Do Vazio À Emoção.

56 3 0
                                    

Era final de madrugada, início da manhã. Me acordei tão vazio e sozinho. Não entendia o porquê de estar me sentindo assim constantemente. Meu humor mudava como o formato das nuvens do céu. Estava chovendo desde a madrugada do dia anterior. A chuva me proporcionava preguiça, mas mesmo assim minha mente não tinha preguiça de mudar constantemente. Acordei vesti uma roupa de frio. Em minha mochila coloquei uma camiseta de manga curta caso o calor aparecesse. Tomei o meu leite e comi um bolo que havia feito no dia anterior. Eu me enfureci, sem muito esforço me enfureci com tudo o que estava em minha volta. Terminei de me arrumar, meus longos cabelos, precisavam ficar bonitos, pois onde já se viu um garoto de duas décadas de vida com os cabelos compridos? Dei sorte de conseguir um emprego. Se eu fosse mulher, diria que minha menstruação estava para vir, pois desde que comecei a escrever meu humor mudou mais de uma vez. Ainda chovia quando saí de casa, meu tênis rachado fazia com que a água olhasse minhas meias de felpudo e meus pés. Não me importava com isso, nossa, como eu me irritava com aquilo. A chuva que caia era deliciosa que se eu pudesse dela eu me embebedava.
O ônibus passou logo em seguida, não fiquei tanto tempo na parada de ônibus, mas foi uma eternidade. Fui no último banco da última fileira. Minha pele era tão pálida quanto a de um vampiro e meus olhos tão pretos quanto a escuridão. Meus cabelos negros se destacavam tanto em meu rosto. Coloquei meu fone de ouvido e nele reproduzi uma música chamada "Avalanche" em versão instrumental. Podia dizer que sentia muito ao ouvir aquela canção, talvez sua tonalidade estivesse na escala de dó maior d segunda oitava, e logo declinava-se a um lá de primeira oitava. Bem, não entendia nada daquilo. Mas era uma passagem metalizada e alternativa ao meu ver. Não sou nenhum entendedor e estou longe de ser, talvez a falta do intelecto me perturbasse ainda mais. Tudo queria mas nada alcançava. Na realidade, alcançava, mas demorava. Gosto do desafio ou daquilo que é difícil, mas o único desafio qual eu não vencia era o de controlar quem eu sou.
Segue chuva, segue a tempestade. Não passei meu lápis de olho de maneira sutil pois sabia que qualquer coisa que eu passasse com a chuva iria borrar, apenas o meu batom cor de boca. Pois ele dava vida a ela e a última coisa que eu tinha em mente era de que alguém tiraria o batom de minha boca. Talvez o copo ou xícara onde eu tomaria o meu café, então deixaria minha marca. Ninguém nunca percebeu meu batom, apenas Clarisse, minha única amiga. Ela trabalhava comigo e me ajudava. Somos amigos há anos, talvez seja ela uma das razões de eu ter esperança na humanidade. Ela era a única pessoa de perto que eu confiava. Confiava em duas pessoas, uma estava distante e a outra era ela. Meu ônibus estava quase chegando no trabalho e o dia ainda não havia amanhecido. Gosto da noite, mas gosto do dia. Prefiro a noite do que o dia. A tarde faz o dia se arrastar. Meu ônibus chegou no ponto final. Na outra ponta da última fileira havia um rapaz que dormia como se o mundo fosse acabar, toquei em seu joelho dizendo que já estávamos no final. Ele sorriu para mim. Talvez pensasse que eu fosse uma garota, ou um adorador de gêneros como eu. Não sei, como eu digo, é tudo confuso. Naquele dia eu não queria ver gente, liguei minha música mais alto e caminhei até o meu trabalho. Ainda era escuro e não parava de chover. Em momentos assim é aconselhável andar em grupo, mas meu humor estava isolado. Tomei um susto, chegando na esquina do hospital em que eu trabalhava havia um homem que começou a me perseguir até a entrada do pronto socorro. Aquilo me amedontrou, acho que foi o único ápice sentimental. As pessoas passam por mim, me olham da cabeça aos pés e logo me ignoram. Não quero ser notado, talvez quisesse, só queria ser respeitado.
Tinha que bater o meu ponto até às sete horas da manhã, deixei para bater 06:59 a.m pois queria o mínimo contato com a colega que estava anteriormente a mim. Os corredores estavam gelados com sensação de morte. Cheguei até a minha sala, meu cabelo escorrido sobre o rosto escondia muito dele. Adriana perguntou se estava chovendo ou se estava frio, apenas respondi que chovia e segui escrevendo em meu diário. Não queria olhar para a cara de ninguém a não ser de Clarisse, ela eu ainda suportava.
Adriana foi embora, Clarisse chegou. Estava tão alterada quanto eu. Tinha reforçado a tinta cor de rosa de seu cabelo. Ficou bonito. Logo coloquei uma água para aquecer para passar café. Aquele cheiro e aquele sabor eram as coisas mais deliciosas a serem sentidas. A chuva caia e a melancolia seguia. Minha vista projetava uma monocromia ou uma escala de sépia. O único ápice emocionalmente feliz foi o do cheiro do café. Eu não conseguia sentir ânimo em nada. Estava confuso, me sentia apertado. Minha mesa parecia estar bagunçada o tempo inteiro. Clarisse me fez um chá. Ajudou-me em qualquer deslize. Orientamos um médico novo de como é que se preenchia um óbito, pobre ser envergonhado. O resto do hospital parecia estar desmotivado, ninguém ligava, se ligavam era com impaciência ou exigência. Quando precisei de informações, ninguém me passou. Em um certo momento senti uma energia tão pesada e confusa. Parecia que o ambiente estava me sufocando, asfixiando e agonizando. Oh, o Sol surgiu bem neste momento. A manhã passou. Quando a tarde assumiu, senti raiva de uma das pessoas que estava ali. Cheiro a falsidade e hipocrisia. Odor. Eu e Clarisse pegamos ônibus juntos. Desceu antes de mim. Segui ouvindo meu bom e velho grunge conversando com a outra e única pessoa que eu suportava. Trocamos ideias sobre coisas errôneas e hipócritas, algo bem comum do nosso discurso diário: revolta social.
Cheguei em casa podre de fome e morto de cansaço. Após conciliar uma coisa com a outra, relaxei, aliás, pensara eu. Ao esticar os pés para cima sou invadido por uma onda de stress e julgamento tão rápido quanto um raio sentindo raiva de tudo e como não gostava de estar em casa mesmo tendo afeto pelas pessoas que fazem parte de mim. Meu café demorou a ficar pronto e segui ouvindo meu bom e velho grunge enquanto minha cabeça não para de raciocinar e criar coisas descomunais.

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Oct 29, 2023 ⏰

Adiciona esta história à tua Biblioteca para receberes notificações de novos capítulos!

Transtorno de humor Onde as histórias ganham vida. Descobre agora