8. ele chega de madrugada

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      Ela era quieta, com certeza. O jeito que seus olhos se perdiam por tudo com um pingo de medo confirmava minhas suspeitas. Usava um vestido de verão que acentuava sua cintura e não marcava as coxas que eram grossas, e com uma bota marrom clara ficava mais alta que a maioria, e por algum motivo acho que seria do tamanho de Lívia quando ela não usava salto. 

       Os cabelos castanhos caíam sobre um ombro só, o rosto era forte e sardento, e ela tinha o nariz reto e um pouco largo. Era diferente, mas chamou a minha atenção. Pegando o meu cartão comanda, estiquei meu braço na direção de Luan, fazendo eles finalmente pararem de discutirem. 

     — Pede outro pra ti. Fica por minha conta. — Disse, pegando da sua mão o copo que ele mal tinha tomado e indo em direção a garota. 

     Vênus levantou uma das suas mãos e me parou, tocando na minha barriga. — Onde que tu vai? — Perguntou, o tom de irritação da conversa dos dois ainda vazando através da sua voz. 

     — Conversar. — Respondi, sorrindo. Tínhamos dito que eu ia pra casa dela repetir o que tinha acontecido naquela semana, mas eu não sabia mais se queria aquilo, e ela entendeu quando deu de ombros e voltou a olhar Luan. 

       Indo na direção da menina, parei afastado mas no seu campo de visão. Levantando um lado da minha boca e uma sobrancelha, aguardei até que os seus olhos me achassem. Quando isso aconteceu, percebi que ela tinha olhos escuros, e o rosto com pouca maquiagem era realmente bem bonito. 

     Eu dei alguns passos devagar na sua direção. — Tu tá muito sozinha... — Comentei, levantando a bebida que tinha roubado de Luan na sua direção, dando uma leve risada. 

     A garota me olhou com um sorriso pequeno e desafiador, apontando para onde as portas dos banheiros ficavam. — Só estou esperando minhas amigas. 

     — Sim, sim... Eu vi. — Acenei com a cabeça. — E não de um jeito bizarro, tá? De um jeito bem normal e de alguém que sempre vem aqui mas nunca tinha te visto. 

       Eu ainda estava com o copo levantado, e com a minha fala ela acabou dando uma risada, olhando entre eu e o copo.

      — E tu me trouxe uma bebida? Como que eu vou saber que não está batizada? — Perguntou, suspeita, e cruzando os braços. A voz dela era ingênua, e eu balancei a cabeça ao lembrar de novo em Lívia e imaginando que ela iria detonar qualquer cara que levasse uma bebida pra ela, com a voz grossa, cínica e dramática, do mesmo jeito que ela tinha feito comigo todas as vezes que eu convidei ela pra jantar. 

      — Eu roubei a bebida do meu amigo e trouxe pra ti, sim. — Falei, dando uma risada. — E eu espero que tu não tenha nojo de germes e essas coisas. — Completei, dando dois goles do copo que eu estava oferecendo. — Não, ela não está batizada, e se tiver, eu vou ficar louco junto contigo...então não sei como que vai funcionar toda a ideia de tentar fazer tu me passar teu número.

      Com aquilo, ela soltou uma gargalhada, colocando uma mão em cima do seu peito e indo levemente pra frente. Eu sorri junto, mas foi estranho. 

     — Okay, tu me convenceu. — Ela respondeu, ainda sorrindo. Com uma mão, ela agarrou o copo da minha mão e tomou um leve gole, mostrando as unhas pintadas e perfeitas. 

      Tomando um gole junto dela, fiquei olhando sobre o copo a sua reação e a forma como ela ainda mantinha um sorriso e arrumou o cabelo. 

      — Então, moça prevenida e que ainda está esperando suas amigas, qual o teu nome? — Perguntei, indo até o seu lado e me encostando na parede. Quando eu fiz isso, ela se afastou e foi para a minha frente, trocando nossas posições e ficando de costas para os outros, exatamente do jeito que eu queria. Daquele jeito a sua atenção ficava só em mim, e era mais fácil conversar. 

Boa noite, Aquiles ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora