Yizin's - Tumba, primeira parte

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Pela manhã, não se falava de outra coisa a não ser aquele pesadelo. As vítimas sussurravam, paranóicas demais para falar muito alto, com profundas olheiras e gargantas constantemente secas. Aquilo trouxe a atenção de organizações municipais e até estaduais, que mandou profissionais da saúde e doutores da mente para tratar de qualquer enfermidade, seja física ou psicológica, que essas vítimas possam ter adquirido. Mas, é claro, os profissionais não foram suficientes para atender aquele grande contingente de pessoas, e muitas morreram de forma muito estranha e misteriosa, primeiro gritando palavras sem sentido, algo muito fora do árabe usual, como se estivessem sofrendo de algum mal nos pulmões. Depois, as pessoas começaram a tossir sangue e mucosa negra; suas vozes eram cada vez mais profundas, grutais e molhadas, até o ponto que elas começavam a sufocar com aquela substância e sangue nos pulmões.
Os poucos profissionais que tentaram atender essas pessoas, mesmo em um estágio pouco avançado dessa enfermidade estranha, falharam em identificar a doença, logo sendo considerada, após os primeiros sintomas terem sido constatados, algo fatal aos seres humanos. Os médicos ocultaram essa informação para não gerar um pânico generalizado, mas falharam de maneira absurda, a população infectada percebendo o que estava acontecendo logo após as primeiras mortes.

Foram realizadas autopsias nessas pessoas e a conclusão foi que houve um rápido desenvolvimento, sem precedentes, de algo semelhante à Fibrose Cística, uma doença genética afetando a produção de secreções de uma pessoa. As secreções, no entanto, foram tingidas de um negro profundo, mais escuro ainda do que cistos nos pulmões de muitos fumantes crônicos que desenvolveram-nos, e em uma quantidade muito grande, obstruindo várias vias respiratórias e cardíacas.
Vilarejos inteiros viraram zonas de quarentena, assolados pela doença e, como se não bastasse, até mesmo animais de todos os portes começaram a morrer do mesmo jeito. As aves, em específico, começaram a simplesmente cair do céu no meio do deserto. Espécies subterrâneas foram encontradas mortas com suas tocas encharcadas dessa mucosa, especialmente os Jaculus Orientalis, muito comuns nessa região. Não demorou muito para uma equipe de biólogos, geógrafos e físicos começarem medições e rastreamentos pelo deserto. Logo aquelas estranhas ondas eletromagnéticas foram detectadas e rastreadas para um ponto baixo e isolado da Depressão de Quattara, a cerca de cem metros abaixo do nível do mar. Tais potentes ondas tinham uma frequência sem precedentes, podendo nem mesmo ser consideradas eletromagnéticas e sim, estranhamente, gravitacionais, por gerarem perturbações no espaço, mas sendo ainda sim detectadas por emitirem radiação infravermelha.

Tal fenômeno gerou muita controvérsia pois isso, segundo as leis da física do mundo em que vivemos, seria impossível. Como resultado, o fato foi abafado e uma expedição foi imediatamente organizada para investigar a origem dessa perturbação. Um grupo de pessoas foi acionado, consistindo basicamente de físicos mecânicos, arqueólogos e biólogos, de muitas partes do Egito e da África, trabalhando em conjunto numa missão confidencial. Utilizando de buggies e caminhões, eles foram acompanhados por forças armadas enquanto rastreavam a origem da perturbação pelo deserto. Percorreram horas de viagem pela depressão, até que perceberam, na distância, uma construção massiva enquanto desciam pelas dunas de areia.

A pirâmide, feita daquele material rochoso esverdeado, estava rodeada por um lago de sílica, o vidro derretido que criava distorções no ar ao seu redor, devido ao intenso calor. A princípio, eles consideraram a hipótese de ser uma miragem, que foi logo abandonada quando todos constataram que podiam ver e concluíram que as ondas gravitacionais estavam definitivamente vindo daquela direção. A cerca de duzentos metros da pirâmide, foram instalados acampamentos para a medição e análise daquela estranha estrutura, que inconscientemente desencadeava um horror ao perceber o quão pequenos eram em relação a ela, e quão misteriosa era sua natureza, uma verdadeira aberração da natureza. Alguns poucos da equipe de pesquisadores sabiam dos efeitos que tal pirâmide tinha sobre a população de vilarejos próximos, ficando ainda mais aterrorizados ao encherem suas mentes com macabras teorias do que aconteceria com eles por estarem muito perto da pirâmide. Os mais gananciosos, no entanto, decidiram que aquele trabalho vale a pena, embora relutantes. Não podiam voltar, evacuar dali sem um motivo racional, no entanto, não querendo gerar um pânico exagerado entre o já estabelecido entre os soldados.

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