Prólogo

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"Nada acontece por acaso, tudo tem volta, o tempo é melhor remédio para tudo, a saudade machuca, o sofrimento faz crescer, e um verdadeiro amor nunca morre..."

O dia está frio e a chuva despenca lenta e contínua. No ar paira um sentimento de angústia e sofrimento. A humanidade, muitas vezes, deixa de viver o hoje para questionar-se a respeito do amanhã. João está assim. Lágrimas rolam por sua face e uma palavra ecoa em sua mente, de novo e de novo. Reagente. Como seria dali para frente ou quanto tempo ainda teria de vida, suas duas maiores dúvidas. Lembra de sua família, seus amigo e, acima de tudo, de Lucas. Sim, de Lucas.

— Ele não merece alguém como eu.

Andando sob a garoa gélida, a cada lento passo os seus soluços se fazem mais audíveis. Impotência ameaça tomar conta de todo o seu ser. As pessoas o olham; algumas assustadas, outras com pena. Não importa. Para ele é como se todos soubessem da sua atual situação e aguardassem apenas o menor dos deslizes para zombar. Ele avista um banco, logo abaixo de uma árvore seca; sem vida graças ao outono que levara suas folhas e frutos. Senta-se ali mesmo. Os pingos, e as lágrimas, se tornam cada vez mais escassos. Ele pega o celular e manda uma mensagem para Lucas o encontrar na praça João Ribeiro, no centro de São Joaquim.

Na outra ponta da cidade, Lucas recebe a mensagem. Seu rosto se ilumina com um sorriso há tempos esquecido. Ele corre para o carro e parte para o local combinado. Conforme dirige pensa o quão preocupado estava com seu namorado, ele não estava bem. Lucas insistia para João ir ao médico, insistia muito, mas o outro se negava. O caminho foi um grande borrão, até que, finalmente, Lucas avista João sentado em um banco embaixo de uma árvore que mal o protege do chuvisco. Ele estaciona o automóvel e corre de encontro ao garoto.

— Oi, meu amor — Lucas tenta beijar João, porém o moreno vira o rosto. Ele esconde o desconforto sob uma máscara de determinação e se senta ao lado. — Está acontecendo alguma coisa?

— Precisamos conversar — As palavras deixam um gosto amargo na língua de João, seu coração acelera. Sabe o quanto Lucas vai sofrer, por mais que ache que aquele é o certo a se fazer. — É melhor terminarmos.

A forma seca e direta que diz isso faz Lucas ficar estático. Lágrimas de frustração se formam.

— Pare de brincar com isso, amor — ele enxuga o choro que teima em rolar pela sua face.

— Juro que tentei te amar, Lucas. Não deu certo, continuo gostando do Bruno. Você não merece isso — João evita os olhos de Lucas. Por dentro o coração sangra, mas é o que considera melhor na situação que se encontra.

— Por que está fazendo isso comigo? Você mentiu durante todo o tempo — a tristeza que Lucas sente é tão grande que chega a doer. Passa em sua mente tudo que ambos viveram nos últimos meses. — Me falou várias vezes que me amava, me fez acreditar em algo que nunca existiu!

Lucas se levanta e João tenta segurá-lo.

— Não encoste em mim — Lucas pontua cada palavra, algo que parece raiva o dá forças para continuar. — Você sabe que eu não queria reatar o nosso namoro,  porém, você insistiu, falou que tudo seria diferente. Apostei todas minhas fichas nesse redirecionamento, nunca mais se aproxime de mim.

O pranto de João mescla-se a chuva que começa a, novamente, engrossar. De longe, ele assiste a pessoa que mais ama correndo e entrando num carro.

De volta ao carro, Lucas chora desoladamente. Sua cabeça se balança em negação, ele revive tudo o que o garoto que acaba de partir seu coração em dois acabou de dizer. Desesperado, liga automóvel e sai correndo pelas ruas da cidade. Seu corpo, e alma, precisava do calor do toque de sua mãe. As imagens repetiam e repetiam, como que desdenhando do seu sofrimento. Ele só quer desligar tudo e concentra-se nessa tarefa, mas se assusta com um caminhão que vem em sua direção. Automaticamente vira o volante para a direita, caindo em uma ribanceira. Ele capota. Capota no que, para ele, parece ser câmera lenta. Uma densa e sedutora escuridão guerreia com flashes de momentos com os amigos, de risadas da mãe e dos beijos roubados por João. A escuridão ganha.

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Começa hoje uma nova versão de A CORAGEM DE SER IMPERFEITO, espero que continue comigo nessa história.

Obrigado ao meu Mentor SrtoKirby pelo apoio e revisão.

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A CORAGEM DE SER IMPERFEITOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora