Um natal Angelical

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A senhora sinalizou o caminho, e todos entraram em uma sala ampla, com quatro cadeiras, diversos brinquedos simples espalhados no chão, e várias pinturas nas paredes. Parecia uma sala de aula, que devia ser improvisada para os pais que desejavam adotar uma criança deste orfanato.

Carolina se aproximou da criança que, assim que entrou na sala, foi brincar com uma boneca.

— Você gosta de brincar de boneca, Alice? — Carolina fez um carinho na cabeça da criança, que bateu em sua mão e respondeu:

— Sim. Mas sozinha. Não bagunça o meu cabelo.

Que gênio terrível o dessa criança! Imagino que ela deve sofrer muito, mas acredito que toda dose de amor deve ser recebida de bom grado. Certo?!

— Tudo bem, princesa. Não vou mais mexer no seu cabelo. Posso, pelo menos, me sentar com você? — Como era possível que essa mulher ainda quisesse se aproximar, mesmo depois de ser repelida de tal forma? Sei que sou um anjo, mas não sou bobo!

— Longe, pode — respondeu Alice, olhando de soslaio para a desconhecida.

— Meu nome é Carolina, Alice. Quantos anos você tem?

— Sete. Você tem o cabelo da minha mãe. — A menina olhava desconfiada para Carolina, que imediatamente sorriu para seu marido, e sinalizou para que ele se sentasse ao seu lado.

— Quero te apresentar meu marido, Alice. Ele se chama Henrique, e é piloto de avião. Você gosta de aviões? — Carolina sorria genuinamente para Alice, que continuava temerosa diante daquele casal.

— Você tem o olho igual do meu papai. Vocês são parentes deles, e vieram me visitar? Ninguém nunca veio me procurar. — Alice se virou de costas, e parecia estar tentando conter e esconder as lágrimas.

— Não somos, Alice. Mas podemos ser seus amigos, se quiser. O que acha? — Henrique foi quem respondeu, e a gentileza da esposa era vista também no marido. Era um casal que se multiplicava. Uma coisa boa de ser um anjo é conseguir ver a bondade nos outros.

— Não quero amigos. Quero meus pais de volta. — A menina cruzou os braços na frente do corpo, e fez birra novamente.

— Infelizmente, não podemos trazer seus pais de volta. Mas podemos te dar uma nova família. Não é, Henrique? — Carolina acotovelou Henrique, esperando que o marido apoiasse sua decisão.

— Claro, querida. — Henrique ainda alisava o lugar, onde provavelmente mais tarde apareceria um belo hematoma.

— Eu não quero uma nova. Quero a MINHA família! — Alice gritou e tentou correr para fora da sala. Completamente desesperada, Carolina ficou paralisada no lugar. Mas Henrique foi rápido, e interceptou a passagem da menina.

— E que tal somente passar o Natal com a gente? — A ideia me pareceu genial, pois poderia ajudar a menina a deixar seus temores de lado, e viver um verdadeiro Natal em família.

— Mas, senhores... a ficha de vocês ainda não foi aprovada. E o Natal é na próxima semana — a senhora que estava silenciosamente sentada em sua cadeira se manifestou, fazendo até a criança olhá-la.

— Não é possível organizar tudo a tempo? — perguntou Carolina.

— Não podemos passar a solicitação de vocês na frente das outras. Há uma ordem e procedimentos legais — retrucou a senhora.

— É possível que eles peçam o direito de passar o Natal com você, Alice. Pede para ir com eles — sussurrei no ouvido da criança, que ficou atordoada ao ouvir a minha voz.

— E se eu quiser passar o Natal com eles? — a menina falou, e trouxe um imenso sorriso ao rosto do casal.

— Então, eles teriam que solicitar uma visita de Natal, e se comprometer a trazer você no outro dia. Mas isso não garante a adoção — a resposta da senhora abriu uma brecha essencial para mim: ensinar a essa criança o significado da palavra "confiança"!

Um Natal AngelicalWhere stories live. Discover now