Prólogo

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Crescer sendo taxado de louco não é uma coisa boa na vida de criança alguma, mas em meu caso isso foi muito pior! Isso porque além de acharem que eu era maluco, por insistir que falava com uma voz que sempre se identificou como "sombras". Outros pensavam que eu era um ser amaldiçoado, isso é parte da cultura de nosso povo. E hoje em dia até concordo com tal pensamento, acho mesmo que sou amaldiçoado! Penso isso devido ao fato de que foi por minha culpa, que minha família foi totalmente aniquilada. Tudo para que colocassem as mãos no infeliz, que dizia falar com as "sombras". Como já disse, minha vida nunca foi muito comum. Amigos não são uma realidade em meu mundo, eles nunca foram! Antes por conta desta peculiaridade que acabei de citar, e hoje em dia. Bem, hoje em dia. É pelo que sou, mas acho que para que me conheçam melhor. Preciso começar pelo começo! Tudo aconteceu em algum lugar nas redondezas de Ta 'if, onde um pobre casal teve mais um filho. Aquele fato foi comemorado por eles, que agradeceram a Ala pela conquista. Afinal de contas um filho é uma benção na vida de qualquer um! Mas logo meus pais descobriram que meu nascimento não era uma benção como imaginavam, estava mais para uma maldição! Digo isso pelo fato de que desde meus primeiros anos de vida, minha família me olhava com um olhar assustado. Tudo devido ao fato de eu falar com um suposto alguém, que somente eu via. Me lembro como se fosse hoje o dia que minha mãe, cansada de me ver falando com o nada, se aproximar de mim e dizer:

 —Zein, com quem está falando?

 —Com as sombras! — Respondo a olhando intensamente.

 —Quem são elas, filho? — Pergunta minha mãe parecendo temer aquilo que acabei de revelar.

 —Não sei, elas me dizem que querem me ajudar. E que sempre estarão ao meu lado, quando precisar. Não entendo o que queiram dizer com isso! — Respondo revelando partes daquilo que as sombras me diziam.

Lembro que no momento que contei isso que acabo de citar, as sombras falaram em meu ouvido, dizendo: "Não a conte sobre nós, pode ser perigoso". Por conta delas terem falado isso, eu as respondi em voz alta, dizendo:

 —Por que pode ser perigoso? Ela é minha mãe, eu confio nela!

"Você ainda é muito novo para entender tudo que lhe aguarda, mas tente não conversar conosco em voz alta!"

Esse pedido das sombras para que eu não falasse com elas em voz alta, era algo que faziam desde sempre. Mas naquele tempo, no auge de minha inocência eu não sabia como fazer isso.  Por conta disso, falava em voz alta. Gostando elas, ou não! Neste dia, minha mãe ficou intrigada. Mas resolveu ignorar uma vez mais, afinal eu tinha apenas cinco anos de idade. O que uma criança de cinco anos pode dizer para preocupar um adulto? Bem, tem uma coisa. Algo que lembro até hoje que ficará para sempre marcado em minha memória, era outro dia como qualquer outro. Quando uma vez mais as sombras vieram até mim e disseram: "Mestre, alguém importante irá lhe deixar, não sofra. Estaremos aqui para sempre!". Como ainda não tinha noção de como falar mentalmente, de novo as respondo em voz alta, dizendo:

 —Não quero perder ninguém, mas quem é que vai me deixar?

"Não podemos dizer, isso prejudicaria sua linha do tempo, desculpe".

 —Não, me digam, por favor! — Insisto.

"Mas mestre, não é bom que interfiramos nos fatos".

 —Vocês são minhas amigas, não? — Pergunto em seguida.

"Sim, somos"

 —Então me digam, quem vai me deixar? — Insisto em saber.

"Seu irmão mais novo irá adoecer!"

 —Meu irmãozinho não pode ficar doente!

 —Zein, com quem fala? — Pergunta minha mãe ouvindo aquilo que estava falando.

O Mestre das Sombras - (Degustação)Where stories live. Discover now