Segunda Parte, Capítulo VI

Începe de la început
                                    

Como de costume, assim que teve um momento livre Ekatierina Ivânovna pôs-se a dar voltas para um lado e para outro no quarto exíguo, da janela até o fogão e vice-versa, os braços cruzados e muito apertados contra o peito, falando sozinha e tossindo. Nos últimos tempos acostumara-se a falar mais freqüentemente com a filhinha mais velha, Pólienhka, que tinha dez anos e que, embora ainda não compreendesse muitas coisas, entendia que era necessária à mãe, e por isso a seguia sempre para todos os lados com seus olhos inteligentes e esforçava-se por imaginar tudo quanto poderia fazer para ajudá-la. Dessa vez, Pólienhka despira o irmãozinho, que estivera adoentado durante todo o dia, para o deitar. Enquanto lhe tirava a camisa, que queria deixar lavada nessa noite, o petiz permanecia sentado na cadeira, em silêncio, com uma expressão séria, direito e imóvel, com os pezinhos estendidos para a frente, os calcanhares juntos e os dedos para cima. Escutava o que diziam a mãe e a irmã, com os lábios abertos, uns olhos dilatados e sem se mexer, como de maneira geral costumam fazer todas as crianças sossegadas quando as despem para deitá- las. A outra irmãzinha, ainda menor, toda esfarrapada, estava de pé, junto do biombo, esperando a sua vez. Tinham aberto a porta que dava para o patamar, para se libertarem, ainda que fosse por pouco tempo, daquela atmosfera de tabaco ordinário que vinha dos outros quartos e que a todos os momentos fazia tossir longa e dolorosamente a pobre tísica. Ekatierina Ivânovna parecia ter emagrecido ainda mais nessa semana e as rosetas vermelhas das suas faces brilhavam agora mais do que antes.

- Tu não podes acreditar, não podes imaginar, Pólienhka - dizia, caminhando no quarto para um lado e para outro -, como era feliz e brilhante a vida em casa do papá, como esse bêbado foi a minha ruína e há de ser a vossa. O papá era funcionário civil, era quase governador, pouco lhe faltava para isso. De maneira que quase todos iam visitá-lo e lhe diziam: "Nós já o consideramos nosso governador, Ivan Mikháilovitch". Quando eu... liam! Quando eu... liam, liam, liam! Oh, maldita vida! - exclamou, expectorando e levando as mãos ao peito. - Quando eu... Ah! Quando no último baile... em casa do marechal da nobreza... a princesa Biesimiélnaial me viu... aquela que depois foi minha madrinha, quando me casei com o teu pai, Pólia... perguntou depois: "Essa linda moça não é a que dançou com o xale, quando saiu do colégio?" (É preciso coser esse buraco; podias pegar já a agulha e arranjares isso como te ensinei... ou então amanhã... liam! amanhã... liam! liam! liam! Já estará maior.) - exclamou, sufocada. - Nesse tempo chegara de Petersburgo o príncipe Chtchególski, que era um pajem e que dançou comigo uma mazurca, e no dia seguinte quis ver-me com qualquer pretexto; mas eu agradeci-lhe as suas frases amáveis e disselhe que o meu coração pertencia já a outro homem há muito tempo. Esse outro homem era o teu pai, Pólia: o meu pai ficou muito zangado... A água está pronta? Bem, dá- me cá a camisinha e as meias... Lida - e dirigia-se à filha mais nova -, tu, esta noite, dormes sem camisa e pões as meias de lado... Lavamos tudo junto... Mas quando é que chegará esse desastrado? Bêbado! Está com aquela camisa sabe-se lá há quanto tempo, e toda feita em farrapos... Queria lavar tudo junto para não passar duas más noites seguidas. Senhor... ha, ha, ha! Outra vez! Que será isto? - exclamou, ao ver um círculo de gente no patamar e uns indivíduos que se adiantavam transportando um vulto em direção ao seu quarto. - Que é isto? Que me trazem aqui? Meu Deus!

- Onde é que o pomos? - perguntou o guarda olhando à sua volta, assim que introduziram Marmieládov no quarto, ensangüentado e desmaiado. - No divã! Ponham-no no divã, com a cabeça para este lado! - indicou Raskólhnikov.

- Atropelaram-no na rua, bêbado! - gritou alguém no patamar. Ekatierina Ivânovna estava extremamente pálida e respirava dificilmente. Os petizes estavam assustados. A pequena Lídotchka gritava, apertava-se contra Pólienhka e abraçava-se a ela estreitamente, tremendo toda.

Depois de acomodar Marmieládov, Raskólhnikov olhou para Ekatierina Ivânovna.

- Por amor de Deus, acalme-se, não se assuste! - apressou-se a dizer-lhe. - Ia atravessando a rua e um coche atropelou-o; mas não se aflija: verá como há de recuperar os sentidos. Eu mandei que o trouxessem para aqui; eu, aqui há tempos, já estive em sua casa, não se lembra? Vai ver como recupera os sentidos! Eu pagarei tudo!

Crime e Castigo (1866)Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum