44 HORAS ANTES:

Acordei e ainda estava aquela mesma bagunça de antes, mas agora parecia que estava rolando algo mais sério lá fora, um caos de verdade. Chad me olhou preocupado ao me ver acordada e todo mundo parou de gritar e correr pra lá e pra cá. Tinha menos pessoas ali também, parecia que agora tinha umas onze na sala.

- O que tá rolando? – perguntei, coçando meus olhos e me sentando novamente. Chad me entregou uma caneca de chá, insistindo para eu beber.

- O lance do meteoro estar vindo pra terra era verdade mesmo, pelo jeito. – Lana me contou, suspirando em seguida. Abri a boca com a expectativa de sair algo, mas nada saiu, não sabia como reagir a essa informação. Mesmo que uma parte dentro de mim sabia que aquilo era verdade e eu já tinha aceitado isso, então não surtei, apenas aceitei.

- E o que vocês pretendem fazer? – pergunto, encostando meus cotovelos em minhas coxas e depois puxando meus cabelos para trás.

- Eu ficarei com você. Tem um jatinho reservado te esperando no aeroporto, o jatinho que era do seu pai. – Chad me lembrou disso e eu assenti, lembrando da herança dos meus pais que infelizmente já haviam partido anos atrás.

- Vocês podem ir para a família de vocês, deve ter refúgios pela cidade que o exército construiu. Eu entenderei e libero todos vocês! – alguns assim que ouviram isso vieram até mim e me abraçaram fortemente, se despedindo e então indo embora até sobrar apenas Chad e Lana.

- Eu odeio a vadia da minha mãe. – Lana disse em voz alta, dando de ombros e se servindo de vodka pura. Chad rolou os olhos ao ouvir isso. – Posso pegar uma vaga no jatinho, certo? – balancei a cabeça em confirmação, claro que daria a vaga pra ela. Eu não tinha família, não era casada e nem namorava, era só uma riquinha sozinha e os únicos amigos que eu tinha eram meus assistentes, as pessoas que trabalhavam pra mim.

- Meu amor, não fica assim cabisbaixa. Vamos embora juntos e reconstruímos sua fama em outro lugar, no que sobrou. – Chad me abraçou, tentando me consolar, mas acabou só falando coisas piores. Porém, não discuti, não queria falar mais nada e nem sabia mais de nada. Sobreviver era pelo jeito a única opção.

- Vou pegar minhas coisas e já saímos daqui. – levantei dali e fui para o meu quarto, pegar minha bolsa com o celular que estava carregando. Joguei tudo dentro da bolsa e assim que fui sair do quarto um porta retrato caiu da parede, pensei em deixa-lo no chão mesmo, mas algo me fez pega-lo. Franzi o cenho ao ver que foto que era, estava Nick e eu com sorvetes nas mãos e com o rosto todo sujo. Isso fez meu coração se apertar dentro de mim.

"O copinho de refrigerante nas minhas mãos estava ficando quente de tanto que eu o apertava e o segurava com firmeza. Bill estava pegando mais uma bebida para ele enquanto eu estava olhando todo mundo dançar alguma música do David Guetta na pista de dança. Nick estava lindo com aquela nojenta da Spencer, seu smoking azul claro estava tão lindo. Lembro de lhe dizer que todos o zoariam pela cor do smoking, mas ele disse não se importar, mas ele estava certo, ele estava incrível vestido daquele jeito, sorrindo daquele jeito, dançando e se divertindo. A única coisa que estava errada era que não era eu quem estava o fazendo se divertir tanto assim. Já era hora de assumir de que eu estava me enganando por anos, eu nunca tinha o visto somente como melhor amigo. Mas agora era tarde demais, ele estava com a garota dos seus sonhos no baile da escola e ele sempre me viu apenas como sua irmã, a irmãzinha que ele nunca teve. Engoli a seco ao sentir meu estômago embrulhar novamente, não era algo que eu tinha comido, agora eu sabia o nome daquela sensação. E era horrível me sentir assim. Era um sentimento egoísta e destruidor, não queria me sentir mais assim nunca mais. Assim que Bill voltou decidi que era a hora de esquecer meu melhor amigo, então sai da festa com o babaca do Charlie e me entreguei a ele. E depois desse acontecimento nada mais foi como antes. Bill e eu começamos a namorar logo depois e isso me afastou de Nick, mas sempre que nos víamos era como se existisse um ímã enorme que nos puxava de volta para o outro. Algo dentro de mim me dizia que em seu olhar me dizia claramente o quanto ele queria que tudo tivesse sido diferente, assim como eu. Quando nos formamos na escola, antes de ir embora para a faculdade, meus pais fizeram uma festa de despedida para mim. Bill já tinha ido embora antes de mim e combinamos que era melhor terminar já que ambos concordamos que namorar a distância não daria certo. Por mais feliz que eu estava de ir embora e pela festa, eu me sentia incompleta e vazia, como se tivesse deixando um pedaço de mim mesma aqui. Encarei o lado vazio ao meu lado naquele balanço branco de madeira que tinha na varanda da casa dos meus pais, Nick costumava sentar ali comigo e sempre chupávamos sorvete ali, fazíamos nossos planos juntos e por mais malucos que eles eram, pareciam ser reais.
- You would not believe your eyes If ten million fireflies lit up the world as I fell asleep – franzi o cenho ao ouvir essa voz conhecida, levantei dali e voltei para dentro da casa, dentro da festa, onde todos conversavam, comiam e riam, mas tinha alguém tocando e cantando. - 'Cause they fill the open air and leave teardrops everywhere. You'd think me rude but I would just stand and stare – parei em total choque ao ver Nick com seu teclado no meio da sala de estar, tocando e cantando como se estivesse sozinho em seu quarto. Abro um enorme sorriso quando ele me olha e sorri daquela mesma maneira como ele costumava sorrir ao me ver. - I'd like to make myself believe that planet earth turns slowly. It's hard to say that I'd rather stay awake when I'm asleep 'cause everything is never as it seems – sentei no sofa em frente a ele, assistindo ele cantar e tocar do mesmo jeito que eu costumava fazer antigamente.
- 'Cause I'd get a thousand hugs from ten thousand lightning bugs as they tried to teach me how to dance – ele balançou a cabeça conforme o ritmo da música e isso me fez rir baixinho. Quando ele terminou a música, ficamos nos encarando por alguns segundos, sem saber o que dizer, o que era ridículo. Ele era meu melhor amigo apesar de tudo.
- Você não existe mesmo. – murmuro, sentindo meus olhos se encherem d'água. Ele largou o violão de lado e me puxou para um abraço apertado. Um abraço bom, o tipo de abraço que te dizia que você estava em casa e tudo ficaria bem. – Quando o mundo acabar vai ser nesse abraço que eu quero estar. – sussurro bem baixinho, com a esperança dele não me ouvir e como ele ficou quieto, apenas me apertando em seus braços, sorri aliviada.
"

Coloquei a foto na bolsa também e sequei as lágrimas involuntárias que escorriam em meu rosto, peguei meu celular e disquei o número dele. O que eu lembrava ser dele, esperando que ainda fosse, mas ele não me atendeu. Tocou até cair na caixa postal. Sai do meu quarto, sendo puxada por um Chad louco e desesperado de medo até um dos carros, sentei no banco detrás enquanto Chad e Lana sentavam nos da frente. Lana dirigiria, ela era uma ótima motorista para situações de pânicos, ela não sentia medo ou se sentia sabia esconder muito bem. Coloquei meus óculos escuros pra esconder que eu ainda estava chorando, o mundo lá fora daquele apartamento estava realmente um caos,uma loucura. Todo mundo correndo e gritando, pessoas chorando e desesperadas.Mas mesmo com esse caos todo rolando, minha mente estava longe, estava ainda naquele abraço. 

One last timeWhere stories live. Discover now