Capítulo 01 - Não vou para casa nenhuma.

Start from the beginning
                                    

No pátio do orfanato,as crianças corriam, brincavam, pulavam, sorriam... qualquer coisa paraamenizar a dor de estarem vivendo longe de uma família, alguns foramabandonados, outros foram tirados de suas famílias por vários motivos, desdepai e mãe estarem envolvidos com drogas até o trabalho infantil e violênciadoméstica. Além daqueles que nunca chegaram a conhecer suas famíliasverdadeiras. Os que já eram um pouco maiores, não corriam ou brincavam como osmenores, alguns ali já haviam perdido a esperança de serem adotados por estaremmuito "velhos". O máximo que poderiam fazer é esperarem completar amaioridade para deixarem o lugar e começarem a trilhar suas vidas sozinhos.Entre esses, está Rafael, 17 anos, no orfanato desde os 12. Fugiu de casa com oirmão mais velho, Renato que na época tinha 15 anos, para escapar das constantes agressões físicas de seu pai. Moraramnas ruas por um tempo até serem pegos a força por uma equipe da assistência sociale levados para lugares diferentes. Ele estava encostado na parede do muroenorme que tinha ali, no topo era totalmente coberto por arames farpados dandoa aparência não a de um orfanato, mas o de uma prisão. A funcionaria doorfanato se aproxima de Rafael:

Funcionaria- Rafael, onde está a Michele?
Rafael- Ela disse que ia no banheiro. Por que?
Funcionaria- Estão ai os senhores que querem adota-la. Eu tenho que leva-la atéa sala da diretora.
Rafael- De novo? Será que esse povo não entende que ela não quer ir morar comeles?
Funcionaria- Não sei e não me importa. Eles que terão que aguentar aquelapestinha com eles mesmo. Mas agora eu tenho que leva-la para a direção.
Rafael- Tá, bom. Vamos lá chamar ela. Eu vou com você.

No banheiro feminino, estava Michele de 15 anos, no orfanato desde mais ou menos 1 semana de vida, foi deixada no local por alguém e desde então sonha com o dia que encontrará seus verdadeiros pais. A garota nunca foi um exemplo de bom comportamento e está sempre se metendo em confusão com os outros adolescentes e funcionários do orfanato.

Junto dela estão outras duas garotas  armando uma armadilhapara a diretora. Elas encheram um balde com água das privadas e colocaram emcima da porta entreaberta. Quando alguém apenas encostasse na porta, o baldeiria virar e derramar toda a água no azarado.

Garota1- Nós vamos nos meter em encrenca.
Garota2- Ela tem razão Michele, melhor não fazermos isso.
Michele- É só uma brincadeirinha, ninguém vai se meter em encrenca.
Garota1- Mas e se a diretora ficar brava?
Michele- Não se preocupem, eu digo que foi ideia minha. Vocês podem dizer quenão tem nada a ver com isso.
Garota2- E como sabe que ela vai vir aqui agora?
Michele- O Bruno me contou que viu aquele casal que quer me adotar chegando. Daoutra vez que estiveram aqui eles quiseram me ver e a diretora veio me buscarno quarto, mas eu não fui. Com certeza eles vão querer me ver hoje, então eumandei o Rafa dizer que eu estava aqui.
Garota 1 e Garota 2- Ahhhhh...
Michele- Quando a nossa querida diretora entrar aqui ela vai ganhar umbanhosinho de água de privada.
Garota1- Mas por que você quer fazer isso com ela?
Michele- Para deixar bem claro que eu não vou para outra casa nunca mais.
Garota2- Você tem sorte por alguém estar querendo te tirar desse lugar, eugostaria de que aparecesse uma família para mim também.
Michele- Acredite em mim, estar com outra família não é tão melhor do que aqui.Esses casais depois que te adotam, acham que podem te controlar, dizendo comose vestir, como agir, como falar. E tem mais, eles acham que estão te fazendoum favor dando uma casa e uma família para você, e que temos que sereternamente gratos pela bela atitude de adotar um órfão. Fora isso...
Garota1- Fora isso tem o Rafa, não é? ~rindo~
Michele- Sim, nós estamos muito apaixonados, e eu não vou permitir que umcasalzinho problemático qualquer nos separe.
Garota2- Gente, acho que o Rafael e a diretora estão vindo.
Michele- Ok, vocês se escondam nos box e não façam barulho.

