14 - O PRINCÍPIO DO FIM DO MUNDO

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– Caramba! – disse Edmundo entre os dentes. – É uma estrela aposentada.

– Não é mais uma estrela? – perguntou Lúcia.

– Sou uma estrela em repouso, minha filha. Quando era uma estrela velha e decrépita, a tal ponto que vocês nem podem imaginar, trouxeram-me para esta ilha. Agora não sou tão velho quanto antes. Todas as manhãs uma ave traz para mim um fruto de fogo dos vales do Sol, e cada um desses frutos tira um pouco da minha idade. Quando estiver jovem feito uma criança que tivesse nascido ontem, subirei de novo e, uma vez mais, entrarei na grande dança do espaço.

– No nosso mundo – disse o judicioso Eustáquio – uma estrela é uma enorme bola de gás inflamável.

– No nosso também, meu filho, mas isso é de que uma estrela é feita, não o que ela é. Neste mundo vocês encontraram uma estrela, pois, creio, já estiveram com Coriakin.

– Ele também é uma estrela aposentada? – perguntou Lúcia.

– Bem, não exatamente – respondeu Ramandu.

– Não foi para descansar que lhe deram o governo dos Tontos. Pode-se até dizer que foi por castigo. Poderia ter brilhado mais milhares de anos se as coisas tivessem corrido bem.

– Que foi que ele fez, senhor? – perguntou Caspian.

– Meu filho, não é permitido, a um filho de Adão, tomar conhecimento das faltas cometidas por uma estrela. Mas estamos perdendo tempo.

Estão decididos? Querem navegar mais para leste e voltar deixando lá um dos seus, e assim quebrar o encanto? Ou preferem o oeste?

– Não há a menor dúvida, senhor – disse Ripi-chip. – Não há o que discutir! Faz parte fundamental da nossa missão libertar esses três fidalgos.

– Também acho o mesmo – falou Caspian. – E, mesmo que não fosse por isso, eu ficaria muito triste de não ir com o Peregrino até o Fim do Mundo. Mas tenho de pensar na tripulação. Foi contratada para encontrar os três fidalgos, não para chegar ao fim da Terra. Se partimos daqui na direção leste, vamos ao encontro do ponto mais oriental que existe. E não sabemos quanto tempo levaremos para chegar. São valentes, mas alguns deles já estão desejosos de embicar a proa no caminho de Nárnia. Não me parece que possa levá-los mais longe sem consultá-los. Além disso, temos o pobre lorde Rupe. Está tão fraco!

Ramandu interveio:

– Meu filho! Mesmo que quisesse, não poderia navegar para leste com homens levados de má vontade ou ludibriados. Não é assim que conseguimos desfazer os grandes encantamentos. Têm de saber para onde vão e por quê. Mas quem é o homem doente?

Caspian contou a história de Rupe. Ramandu disse:

– Posso dar a ele aquilo de que mais precisa.

Nesta ilha há um sono sem limite, e quem o dormir não terá a mais leve sombra de um sonho. É só ele sentar-se com os outros três e ficar no esquecimento até a volta de vocês.

Lúcia achou ótima a idéia.

Drinian e o resto da tripulação aproximaram-se. Pararam surpresos quando avistaram Ramandu e a jovem, mas tiraram logo os chapéus, adivinhando grandes personalidades. Alguns marinheiros olharam com desgosto os pratos e jarros vazios.

– Queira mandar dois homens ao Peregrino com uma mensagem para lorde Rupe – disse o rei a Drinian. – Diga-lhe que os seus últimos companheiros estão aqui adormecidos num sono sem sonhos, do qual ele poderá participar.

Cumprida essa missão, Caspian pediu a todos que se sentassem e expôs a situação. Quando acabou de falar, houve grande silêncio; depois, conversas em voz baixa; por fim o arqueiro-mor se levantou e disse:

A Viagem do Peregrino da Alvorada | As Crônicas de Nárnia V (1952)Where stories live. Discover now