O juiz releu o endereço do filho. Westminster, rua Bowel, número 63.
É para lá que eu vou... Apenas espere, Björn.
***
Estava escrevendo quando a senhoria, mrs.Wood, entrou e disse:
- Mr. Thompson, um cavalheiro quer vê-lo. Posso deixa-lo entrar?
O jovem escritor, com argutos olhos claros e arrumados cabelos loiros disse, terminando de escrever:
- Claro. Deixe-o entrar.
Parou de escrever e se serviu de chá, quase entornando o líquido quando o cavalheiro entrou.
Era seu pai. Tentou controlar seu gênio quando viu o cavalheiro alto, magro, cabelos entre o loiro e o castanho, cobertos por uma peruca do final do século XVIII. Os olhos eram verde- claro, também argutos.
Por um minuto, não disse nada, apenas encarando aquele homem. Juiz Nathaniel Thompson.
Deixou a xícara cair, tamanho o choque. Com as mãos trêmulas, tentou catar todos os caquinhos da bonita xícara, enquanto o juiz Thompson apenas o encarava. Após alguns minutos, Björn se sentou e pousou as mãos geladas e ainda trêmulas no colo.
- Olá, Björn Jonathan Thompson.- O juiz falou, sério. - Há quanto tempo...
Nathaniel se sentou, encarando o filho de cima a baixo.
- Olá, pai...- Depois de muito tempo, Björn falou. Estava um pouco rouco.- O que...
O juiz o interrompeu com um gesto elegante.
- O que estou fazendo aqui, certo? Estou aqui por motivos familiares...Recebi sua carta, e estou lhe visitando. Como você pediu.
Segurou o envelope da carta com o endereço do filho. Depois, tirou do bolso do casaco a carta do filho e leu, com voz sarcástica:
- " A cidade está em franco progresso. Gostaria que me visitasse". Quer uma resposta melhor que isso?
Björn fez que não. Depois, engoliu em seco e disse:
- Quanto tempo pretende ficar aqui?
- O mesmo tempo que você me deixou sem notícias: quatro meses.
***
Os dias foram passando, e Björn passou a se reacostumar com a presença do pai na casa. Passou a dormir na sala, já que seu pai tinha dores nas costas quase sempre e não conseguia dormir em superfícies muito duras. O juiz Thompson passava suas tardes sentado em uma poltrona, apoiado em travesseiros, sempre lendo algum livro, lendo o jornal ou, simplesmente, falando sobre as travessuras do filho na infância para a senhoria. Quando Björn chegava em casa, ambos iam passear por Londres, e o juiz sempre reclamava da cidade.
- E chamam isso de progresso! - Exclamava ele, fungando com a poluição da cidade. Colocava um lenço na mão e tampava o nariz com o lenço. Apontava para as fábricas e para as pessoas pobres da cidade. Björn ria da indignação do pai. O juiz Thompson revidava com uma fungada e uma tosse.
- Esta cidade está progredindo tanto que está produzindo mais doentes do que operários! E EU sou um desses doentes, dessas pobres almas infelizes! Se eu morrer de tuberculose... Não! Antes que eu morra voltarei para Yorkshire, e você, Björn Thompson, voltará comigo. Será um pregador bem-sucedido, e não um escritor de classe média, feito para agradar os burgueses ricos!
- Mas nós somos de classe média, meu pai! Somos de classe média rural, mas somos de classe média! E não serei um pastor! Nós já falamos sobre isso!
Família
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