— E como mantém ela aqui? – ele sabia que para sustentar um espírito que já atravessara no plano dos vivos demandava muito poder mesmo. Se ela estava desde a capital com a mãe, isso dava mais de um mês! A jovem lhe lançou um olhar interrogativo.

— Nunca parei para prestar atenção nisso. Ela simplesmente fica aqui. Às vezes adoraria que não ficasse tanto. – A matriarca fungou dramaticamente e a menina abriu um sorriso de divertimento. Ela nem tem noção do poder que possui. Ele percebeu o colar no pescoço de Ravenna e mais uma vez se surpreendeu. Estava já fazia duas semanas na comitiva e nunca parara para reparar nas coisas que ela portava, além da armadura brilhante.

— Onde conseguiu isso? – ele apontou para a gargantilha e ela pousou a mão no pingente, sentindo a pedra. Ela tinha ganhado vários pequenos quebrados em sua superfície, apesar da jovem nunca tê-lo tirado do pescoço desde que a ganhara do ancião. Como era um presente dos deuses, não ia ser Ravenna que questionaria o "comportamento da pedra".

— Ganhei da entidade que protege Cittanova, por quê?

— Isso ser pedra de obsidiana. Muito rara. E muito perigosa. – Um borg que fora deixado na fronteira de Ogur e destratado toda a sua vida, não me surpreende que ele seja tão desconfiado.

— Foi um presente dos céus. Dificilmente seria perigosa. – Ela dispensou o pensamento com um gesto, mas Björn continuou encarando a pedra. – Björn, eu confio nos deuses, se eles me deram isso, não acho que quereriam meu mal.

Mas se tem uma coisa que o borg aprendera em sua vida é que nunca pode se confiar muito nos deuses. Eles nunca se mostraram muito simpáticos ou favorecedores da criatura. E, de qualquer forma, ele já ouvira falar de obsidiana e elas só tinham um objetivo.

— Como faremos com os soldados? – Ele mudou de assunto bruscamente. Esse era um ponto que a moça evitava confrontar até então.

Os soldados sulistas montaram trincheiras por praticamente toda a fronteira com Therissa, e eram vigiados por arqueiros com flechas envenenadas. Sistemas caseiros de alarme foram colocados para que qualquer pessoa que tentasse passar por ali à noite o fizessem soar e acordasse o exército. Ravenna vira com os próprios olhos quando fora se encontrar com um dos lordes em busca de um cessar-fogo. Cada dia eles adentravam mais o território therissiano, num desafio, e mais pessoas inocentes eram obrigadas a abandonar suas casas na divisa. Venha nos enfrentar. Era o que eles diziam. Alexandra II, quando viva, queria mandar os exércitos sem hesitar, mas fora a princesa que a convencera a primeiro tentar resolver diplomaticamente a questão.

E agora Ravenna se questionava como as irmãs tinham conseguido passar pelas trincheiras. Se eles bloqueavam carroças com mercadorias ou comerciantes itinerantes, queimando seus produtos e destruindo seus veículos – e por vezes seus donos – , o que poderiam fazer com duas jovens desarmadas? Nenhuma delas nunca saíra do castelo; o mais distante que Titania fora era até os limites da floresta que cercava Cittanova e o mesmo valia para Aura. Mais uma vez a imagem da caçula surgiu, e a guerreira rezou para as deusas para que ela estivesse bem.

— Ainda não sei, Björn. Tem alguma ideia? – ela disse, se virando para ele.

— Não tem como eles simplesmente nos deixarem passar? – pronunciou-se a mãe, e o borg mais uma vez se surpreendeu com a presença do espírito ali. A jovem sorriu amargamente.

— Agora que eles têm certeza que nenhum acordo será cumprido? Duvido muito.

Todos ficaram em silêncio, cada um montando planos novos. A maior chance deles era à noite, quando Ravenna teria a sua disposição toda a escuridão que quisesse para dar um jeito nos alarmes. Mas ainda assim havia os guardas e duas pessoas não eram páreos para um exército. Ademais, sombras tinham um limite de ação, e até agora não descobrira qual era o seu. E ela queria usar o mínimo possível desse poder que ela explorava cada dia um pouco mais, mas que ainda não a agradava.

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⏰ Last updated: May 26, 2019 ⏰

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As Três Irmãs #ContestLettersWhere stories live. Discover now