Na porta do banheiro, Rafael e a funcionaria chegam e param ali.
Rafael- Ela está ai dentro.
Funcionaria- Ok, você para por aqui, eu vou lá dentro chama-la.
Rafael- Não é melhor esperar ela sair? Quer dizer, ela pode estar ocupada, meentende?!
Funcionaria- A diretora me disse para leva-la agora e ela não gosta de esperar.
Rafael- Ah, entendi. Mas é sério, acho melhor deixar isso pra lá, a Michele nãoestá querendo ser adotada. Bom, foi o que ela me disse.
Funcionaria- Pois eu acho bom ela começar a se acostumar com a ideia, afinal,ela não tem que querer ou não, quem vai decidir isso é o juiz e a diretora. Agorapara de me fazer perder tempo garoto.

A funcionaria então vai até a porta do banheiro e vai empurrando lentamente,quando de repente o balde se desequilibra e cai em cima de sua cabeça molhandoela toda, que ainda fica com a cabeça dentro do balde. Para a surpresa deMichele, aquela não era a diretora e sim uma funcionaria, que tira o balde dacabeça e o joga no chão, furiosa.
Funcionaria- O que é isso? Que brincadeira foi essa?
Apesar da surpresa, Michele começou a rir do jeito que a mulher ficou todadescabelada.
Funcionaria- Olha só como você me deixou, olha minha roupa, meu cabelo.
Michele- A culpa foi sua de ter entrado aqui na hora errada. Mas não esquenta,isso seca rapidinho. ~rindo~
Funcionaria- Que liquido é esse que tinha no balde?
Michele- Hm... eu posso até te contar, mas acho que você não vai gostar desaber. Mas não esquenta o máximo que vai acontecer é o pessoal achar que vocênão conseguiu chegar a tempo no banheiro.
Funcionaria- Sua peste, agora você vai se ver com a diretora. Vou fazer ela tedar um castigo para você nunca mais se esquecer. Vem cá.

A funcionaria sai puxando Michele pelo braço. Ela passa por Rafael que estavaali e da uma piscadinha para ele que retribui com um sorriso. Durante todo ocaminho, Michele tentava se soltar da funcionaria e fazia escanda-lo atéchegarem na porta da direção. A funcionaria bate na porta e após ouvir adiretora mandando entrar, ela aparece com Michele e faz tanto a diretora quantoos Martins, ficarem espantados com a aparência da funcionaria, toda molhada.
Funcionaria- Senhora diretora, quero que veja o que essa garota me fez, olhebem para mim. Quero que isso fique registrado pela senhora.
Diretora- O que aconteceu com você?
Funcionaria- Essa inconsequente teve a ousadia de me surpreender no banheirocom um balde cheio de... sabe-se lá do que. Direto na minha cabeça. Olha isso,olha ~mostrando suas roupas molhadas~
Diretora- Michele, você fez isso?
Michele- Foi sem querer, diretora.
Funcionaria- Sem querer uma ova, isso foi muito bem planejado para cair naminha cabeça. Exijo uma punição para ela.
Diretora- Ok, por favor, se acalme senhorita. Vá trocar essa roupa, sim?!
A funcionaria fica olhando para Michele com ódio, enquanto a garota parecia nãoestar muito preocupada.

Michele- Você ouviu a diretora. Melhor ir trocar essa roupa molhada ou vocêpode até pegar uma gripe. Sabe como é esse tempo frio. ~debochando~
Funcionaria- Isso é cumulo da humilhação. Mais cedo ou mais tarde eu me demito,a senhora vai ver. Eu não aguento mais essa garota. Alias, ninguém aqui aguentamais ela.

