Único

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"Você não pode continuar com essa maldita mentira por muito mais tempo, qual a porra do seu problema?"

O homem estrangeiro gritava sem parar, uma vez ou outra em sua língua materna, andando de um lado para o outro, enquanto Jinyoung apenas se encolhia em seu lugar. Sabia que ele não queria magoá-lo e, muitos menos, assusta-lo. Ele apenas estava com raiva e não era de seu feitio somente reprimir o tal sentimento ou fingir que tudo estava bem, pois não estava e, talvez, nunca esteve.

Jackson pôs as mãos tremidas sobre os cabelos, controlando a força para não acabar arrancando-os. O chão amadeirado fazia os passos ecoarem à medida que andava. Era um casebre velho, talvez algum dia houvesse sido útil para os donos do terreno, mas agora ninguém pisava no lugar com exceção dos dois homens. Por motivos claros: o teto rangia com o vento soprando, ameaçando cair sobre suas cabeças a qualquer momento, gotas de água oriundas da chuva matinal caiam sobre a superfície em que pisavam, mesmo já sendo perto da meia noite, e era claro o som dos roedores passeando pelo sótão.

"Eu não irei contar nada a eles, não posso! E você sabe e entende muito bem isso quando está em sã consciência. Se você se acalmasse por um instante, nós poderíamos ter uma conversa civilizada."

"Conversa civilizada? Quem é você pra falar em ser civilizado?."

Jackson gritou alto, não conseguindo se conter, não mais. Não ligava se estava parecendo irracional ou descontrolado, não aguentava mais viver daquela maneira. Sentia um peso gigante nas costas e estava cansado como nunca esteve antes.

"Vocês dois!"

Uma terceira voz surgiu no ambiente junto a um homem de estatura mediana e de feições jovens, porém desgastadas. O tempo não estava ao seu favor e o trabalho duro havia contribuído. A expressão que carregava não era nada boa, mas isso não era novidade. Dificilmente ele mostrava um sorriso para alguém.

"Querem que todos da casa escutem vocês? É isso? Se for, então, por favor, prossigam e gritem mais alto."

Ele balançava as mãos no ar de forma exasperada, olhando os mais novos. A vontade era de tranca-los no casebre fedorento e apenas soltá-los pela manhã, mas duvidava que o lugar ficaria inteiro. Jackson parecia irritado, expondo uma cara fechada, e Jinyoung parecia arrependido, envergonhado, mantinha a cabeça baixa.

Quem disse que esconder uma mentira era fácil, provavelmente, nunca teve que fazer isso. Mark apertou os olhos, não queria ter que olhar para nada ou ninguém; não queria ter que encarar aquilo. Ignorar era tão mais fácil, mas não podia fazer isso eternamente. Sentiu um corpo se aproximar, sabia ser o do coreano. O cheiro doce o invadiu com tudo, Jinyoung o abraçava apertado enquanto repetia vários desculpas. Mark não o culpava, nunca o culpou. Jackson chegou depois e envolveu os dois homens. Momentos assim era difíceis entre eles.

Jackson fechou os olhos, aproveitando a presença dos homens ali, que não podia chamar de amigos, pois eram mais que isso. Não negava e esperava que eles também não. Não só romanticamente, mas acreditava que guardar um segredo tão pesado assim os fazia mais que amigos.

A sirene soou e a luz que alternava entre vermelho e azul invadiu a janela transparente do lugar em que se encontravam. Jinyoung já chorava desesperado sem se mover do lugar, as lágrimas sendo enxugadas pelos companheiros carinhosamente, estes que tinham sorrisos tristes, mas, ainda sim, encaravam amavelmente o mais novo, que nem mesmo percebeu. Ele pendia a cabeça para baixo, não tendo coragem suficiente pra encara-los.

"Eu amo vocês."

Jackson sussurrou mais para si mesmo do que para os homens ali. Não se importando realmente como iriam pensar nele posteriormente, desde que nunca haviam posto seus sentimentos sobre a mesa tão abertamente.

"Eu também amo vocês."

Mark respondeu, o coração batia acelerado como nunca em sua vida. Algo que nem pensou que seria possível. Jinyoung soluçava fortemente, não sendo capaz de respondê-los devidamente, apenas jogou-se nos braços dos mais velhos, que o ampararam da melhor forma possível.

Se dependesse deles, o segredo nunca seria revelado. Guardariam com as suas vidas, mesmo que tivessem que passá-la com as costas curvadas. O que eles guardavam era pesado, mas os três juntos conseguiriam se erguer. Sempre teriam um ao outro e sabiam que essa era a melhor escolha. Algumas coisas simplesmente não deveriam ser contadas e esta era uma delas.

Obrigada se você leu até aquii!
Mas então, qual o segredo, huh?

O segredoWhere stories live. Discover now