7. ela não consegue dormir

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Respirando fundo, senti o tecido debaixo dos meus dedos, o sangue pulsando no meu pescoço, e me acalmei. Precisava me concentrar, então peguei os meus sapatos que estavam na entrada, levando eles até meu quarto e arrumando de novo o meu armário basicamente de camisetas de brechós e vestidos executivos que nenhum tinha sido comprado por mim.

Ocupei minhas mãos reorganizando o que já estava organizado, e só parei quando o som do interfone tocou.

Lá embaixo Matheus pediu para que eu deixasse ele entrar, e eu abri a grade pra ele. Bem diferente de como Aquiles tinha feito, conversando primeiro com o porteiro e convencendo ele a abrir o portão, mesmo nem sabendo quem que o outro era.

Agarrando minha mochila fui até a mesa de centro na sala, deixando ela perto do sofá e tirando o pequeno vaso sem nenhuma planta e as poucas revistas de cima da mesa.

Abrindo a porta do apartamento agi com tranquilidade e esperei encostada no batente. De braços cruzados, dei um leve sorriso quando ele apareceu, saindo do elevador. Estava vestido com as mesmas roupas que na aula, carregando a mochila e algumas folhas na mão.

— Eu não sei nem por onde começar, mas acho que agradecendo. — Disse assim que chegou perto de mim, mas mantendo um pé e meio de distância.

— Eu não me importo de ajudar. — Respondi, mas me senti bem em saber que ele agradeceu e que estava ali, tirando os meus pensamentos de onde eu não queria voltar e estava sendo mais difícil que o normal ignorar.

Com a mão, chamei ele pra dentro com um aceno e fechei a porta. — Como tu pode ver, o espaço não é muito grande então eu não tenho nenhuma mesa de apoio, só a da sala. Tudo bem?

— Claro, claro. — Ele disse, sorrindo e fechando os olhos, as mãos balançando e mostrando que realmente não se importava.

— Então, — comecei, indo em direção a mesinha de centro e sentando no tapete felpudo e acinzentado, oposta onde ele já tinha se sentado — tu tem alguma matéria em especial que tu queria revisar?

Abrindo minha mochila, peguei meus cadernos e minha agenda enquanto esperava ele me dar uma resposta. Sem olhar, escutei ele mexendo nos seus papéis e na sua própria mochila. Meu coração estava acelerado de repente, com o barulho do zíper se abrindo e se fechando, e eu tentei acalmar minha respiração enquanto examinava a minha letra decorando as folhas do meu caderno, perfeitamente espaçada e em forma.

— A que temos na sexta? De cultura digital... tenho uma dificuldade de entender os diferentes textos e tudo mais.

— Pode ser. — Disse, abrindo aquele mesmo caderno no espaço certo.

— Na real...— Matheus começou, respirando fundo, mas não continuou.

Levantando a cabeça, encarei ele de sobrancelhas cerradas. Esperava, de verdade, que ele não fosse ignorar a parte dos estudos, pois se ele fosse tentar escapar do combinado estaria se metendo em uma emboscada. Não queria admitir, mas estudar me relaxava, e a ideia de brigar com ele por ter feito eu perder o meu tempo não era algo legal. Não queria brigar com ele quando algum tempo antes, naquele mesmo dia, tinha me sentindo tão bem ao saber que ele era parecido comigo.

— Tu pode me ensinar primeiro como que tu organiza as tuas coisas? — Ele disse, finalmente, tirando todo o pavor de dentro de mim.

Com a respiração se ajeitando, fiquei olhando entre ele e as minhas anotações. — Como assim?

— Assim, de organizar as folhas, e o jeito como tu usa os livros e os papéis que os professores dão. E esse jeito que tu consegue escrever tão arrumadinho... ia ajudar saber como estudar antes de realmente estudar.

Boa noite, Aquiles ✓Where stories live. Discover now