Capítulo 28 - Diário de Morgana Galiano

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Breno, um dos estudiosos que me visitou, afirmou saber onde meu povo está. Ele não precisou ser muito persuasivo para me convencer a segui-lo. O palácio já não era mais um lugar para mim.

Nesse momento, estou em meio a vegetação fechada da Floresta Enevoada. Mais precisamente no Bosque da Depressão. É inverno e independente de quantas fogueiras acendamos, nada consegue exortar o frio que chega até meus ossos. Breno é um domador do ar, por isso, consegue manter as correntes geladas longe de nós.

Essa floresta é famosa pelos diferentes seres aos quais abriga, inclusive as bruxas. Não sabemos onde exatamente elas residem, mas Breno acredita que sentirei assim que nos aproximarmos do local.

Desde que coloquei meus pés nesse solo, senti minha magia ficar mais forte. Irei encontrar minha família. Sei que irei.


JANEIRO

A Floresta Enevoada não possui esse nome por acaso. Há uma densa neblina que dificulta nosso senso de direção. Já nos perdemos inúmeras vezes e parece que estamos andando em círculos infinitos. Além disso, diferentes animais tentaram nos utilizar como alimento: kertus, um felino gigante que possuía três olhos negros como a noite, salisttigum, uma mistura de pássaro com dragão, entre outros que Breno não conseguiu nomear.

Foi difícil, mas conseguimos escapar. De acordo com o mapa de Breno, estamos próximos a região dos lupinos, o Bosque de Álamos, por isso, temos que ter muito cuidado. Sem dúvidas, homens em forma de lobos seriam muito mais letais do que qualquer espécie hospedada por aqui.

Sinto uma estranha euforia em encontrar minha terra. Acredito que também descobrirei quem realmente sou seguindo por esse caminho.


SETEMBRO

Eu as encontrei. De alguma forma, elas estavam esperando por mim; um pequeno grupo de bruxas vivendo pacificamente a margem do rio Perpetumm. Ao colocar os pés sobre essa terra, sinto-me em casa como jamais havia sentido.

Assim que expliquei o que buscava, elas começaram a revelar nossa história e absorvi cada palavra com muita avidez. Não há livros sobre isso, somente a tradição passada oralmente pelo integrante mais antigo o clã.

Contaram-me que somos como "primas" das fadas. Para não dotar de tanto poder apenas a uma espécie, as bruxas foram criadas para controlar as ações do povo dos céus, ou fadas simplesmente. Contudo, com a criação dos lupinos, a força das bruxas se tornou inferior em comparação a das fadas, fazendo com que elas não pudessem mais opinar nas questões do Conselho Eterno.

A elas foi dado apenas um pequeno espaço em meio a imensidão da Floresta Enevoada, o Bosque Infinito, onde residem até agora. Depois dessa decisão, todos perderam a fé no poder da visão. Nossa espécie foi esquecida em seu exílio e acusada de extrair sua magia das trevas.

Entretanto, não encontrei um resquício de escuridão em qualquer ser que cruzou meu caminho nesse lugar. Pelo contrário, sinto paz ao lado delas. Até mesmo Breno deseja permanecer conosco.

Soube também que muitas integrantes da nossa espécie se cansam da exclusão social e tentam construir uma nova vida no mundo elemental. Foi assim que eu nasci. Minha mãe descendia de uma longa linhagem de bruxas mesmo sem ter conhecimento sobre isso. Depois de muitas gerações sem dons, nasci com a visão novamente.

Nossa sociedade é praticamente composta apenas por mulheres, poucos homens são gerados e a eles não é dado nenhum cargo de importância. A maioria deles serve somente para procriação e esse é um dos motivos de nosso povo estar tão reduzido e fraco.

Coroa De Fogo - Livro 1 - Trilogia MestiçosWhere stories live. Discover now