Anyways, Capítulo 1

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São Paulo, Brasil. Inicio de Abril de 2019.

Ariana

O despertador toca e acordo sobressaltada, com os fones enroscados no pescoço. Tento olhar ao redor adaptando meus olhos à luz e vejo meu velho quarto bagunçado. Suspiro.

Preciso trabalhar.

Não se pode vacilar com empregos quando você tem contas a pagar e teve a sorte de encontrar algo na sua área. Nesse país, então, é quase impossível se você estuda qualquer coisa relacionada a artes.

Levantei da cama e fui direto pro banho, imaginando como eu teria conseguido dormir. Aquele seria um grande dia, um dos melhores da minha vida, talvez.

Eu trabalhava numa agência de publicidade e fomos chamados para cobrir o festival de música do ano. Eu iria de qualquer jeito, já que minha banda favorita estaria lá, mas ter passe vip para transitar era demais! Estávamos responsáveis por cobrir o evento para as mídias sociais oficiais do festival e eu tinha ficado com a elaboração e análise das ilustrações e artes gráficas do local.

Enquanto a água quente caia sob meu corpo agradeci ao universo por ter chegado até ali, não tinha sido fácil. Muita dedicação, horas sem dormir, muito estudo... E ainda assim, o meu chefe, o "Beat", era péssimo. Pisávamos em ovos o tempo inteiro para falar com o mesmo. Esperava ganhar alguns pontos com ele já que fomos chamados para a cobertura do evento graças a um amigo meu, Jonathan, que tinha trabalhado comigo tempos atrás e era um dos diretores de arte do festival.

Saí do banho de roupão, os cabelos pingando e dei de cara com a minha mãe.

- Bom dia, dona do dia – exclamou, com uma caneca de café nas mãos.

Minha mãe, Sarah, era uma mulher muito bondosa, um pouco tradicional, mas muito bondosa. Estava tentando tocar a vida comigo e meus irmãos mais novos depois da separação. Fazia pouco tempo, mas era o melhor para todos, já que meu pai era ríspido e abusivo com todos o tempo inteiro. O único problema disso era que eu havia me tornado a principal renda da casa e isso ainda me assustava um pouco. Logo, ela queria sempre saber o que estava acontecendo no meu emprego e sabia que era um grande dia.

- Oi mãe! Espero que esteja certa.

- Vai dar tudo certo, você sabe o que faz.

- Sim, sim. Mesmo se der errado, pelo menos eu vou ver o show dos Arctic Monkeys, né?

- Tem essa também.

Passei por ela e entrei no meu quarto, encarando o guarda roupa. Me senti frustrada: eu não tinha tantas opções quanto imaginava.

Isso que dá só usar uma cor de roupa, parece que está sempre com a mesma.

Suspirei e comecei a procurar o que vestir, optando no final pelo o de sempre: shorts pretos, camiseta do último álbum da banda, jaqueta de couro e uma bota sem salto, pretos.

Ficar desconfortável sendo que vou passar o dia inteiro lá? Nem pensar.

Separei minhas coisas, penteei meu cabelo, arranjei tempo para delineador e batom e então eu estava pronta.

Show, estarei igual 90% das garotas no recinto.

- Mãeeee, tô saindo! – berrei na escada.

- Tá bom, vai de carro?

- Não, vou de uber.

- Tudo bem, cuidado, manda notícias!

- Ok, tchau.

Aparentemente não importa se tenho 25 anos ou 10, não é?

[...]

Cheguei no evento e a equipe estava começando a se reunir. Era uma visão do paraíso ver aquelas credenciais com pessoas conhecidas. Beat estava repassando as funções pela milésima vez enquanto olhávamos o entorno, animados.

- COMO PERCEBEM – ele elevou o tom de voz – É MUITO FÁCIL SE DISTRAIR AQUI. Não esqueçam que estão aqui a trabalho, vocês estarão livres somente após o último show hoje.

- Mas podemos assisti-lo, não é? – perguntei assustada.

- Se registrarem decentemente, sim. Registro primeiro, curtição depois. Estarei com a equipe de marketing no lounge – ele suspirou, como se aquilo fosse ruim, revirei um pouco os olhos – chequem sempre seus celulares, eu entrarei em contato sempre que precisar.

Virou-se e saiu. A equipe começou a se dispersar.

- Deus me livre desse homem – disse Olivia, minha melhor amiga, melhor companheira de trabalho e ilustradora também – um lugar maravilhoso desses, uma vibe gostosa e ele assim!

Olivia era muito alta e magra, loira, cabelos cacheados e curtinhos, olhos cinza-esverdeados, linda de verdade. Nesse ponto, éramos quase opostos... Eu não tinha nem 1,70m. Meus cabelos ondulados sempre foram negros como breu, e eu nunca fui tipo modelo, só tentava manter meu peso e ainda escorregava, às vezes. Meus olhos castanho-médios se escondiam atrás de lentes de contato e óculos escuros quase o tempo inteiro. Ou dos óculos de grau, quando eu me sentia confortável. Uma dupla quase oposta.

Mas nos dávamos bem demais. Estudamos na mesma faculdade – em anos diferentes –, gostávamos das mesmas coisas, trabalhávamos uma do lado da outra e concordávamos em quase tudo.

- Bom, Oli, é um evento grande. Se fizermos bem, talvez gere outros contratos...

- Ah, agora pronto... Você está ficando igual ele, é? Pelo amor de deus, nem parece que vai ver seus machos hoje, cadê a animação?

- Eu estava tentando não pensar nisso, Oli, evitar ansiedade, sabe? – bufei e acendi um cigarro. Era a segunda vez que eu os via tocar, mas nada impedia meu coração de acelerar e minha mente de entrar em êxtase de memórias.

– Vamos andando, tem muita coisa para ver e registrar.

- Aparentemente não podemos fumar aqui – ela riu. Ri também:

- Beleza, você acha que vão fiscalizar 70 mil pessoas?

- Dificilmente – disse e acendeu o dela também.

Love Is A Laserquest - Alex Turner Fanfiction (Arctic Monkeys)Where stories live. Discover now