CAPÍTULO 1 - A FUGA DO HOSPÍCIO

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Há 413 anos, em 1605, Dom Quixote se formava como um simples fidalgo na cidade de La Mancha, como inspiração aos seus grandes ídolos dos livros de cavalaria que lia. Leitura era sua grande paixão. Porém, este simples cavaleiro tinha um problema (mental). Seu hábito pela leitura estrapolou limites, e o fez enlouquecer de tanto tentar entender os mistérios impostos por seu autor preferido em seus livros. Sancho Pança, seu fiel escudeiro, era também seu comparsa quando Quixote destruía monumentos e construções da cidade de La Mancha, pensando que estes eram monstros e criaturas terríveis. Os habitantes da cidadezinha então, assustados com as destruições que passaram a acontecer na cidade desde certa madrugada, contactaram o xerife da cidade e os pistoleiros, convocando um trabalho em união com o propósito de se unirem para deter a criatura que estava acabando com La Mancha. E então, dia e noite, as escoltas foram realizadas, e as terras áridas, secas, foram se abaixando à medida que os passos dos vigilantes enterravam a areia para baixo. Até que, em certo dia, os vigilantes da madrugada flagraram um acidente peculiar. As pás dos moinhos de vento da cidade vizinha de La Mancha foram destruídos, mais uma vez por um delírio de Quixote, que imaginava estar lutando com gigantes. Os vigilantes cercaram a região, e pegaram os dois amigos no flagra. Quixote, que não dera muita atenção pois estava persistente em lutar contra as pás, foi levado à força junto ao amigo Sancho Pança à delegacia. Sancho, que estava preso com cordas, chorava entrando em desespero, e Quixote, já chegando na flor da idade, contava ao xerife sobre suas batalhas fracassadas e enfrentamentos que pensara que teve. O xerife então concluiu: Quixote, um louco de pedra e Sancho, um comparsa medroso. Nenhum dos dois, então, fora preso. O xerife, naquela mesma madrugada, os levou diretamente ao portuário na encosta de La Mancha em que sairia o navio que levaria os doentes mentais diretamente a um hospício. Quixote continuava confuso, mas notou que algo de errado estava acontecendo, então, logo procurou elaborar um plano para sair da embarcação, que àquela altura já tinha ⅓ do caminho navegado. Os dois passavam engatinhando pelos guardas na escuridão da madrugada, até chegarem à cabine do comandante.

- Como nos soltaremos das amarras? - questionou Sancho à Quixote, que estava refletindo. Depois de um tempo, o respondeu:
- Não precisamos estar soltos, meu caro... Usemos a cabeça!

Em disparada, Quixote arrombou a cerca da cabine e deu uma grande cabeçada no comandante, que desmaiou imediatamente no chão. Porém, Quixote não reparou nas consequências do ato. Quando os guardas e pistoleiros subiram em correria até o topo da embarcação e deram de cara com Quixote e Sancho, nem pensaram em atacá-los. Viram o que veio em seguida, e também não tentaram impedir, pois não deu tempo. O navio colidiu em cheio com uma rocha de tamanho médio. Todos ali caíram no mesmo momento, e Quixote, quando o barco virou-se bruscamente para o lado, rolou para o lado de fora da embarcação e caiu em cheio no mar, ainda amarrado. Sancho, desesperado, se jogou para tentar resgatar o amigo, que não conseguia falar. A última coisa que viram antes de afundarem, foi o navio afundando junto a eles, os tripulantes loucos se jogando ao mar para se salvar, e rindo freneticamente. E então, os dois companheiros desapareceram depois daquele acidente, e a cidadezinha de La Mancha foi preservada após o sumiço dos homens.

••• séculos depois, 2018 •••

Hospício Arizona, zona isolada da Cidade Maravilhosa, ilha no meio do mar.
Uma das pessoas com transtornos mentais despertou imediatamente, os olhos alertas. O moço então, sentou-se rapidamente no pé da cama, cujo colchão era extremamente duro e desconfortável. Seus olhos começaram a correr de um lado para o outro, entrando em desespero dentro daquele quarto apertado e empoeirado que mais parecia uma sela. E então, ele levantou de um salto da cama. Estendendo os braços magros, cujas peles já estavam secando em virtude dos maus tratos, bateu o mais forte que pôde na porta de ferro, e se pôs a gritar:

- SOCORRO!!! ME TIREM DAQUI!!! ONDE ESTÁ O DOUTOR MARTIN!!?

Não demorou muito, e o psiquiatra Martin logo veio ao encontro do moço, com aparência de 50 anos. A porta de ferro foi aberta.

- Senhor Quixote, bom dia! Como vai? Dormiu bem? - perguntou educadamente o psiquiatra.
- Como é que eu vou dormir bem neste cafundó. Isso aqui parece um porão de navio negreiro. - respondeu o chamado Quixote.
- Ah, Quixote, não queira fazer essa comparação, vá.
- E por acaso eu falei alguma mentira, meu caro senhor?
- Na verdade não, Quixote. Tenho que concordar com você... - sussurrou para Quixote.

E então, uma pergunta veio à cabeça do internado.

- Conte-me, meu bom homem... - iniciou, se sentando novamente na cama. - Por que me chama de Quixote? O que significa isto?

Martin engoliu em seco, aparentando não querer responder.

- Então, Quixote... É... Digamos... É um... Apelido! - mentiu Martin para tentar fugir da questão.
- Apelido? Que diabos é isso? Está mentindo para mim, não é? Por que persiste em omitir essa verdade de mim?
-Ora, senhor Quixote! Está naqueles dias de questionar até não ter mais dúvidas, né? Basta disso, hein. Olha, eu vou ali pegar os seus remédios e logo volto. - disse Martin, fugindo completamente da situação e saindo do quarto.

Quixote se sentiu enfurecido. Mais uma vez, sentia que estava sendo passado para trás. De raiva repentina, deu um enorme soco na porta de ferro, mas ao se impulsionar, viu que a porta estava entreaberta, e caiu para o lado de fora do quarto, onde não se lembra de já ter visto antes.
Se levantando do chão, notou que várias pessoas que estavam no chão dos corredores sombrios e macabros, encharcados de poeira e teias de aranhas, estavam com os olhos vidrados nele. Até para ele, que estava internado junto com todas aquelas pessoas, foi um momento bem constrangedor. De repente, todos começaram a gritar, e correr para todos os lados. Uns, corriam para a entrada do hospício, que estava trancada. Outros, para entrar em diversas salas. Uns, riam freneticamente, gritavam loucamente e sussurravam coisas bizarras. E o único que manteu a sanidade no momento fora Quixote, que seguia andando em meio à balbúrdia que ocorria pelo local. E então, ele viu a oportunidade de sair do lugar. Correu rapidamente no caminho da entrada, e viu que a porta fora arrombada, mas agora, seguranças do local tentaram impedir de qualquer modo a saída das pessoas, até com uso de armas de choque. Quixote, então, se abaixou, e passou por entre as pessoas até ver a saída livre. Então, deu um enorme salto para fora do local, e continuou correndo, até saltar de um penhasco, caindo alguns metros direto no mar. Atrás dele, vinham os seguranças que, agora, já não puderam deter mais ninguém, pois a fuga do hospício já fora iniciada.

Dom Quixote del Rio - O Mistério da RocinhaWo Geschichten leben. Entdecke jetzt