Thor, o gato

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O distinto som de chaves tilintando me avisou que ele estava chegando; afinal, ele tinha esse hábito de colocar as chaves penduradas na calça jeans, fazendo-as tilintarem quando andava. Minhas suspeitas se confirmaram quando vi meu humano entrando no recinto com a mochila preta de sempre nas costas.

Bem, ele não era exatamente o meu humano, mas era o meu favorito, assim como eu era o gato favorito dele desde o momento em que ele me encontrara, dois anos atrás.

— Oi, Leo! — meu humano disse ao amigo que atendia as pessoas nas mesas. Ele parou de limpar a mesa para acenar em boas-vindas, com uma saudação batendo na mão dele.

— E aí, Yuki?

— Tudo bem, e você?

— Tudo tranquilo. — Ele enfiou o pano no bolso do avental. — A propósito, eu vi a postagem da semana. Seus desenhos estão melhorando cada vez mais!

— Obrigado, mas nem é tudo isso...

Leo rolou os olhos.

— De qualquer forma, o pessoal tem gostado bastante dos novos menus com os seus desenhos de gatos para enfeitar. Eu te disse que era uma ótima ideia.

Também fora ideia dele colocar desenhos em coisas tipo canecas e garrafas para angariar mais dinheiro para nossas rações e remédios.

— Não posso discordar... — Ele tentou segurar a vontade de sorrir, mas não conseguiu.

Leo colocou uma mão no ombro de Yuki.

— Seu avô adoraria.

Eu lembro do Yuki me contando isso antes. Fora o avô dele quem o incentivara a desenhar; na época, era apenas por diversão. Porém, ele morrera pouco antes de Yuki me encontrar, e sua mãe o trouxera aqui uma vez para o distrair. Foi só depois que ele me encontrou que conseguiu voltar a desenhar.

Yuki desviou o olhar.

— Obrigado... Eu vou querer o de sempre.

— E eu vou te pedir para ir ao balcão falar com a garota nova. Eu estou entrando no meu intervalo daqui a pouco.

— Vejo que o serviço aqui é muito eficaz... — Yuki provocou, rindo. 

— Não reclama, você nem é mais cliente, é de casa — Leo brincou antes de voltar para a mesa que estava limpando, para pegar as canecas e pratos nela e levar para a cozinha.

Saí do espaço reservado para nós, gatos, e fui esperar o meu humano perto da porta de vidro, que separava o ambiente apenas para humanos e o ambiente onde eles podiam brincar com a gente. Subi numa prateleira para ter uma visão melhor.

Eu morava numa "cafeteria com gatos", um lugar que servia café e comidas para humanos e que tinha um espaço onde alguns gatos de rua resgatados ficavam. Muitas pessoas gostavam de brincar com a gente no ambiente para isso. Nós não podíamos ir para o lugar onde os humanos faziam as comidas; havia várias mesas lá, nos separando por uma janela e porta de vidro.

Meu humano foi até o balcão fazer o pedido dele, mas, por algum motivo, quando encontrou com a garota nova, perdeu as palavras. Ela sorriu para ele, esperando, até que ele finalmente disse:

— O de sempre. — As palavras saíram automaticamente. A novata ficou confusa, mas, antes que ela perguntasse, ele emendou quase gaguejando. Yuki, termine logo isso e venha me ver, que coisa chata...— É um cappuccino e um brownie.

— Para comer aqui, pra levar ou na área dos gatinhos?

— Com os gatos — ele respondeu, já abrindo a carteira e lhe entregando o dinheiro.

Thor, o gatoWhere stories live. Discover now