Prólogo

21 1 1
                                    

Encontro-me em uma situação deveras preocupante. Não encontro saída para meu sofrer, contudo você, meu querido filho, cujo abandonei, merece uma explicação. Para isto, preciso contar como cheguei a este ponto de minha vida.

Tudo começa nos meus quinze anos. Eu era a filha mais velha de um conde com a segunda filha de um duque, amigo da família. Era o dia em que me apresentaria para a sociedade, o dia de escolher o futuro marido, e eu não estava nem um pouco ansiosa para isso. De fato eu já era mulher, tinha sangrado pela primeira vez e já podia gerar um filho, mas, diferente das meninas da minha época, e contrariando a opinião de minha família, eu gostaria de estudar e casar quando desejar. Contudo, a minha mãe, por assim dizer, não gerou nenhum filho homem, sendo assim, o condado do meu pai, iria para qualquer parente homem, próximo a linha de herança. Portanto eu deveria me casar o quanto antes para assegurar que minha qualidade de vida permanecesse a mesma, sendo uma situação verdadeiramente estressante.

Ser uma lady parece muito fácil, mas não era, e continua sendo, muito difícil. Só de lembrar minha rotina solto um bocejo, ela resumia-se a acordar, ficar conversando com minha mãe e irmã na sala das damas, à tarde tomar um chá com biscuit, jantar com a família e ir para a cama. Em uma ocasião ou outra fazer algum ato filantrópico e sorrir para integrar a honra da família. Aos domingos ir a igreja e encontrar minha tia, para a mesma ficar perguntando se eu já estava noiva ou quando planejava noivar. Pode não parecer mas era perfeitamente estressante, não sentia-me livre, até hoje não posso dizer que sei o que é liberdade. Ser mulher jamais será fácil, meu filho, mas não escrevo-te para reclamar de minha juventude.

Lembro-me claramente da visão do meu quarto naquele fatídico dia. Era um vasto quintal, com a grama mais verde que eu já vira, o vento soprava e não existia uma nuvem de chuva, o dia perfeito para um baile de debutante. De fato o condado mais bonito que já vi e espero um dia que tu vejas. 

Eu estava nervosa, meu coração parecia que sairia pela boca a qualquer momento, não parei quieta, andava de um lado para o outro, porém tentando não fazer barulho, não queria que descobrissem que eu estava acordada, no entanto Anne, a maid que ajudava a mim, e a minha irmã, bateu na porta. "Srta. Lewis? A senhorita está acordada?", "Não" respondi em tom de divertimento. Ela entrou e sorrindo deu-me bom dia e as devidas congratulações. Ela me ajuda com a troca de roupas e diz que o café estava a minha espera. 

"Bom dia papa, bom dia mama" digo ao chegar na mesa. Minha mãe, bastante animada, diz que meu primo, aquele que irá herdar nossas terras, Ethan Lewis, iria ao baile, e com muito entusiasmo ela tagarelava e pelo pouco que pude entender, ele deveria ter 20 anos, uma boa aparência e sabia montar a cavalo como nenhum outro jovem na Inglaterra, terra natal de meu pai. Encorajando-me a não abrir mão do condado, ela, lembra-me que não deveria deixá-lo só, nem por um minuto, pois certamente outra o roubaria de mim, pois ele era o homem perfeito e estava pretendendo se casar, afinal, homem algum conseguiria administrar uma casa como a nossa sem uma esposa ao lado. Posteriori, naquele mesmo dia, Anne vem ao meu quarto, trazendo o vestido que eu usaria naquela noite. Ele era azul com transparência nas mangas, demonstrando a pureza de uma menina que transformou-se em mulher. Deu-me banho, vestiu-me, arrumou meus cabelos longos e negros e saiu, ao ver que minha mãe chegar aos meus aposentos. "Denise! Très bien! Magnifique!" exclamava ao me ver, "Merci!" respondi, em francês, dialeto de sua terra natal. Ela era a segunda filha do duque de Andrieux, Heloise de Andrieux. 

