19. ela cozinha e chora (repostado)

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— E aí, Lí, como foi teu dia? — Ele me perguntou, olhando e sem estranhar que eu tinha voltado para o meio do apartamento, parando em pé e balançando minhas mãos.

Fechando os olhos, lembrei de tudo o que tinha feito. — Bem, eu tirei fotos de reuniões, agarrei a mão no ar de um dos novos estagiários que tentou agarrar minha bunda e fiz ele ser demitido — Comecei, os gestos das minhas mãos mais rápidos que o normal enquanto contava o resumo do meu dia com a mesma velocidade. — Conheci a nova mulher do meu chefe e fiquei feliz em ver que pelo menos essa ele parece gostar, e aí fui para a aula e aí cheguei em casa.

— Não escreveu nenhuma resposta no celular? — Ele perguntou, sabendo de todas as notificações que estavam se acumulando.

— Não, e nem olhei. Até troquei o toque dele pra saber que não posso olhar.

— Orgulho de ti. — Ele falou. — Mesmo achando que tu tem que responder o guri.

Com aquilo eu abri os olhos e fui para o sofá. Era estranho poder contar com alguém e também falar sobre coisas que antes não conseguia nem abrir a boca quando se tratava de Lucas. — Já falamos sobre isso.

— Sim, eu sei. — Respondeu, levantando as mãos. — Não vou falar mais.

Fechando os olhos de novo e me jogando contra o sofá, escutei Matheus se ajeitando para estudar no balcão da cozinha, me deixando com os meus pensamentos, porém mostrando que eu não estava só. 

Ele começou a comentar sobre o dia dele e o emprego que ele tinha conseguido. Falando sobre como o colega dele era bem jovem mas parecia ser mais velho porque usava barba, e segui conversando sobre todo o espaço. 

Eu escutei, e dei risadas quando ele começou a imitar a sua chefe falando sobre os netos. Ele imitava e ria também, mas sempre dizendo que ela era uma pessoa querida e parecia ser "a coisa mais fofa". 

Levantando do meu lugar, fui até o balcão e me apoiei do lado dele, chegando mais perto da cozinha, o que fez ele continuar falando e me perguntar o que eu não queria. 

—  O que vamos jantar? —  Questionou, me olhando de lado. 

Eu suspirei, examinando a geladeira. 

— Eu não sei. Alguma ideia?

E antes que pudesse falar algo, de novo batidas na porta ecoaram pelo lugar. 

Meus olhos foram rápidos para a entrada do meu apartamento, voltando e olhando para Matheus para saber se ele sabia quem estava ali sendo que eu não tinha quem convidar. Meu coração apertou antes de caminhar devagar até a porta, minha mão tocando a maçaneta apreensiva. 

Foi exatamente igual, mas sem as palavras e sem os olhos vermelhos. 

Aquiles segurava a sacola verde do mercadinho da esquina, a mão levantando as coisas que ele tinha comprado como se fosse algo super normal ele aparecer ali depois do que tinha acontecido, agindo com naturalidade como se eu não tivesse dito pra ele que ele iria embora caso voltasse. 

  — Eu não sabia o que tu ia querer. —  Disse, a voz não mais que um suspiro e eu senti as lágrimas se formarem lembrando do dia em que eu aceitei ele como colega de apartamento. — Eu escolhi fazer um pastelão. 

A fala dele cortou, o que fez ele limpar a garganta. A sua mão livre coçou a nuca em nervosismo, o chão se tornando algo muito melhor do que ficar me olhando com o rosto que poderia estar triste e confuso, mas que na realidade mostrava que eu ainda estava magoada. 

— Eu que vou cozinhar hoje e não me lembro de ter te convidado. —  Falei, cruzando os braços e tentando canalizar a raiva que eu estava sentindo, mesmo que a raiva não fosse com ele e sim com a situação toda, comigo. 

Boa noite, Aquiles ✓Where stories live. Discover now