Closure

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Esse trabalho foi inspirado nas obras A Raposa e O Cordeiro e Garoto Promissor de terrariumz, além de conversas e mais conversas com as mana do Veloso e em discussões pontuais e extremamente produtivas com pnkflamingo.


Closure


Faz uma hora que eu cheguei na festa de aniversário do Guilherme e pelo menos metade dela eu passei evitando Ciro. Eu não falava com ele desde a noite do primeiro turno, mais de seis meses atrás. Observei por um momento minha esposa e minha filha conversando com Manuela e meu filho falando com Guilherme e mais algumas pessoas, Ciro incluso. Eu comia uns salgadinhos distraidamente, só para me manter ocupado, enquanto alguém falava comigo, até que vejo Guilherme indo em direção à cozinha. Ótimo, minha chance de lhe pedir um favor, vou atrás dele.

— Guilherme.

Ele se vira e olha pra mim, sorri.

— Ah, oi, Fernando, tudo bem?

Coço a cabeça por um momento, isso era mais fácil em teoria.

— Er, tô bem. Vem cá, cê tem um cigarro aí pra me dar?

Eu fumo há alguns anos, não com frequência, mas com certeza quando me encontrava ansioso. Guilherme sabia disso, ele também sabia que eu não tinha o costume de andar com cigarros para evitar fumar. Ele me olha com os olhos semicerrados.

— Você acabou de me falar que tá bem.

— Eu tô, é só.. É complexo.

Olho em direção a sala, onde ambos sabíamos que Ciro estava. Guilherme me observa por um momento, então puxa um maço de cigarros Black mentolado do bolso, tira um e me entrega junto com um isqueiro. Olho com desprezo para o cigarro e pergunto:

— Pelo amor de Deus, quem fuma isso aqui?

— Vai te fazer querer parar de fumar. — Ele ri.

— Credo. Obrigado.

— De nada.

Vou para o quintal e acendo o cigarro. É pior do que eu esperava, horrível. Pouco tempo depois ouço uma voz conhecida. Ciro. Congelo por meio segundo com o cigarro a caminho da boca, então percebo que ele não falava comigo. Ao me virar vejo que falava ao telefone. Debato internamente apagar ou não o cigarro, mas antes que eu chegue a uma decisão, ele me vê. Bom, agora é tarde. Me viro de novo e dou uma tragada no cigarro, ignorando completamente o que ele fala no telefone, em algum momento ele iria embora. Ele não foi.

— Desde quando você fuma?

— Desde quando você se importa? — Respondo imediatamente, sem me virar.

Escuto ele se aproximar e suspiro, a constante lembrança da minha estupidez era tudo que eu não queria agora.

— Que isso, Fernando, eu só fiz uma pergunta. Calma.

— Eu também.

— Eu me importo, tá bom?

— 2006.

Apago o cigarro e me viro para entrar, não vou longe antes que ele fale novamente.

— Por quê?

Solto uma risada sem humor.

— Por que o que, Ciro? Tá louco? Porque eu quis. Precisa de motivo?

— Conhecendo você, sim.

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