamente o que eu sentia e quando o meu olhar voltou a bater no dele, fui recebida por um sorriso nos lábios e no olhar, que me voltou à terra.

William percebeu a minha mudança de humor repentina e acabou por dar um suspiro audível.

- Eu sei que é cedo... mas poderias dar-me o teu contacto? - A questão soou-me normal. O "Eu sei que é cedo" soou estranho, mas tudo o resto fazia sentido na sua questão. Precisaria do meu contacto em caso de alguma emergência.

Elevei a mão para ele, deixando o seu olhar ler o meu e um meio sorriso fazer-se nos seus lábios. Da mão dele saiu um comunicador que pousou na minha e no qual escrevi o meu número para lho voltar a entregar.

- Liga se precisares de alguma coisa.



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⏰ Last updated: Oct 24, 2019 ⏰

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