Capítulo 2

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Metemo-nos no carro da mãe da Jeff e ela levou-nos à tal festa. Que enjoo... Estava mesmo para ver como é que aquela festa ia acabar! Festa a partir da hora de almoço só tinha ido a uma e sabia como acabava: bêbados uma hora depois de entrar na festa, mais álcool ao almoço, mais depois e mais ao jantar. Às dez já estavam todos caídos para o lado e pedi ao Luke para irmos embora, mas, obviamente, ele nem me ouviu de tão bêbado que estava... Mais uma vez fiquei a lamentar-me pelo namorado que tinha e como ele não me ligava nenhuma. Sinceramente, com o tempo isso tem melhorado, mas mesmo assim o tempo que falamos é menos que suficiente, mas ele age como se fosse normalíssimo falarmos 5 minutos por dia e ainda por cima por mensagens.
Mal saímos do carro, a Jeff começou a correr a gritar pelo Callum. Pensei logo que era escusado fazê-lo, pois ainda estávamos na parte de fora da casa.
Um rapaz assobiou quando a Jeff passou e lembrei-me de como isso nunca me tinha acontecido... Vivia na sombra da Jeff, sempre vivera. Conhecia-a desde os três anos e éramos inseparáveis. Com as suas pausas e zangas, finalmente tínhamos encontrado a paz na nossa relação e há três anos que éramos melhores amigas.
Ela era linda, sabia um pouco de tudo e sempre que falava ficavam a olhar para ela espantados com o que ela sabia e muito interessados. Todos os assobios se deviam à beleza dela, se calhar era por isso que todas as semanas encontrava um novo namorado, porque não podia haver assim tanta gente que gostasse dela. Sempre me perguntei como se alcança a perfeição dela, mas ela diz-me sempre que não é nada perfeita e que eu é que sou gira. Acredito que ache isso, se calhar não, mas ela não tem noção de como é sortuda em ser linda. Conhece toda a gente existente e em todas as festas a que vamos está rodeada de gente... Sinto-me um bocado fora da onda, não sou nada de festas e até pensei em convidar o Luke para esta, mas, como sempre, ele está ocupado com outras coisas, ou a viajar, ou com os amigos em casa e não pode sair. Para ser sincera, ainda não nos encontrámos desde que namoramos e toda a gente diz que isso não é decente. Mas o que querem que faça? Que vá às Maldivas buscá-lo para irmos sair?!
Entrei na casa e olhei à minha volta: a sala estava cheíssima e estavam todos a falar com os seus copos de papel na mão. Estava muito barulho e a casa estava abafada, para um dia de verão. Encontrei rapidamente a Jeff: rodeada de gente ao pé do sofá numa conversa muito animada e alta, deixando toda a gente a olhar para ela. Aproximei-me e vi três rapazes que não conhecia. A Jeff rapidamente largou a sua bebida e veio apresentar-me "o pessoal", como ela lhe chamou.
-Este é o maravilhoso e melhor namorado do mundo, o Call! O Ashton e o John, nada comparados com o meu bebezinho-estava bêbada.
Sorri aos três, mas o Call levantou-se e deu-me um beijo de bochecha para bochecha. Corei.
-Sou o Callum, como a Jeff disse.
O Callum era lindo. Tinha o cabelo preto mais comprido à frente do que de lado e era um pouco ondulado na parte comprida. Parecia meio asiático e tinha uma voz muito amável, apesar de ser muito grave. Não parecia bêbado, o que me surpreendeu bastante.
Sentei-me a ouvir a conversa bêbada da Jeff, enquanto esperava desesperadamente uma resposta do Luke.
-Em Portugal, há uma foca que todos os dia se põe em cima de uma bóia. TODOS!- gritava a minha melhor amiga.
-Mas que bóia?; Como é que sabes?- surgiam perguntas de todo o lado.
-É ao pé da praia. Ela vai lá todos os dias e fica a apanhar sol. Não é brutal?
Muitos sins foram emitidos de todos os lados da sala. Menos da boca de Callum, que parecia bastante aborrecido e pensativo.
-Não é Call?-perguntou-lhe Jeff bebendo mais um golo de seja lá o que ela estava a beber.
-Sim, claro, a foca...-disse continuando a penetrar o chão.
Durante o resto da tarde olhei muito para ele, apesar de me obrigar a mim mesma a não o fazer, acabava por ceder e nem ouvia a conversa da Jeff.
De repente, a conversa mudou de lugar. Agora já não estavam a volta do sofá mas sim na cozinha e a Jeff estava em cima do balcão a ensinar artes marciais hipnotizadoras e todos pareciam imitar os seus movimentos.
Sentei-me ao lado de Callum, que continuava a olhar para o chão.
-Hum.... Estás bem?-perguntei olhando para a cara dele.
Ele continuava a olhar para o chão.
-Callum!-chamei eu, abanando-o.
Ele retirou os seus lindos e grandes olhos do chão e olhou para mim com um ar desorientado.
-Chamaste?
-Sim... Só estava a perguntar se estavas bem.
-Sim... Não.
Percebi como o assunto o afetava, pois tinha os olhos húmidos e bastante tristes. Agarrou numa bebida em cima da mesa à frente do sofá e levantou-se. Virou-se para trás e perguntou:
-Vens?
-Claro! Onde vamos?
Ele ignorou a minha pergunta e dirigiu-se lá para fora, sentando-se nas escadas de acesso à casa.
-Então... Vais contar-me o que se passa?
-Não tens de te preocupar com isto, também deves ter os teus problemas, não te quero fazer ficar triste...
-Mas eu quero saber!-lancei eu, já mais curiosa do que preocupada.
-Mas eu não quero contar!-gritou ele na minha cara.
Não o imaginara a ser assim com alguém, especialmente uma pessoa que conhecera há uma hora atrás. Tentei mudar de assunto.
-Porque vieste cá para fora?- já nem falava em "viemos cá para fora", neste momento não sabia se o "vens?" de há pouco fora realmente para mim.
-A Jeff... Ela não gosta que fale com outras raparigas.-olhou para mim para ver a minha reação.
-Ahah com esta podes falar, sou a melhor amiga dela!-disse dando uma gargalhada.
Ele não pareceu achar muita graça. Se calhar não tinha sentido de humor, mas isso não era de certeza o género da Jeff... Ela gostava que a fizessem rir.
-Já me disseram que este é o relacionamento mais comprido dela...-disse sorrindo, enquanto mexia na sua bota de inverno, apesar de estarmos no verão.
-É verdade. Ela não namora mais de uma semana. Está sempre a falar de ti...
De repente pareceu interessar-se e olhou para mim com ar esperançoso de quem pedia mais informações. Ficava tão giro com aquela cara...
-O que queres saber?-perguntei eu, apesar de saber a resposta.
-O que diz ela?
-Para começar, está sempre a falar contigo por mensagens e nunca fala comigo-mais uma vez não achou graça- depois, diz que és o tal e que és o rapaz mais perfeito com quem já saiu.
Para meu espanto, o seu rosto iluminado foi perdendo luz à medida que eu falava e acabou com uma cara de desapontamento. Voltou a mexer na sua bota durante um bocado e o seu silêncio foi desconfortável até ele o quebrar.
-Ela diz isso de todos, não é?
Suspirei.
-Sim... Mas desta vez acho que é diferente. Ela está mais feliz do que nunca!-apercebi-me de que não devia ter dito aquilo. Provavelmente isso acontecera porque ela estava bêbada.
O Callum disse exatamente isso. Fiquei triste por ele e pensei que, apesar de não querer, tinha acabado de me contar a razão da sua tristeza.
-Agora tenho de ir. Prometi à Jeff que curtíamos hoje. Então, adeus.-disse levantando-se e dizendo-me adeus com a mão.
Vi as horas: 20:13. Aproveitei para ver as mensagens, mas nada de novo... Quando estava a guardar o telemóvel, este vibrou e tocou o meu toque personalizado para o Luke. O meu coração começou a bater muito rapidamente e saquei rapidamente do meu telemóvel de mãos a tremer.
"Olá" dizia ele. Apressei-me a dizer o mesmo e fiquei à espera da resposta.
Já haviam passado 5 minutos desde a mensagem dele e ele parecia ter morrido, pois não me respondera depois da primeira mensagem. Então, decidi levantar-me e dirigir-me para dentro de casa, que agora parecia mais cheia do que nunca.
Fui à cozinha procurar alguma bebida para me livrar da boca seca. Só havia álcool e, como todos os meus amigos sabem, eu não bebo álcool.
Agora é que começava a reparar que esta festa não tinha os meus amigos, mas sim os amigos da Jeff... Porque me colara a este plano se não ia estar comigo durante o dia? Então ela tinha vindo para minha casa, não é? Porque estávamos nós numa festa neste momento e não em minha casa, como era suposto?! O meu corpo começou a fervilhar e apercebi-me de que com a raiva tinha acabado de esborrachar o copo para onde ia despejar a única bebida sem álcool naquela casa: água da torneira.

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