"wow" exclama minha irmã mais nova, Louise, ao ver-me também. "Uma dama jamais deveria fazer tal som, Louise!" digo para ela. Minha irmã tinha apenas treze anos, portanto não poderia participar do meu baile. "Mama, não vejo a hora de ser meu baile. Irei ficar ainda mais bonita que a Denise e casar-me o quanto antes, diferente dela" ela dizia, mas sinceramente jamais irei entender esse tipo de pensamento. "E quem lhe disse que desejo isso?" falei, francamente eu estava belíssima naquele dia, entretanto jamais pretendia me casar com um completo estranho.

Já a noite, eu via vários pares dançarem na minha frente, eu não gostava daquilo. Meu primo já havia se apresentado e estava dançando com uma moça muito bonita, eu não a conhecia, ou eu achava que não. Ele era de fato um homem muito bonito e jovem, mas só sabia falar de caças e corridas, coisas que não me interessavam e que achava fútil, mas ao meu ver a moça que lhe acompanhava ria e divertia-se com suas histórias.

Quando aquela noite especial se aproximava do seu fim, meu pai cai no chão, espumando pela boca. Desesperada minha mãe chama o Sr. Davis, mordomo da família, e os volantes ajudam a levanta-lo. Estávamos todos em choque e infelizmente meu pai não sobreviveu, após aquele evento misterioso. Posteriormente minha mãe ficou desesperada, não sabia para onde iríamos. Meu primo não quis casar comigo, alegando que não gostava de minha personalidade e minha falta de submissão, porém propôs a minha irmã, já que a moça que ele dançou em meu baile era Louise, que havia saído escondida para isso, mas ela era muito nova, então claro, quando ela gozasse da idade adequada eles casariam.

Minha própria irmã havia me passado a perna para manter seus status, eu e nossa mãe ficamos devastadas. Espera-se que a filha mais velha case-se antes da mais nova, certo? Todavia em medidas desesperadas não ocorre bem assim. Até minha irmã formar-se mulher, ela e nossa mãe, poderiam viver na casa principal. E quanto a mim? Ele, com muita "benevolência", disse que eu poderia ficar com uma casinha no sul do condado, que la eu teria que trabalhar, mas que rapidamente eu me acostumava, porém eu não podia voltar para casa principal sem ser convidada. Meu mundo estava virado de cabeça para baixo, eu não acreditava no que eu estava passando. Minha própria irmã parecia me desprezar, eu nunca havia notado isso, claro que brigávamos, mas que irmãos não brigam?

Se tinha uma coisa que eu nunca havia pensado era ter um emprego, não tinha precedentes nem conhecimento prévio de qualquer tipo de serviço. Minha mãe aceitou esses termos, pois viu que esse era o único acordo viável para salvar ao menos uma de suas filhas. Então eu me despeço delas, três semanas após a morte do meu pai e vou para o interior, onde lá passo a trabalhar na única biblioteca do condado. Não era uma vida fácil e eu, certamente, não sabia como aguentaria aquela comida oferecida a mim por muito mais tempo, além do trabalho cansativo e braçal. Mas aquele trabalho teve uma parte boa, toda quinta vinha um jovem senhor, com bela aparência e, acima de tudo, um vasto conhecimento, pegar e devolver livros. 

"Srta. Lewis, como vai hoje?" perguntava o Sr. Blanche, sempre me cumprimentando assim. Ele era um homem gentil e me conhecia como ninguém. Foi o primeiro a admirar minha inteligência e a incentivar-me a estudar. Ele afirmou que eu estava perdida ali e que pagaria para que eu estudasse, e que me arrumaria um outro tipo de trabalho, dessa vez usando mais a mente que os punhos, assim que eu me formasse. 

Depois de três anos estudando e formando-me com mérito, o Sr. Blanche chamou-me e ofereceu-me um emprego. Seria tutora de seus três filhos, dois meninos com quinze e onze anos, e uma menininha com nove. Eu não sabia que eu estava tomando a melhor e a pior decisão de minha vida, deixaria minha vida ainda mais complicada, na época parecia a melhor opção. Mas digo a você, meu filho, eu não me arrependo.

LEWIS, D.

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: May 10, 2019 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

THE TUTOR - Meu querido filhoWhere stories live. Discover now