A funcionaria sai da sala furiosa, deixando apenas a diretora, os Martins e Michele, que estava ali de pé ao lado dadiretora. Ela nem olha para Célia e Luiz, como se eles não estivessem ali.
Diretora- Michele, será que você não pode passar uma semana inteira semaprontar alguma? É tão difícil para você?
Michele- Eu já disse que não tive culpa. Essa mulher que é muito histérica.
Diretora- Vamos falar disso depois, pode ter certeza. Bem, os senhores Martins estãoaqui para vê-la e tratar da sua adoção.

Célia e Luiz se levantam mas Michele nem olha.
Luiz- Como está, Michele? ~estendendo a mão para ela que simplesmente ignora~
Diretora- Michele, quando alguém fala com você o mínimo que se faz é olhar paraa pessoa.
Michele- Não tenho nada para falar com eles. ~pegando uma estatueta que tinhasobre a mesa e a passando de mão em mão~
Diretora- Não estou pedindo para baterem um papo, mas pelo menos responda o queestão perguntando. É o mínimo de educação que você pode ter.

Michele coloca a estatueta sobre a mesa e pela primeira vez olha diretamentepara os Martins e diz com todo deboche possível.
Michele- Ok. Eu estou bem, senhor e senhora problemáticos, obrigado pelapreocupação. Agora já podem ir embora. ~sinalizando com a mão para eles irem~
Diretora- Michele, por favor...
Luiz- Não. Está tudo bem, diretora. Desculpe ter pedido para você vir aqui, masqueríamos te ver e saber como você estava.
Célia- Estamos ansiosos para que você possa finalmente ir morar em nossa casa.Já preparamos tudo, o seu quarto já está até pronto, está lindo. Você vai amar.
Michele- Ah é? Pois pode esquecer dessa ideia, senhora, eu já disse mil vezespara vocês que eu não penso em sair daqui.
Luiz- Nós sabemos que seus amigos estão aqui e que é difícil se separar deles,mas você vai poder fazer novas amizades onde moramos, na escola que você vai estudar. Além disso, podemos trazer você aquipara rever seus amigos sempre que quiser, eu prometo.
Célia- Sei que não é fácil mudar assim de um lugar para outro, mas vamos fazerde tudo para que você se sinta bem em nossa casa, eu te dou a minha palavra.
Michele- Senhora diretora, será que a senhora pode explicar para o casalproblemático que eu não vou ir morar com eles?!
Diretora- Michele, já conversamos sobre isso, por favor, não complique ascoisas. Os senhores Martins estão te oferecendo uma chance de você ter uma novavida fora daqui, aproveite a oportunidade.
Michele- Sim, foi exatamente isso que a senhora disse das outras 3 vezes, não foi?
Diretora- Você precisa esquecer o que aconteceu antes. Eu posso garantir queeles estão prontos para te darem todo o apoio e ajuda que você precisa para ter um bom larpara viver.
Michele- Mas eu não estou pedindo a ajuda de ninguém, muito menos a deles dois.Eu estou bem aqui. Obrigado por virem, mas podem se mandar. Eu não vou deixarque façam isso comigo de novo.
Luiz- Michele, a diretora nós contou tudo o que aconteceu. Nós sabemos bem tudoo que você passou nas outras casas...
Michele- Não, vocês não sabem. ~interrompendo~
Luiz- Tudo bem, podemos não saber exatamente como você se sentiu com tudo isso,mas se você nos der a chance, nós vamos mostrar que pode confiar na gente, queestamos de verdade querendo que você faça parte da nossa família.
Célia- É verdade, nós estamos felizes de poder ter a oportunidade de ter vocêcom a gente. Nós vamos te dar todo o amor do mundo, e tudo o que você precisarpara ter um recomeço com a gente.
 Michele- Nossa, que lindo. Escutem aqui, casal 20, tem muitas outras garotas aqui que estão ansiosas para serem adotadas, a senhora diretora pode falar mais sobre isso. Então, adotem elas, adotem algum dos garotos, ou adotem um cachorro, porque eu não vou ir para casa nenhuma e espero não ver a cara de vocês por aqui nunca mais. Agora tchau.


Michele abre a porta da direção e sai deixando o casal estático, se sentindo meio frustrados com a decisão de Michele que parecia ser inflexível.

OS MELHORES PIORES ANOS DE NOSSAS VIDAS.Where stories live. Discover now