Capitulo 2: Wall-e

25 0 0
                                    






Não ache estranho eu comentar o fato de eu me meter no perigoso mundo da cobrança aos devedores de drogas por simplesmente achar a vida um saco. É exatamente isso. 90% do tempo eu não me sinto viva como deveria. Sinto como se fosse apenas um cão preso na coleira, que se animava ao receber ração e nos poucos momentos que seu dono brincava com ele.

O cotidiano de um adolescente de classe média do século 21 é, basicamente, estudar, trabalhar e mexer no celular. Enfim, esse é o meu. Não namoro ninguém, mas já tive relações simplesmente para poder dizer aos amigos que tive e eles não verem como sou esquisita. Foi nesse meio, me sentindo mal pela minha existência ser mais insignificante do que é o normal de uma existência ser, que meu primo, JP, comentou comigo precisar de um cobrador e eu, claramente, me ofereci na hora e me "joguei de prima" nessa. Sei lá, essas 6 horas por dia indo aos lugares mais perigosos da cidade (e também aos mais light) faziam eu me sentir incrivelmente bem, como ninguém ou nada jamais fizera.

Aposto que você está se perguntando sobre o fato de JP ser meu primo. Então, é exatamente isso.

JP é meu primo por parte de pai. "Mas então os avós dele, com quem ele mora, não são também seus avós?" PUTA PERGUNTA BESTA. Os avós com quem JP mora são parentes por parte da mãe de JP, que trabalha junto de seu pai (que é irmão do meu) em outro país (e não ajudam o JP em nada, nem ao menos enviam um pouco de dinheiro para ajudar seus avós). O pais do meu pai morreram a mais ou menos dois anos, perto de quando ele e minha mãe divorciaram-se.

Eu e ele sempre fomos estritamente grudados e nos tratávamos como irmãos, afinal, a realidade dos dois era a de famílias muito problemáticas, que deixam qualquer criança ou adolescente perturbado. Tínhamos apenas um ao outro. Foi assim que sempre acompanhei o JP em tudo que ele fazia, até quando começou a mexer com drogas.

E assim cheguei onde estou hoje, no meu quarto, com ele, prestes a me matar.

-O que foi? – Perguntei para ter certeza de qual era o motivo.

-O que foi? O QUE FOI, EDITE, O QUE FOI? - Eu sei que a letra maiúscula faz parecer que ele estava gritando mas ele estava mais calmo do que qualquer um conseguiria ficar com o tanto de raiva que ele sentia no momento. Apenas dava ênfase nos "O QUE FOI?".

Fiquei em silêncio, mas o encarei. Não iria me encolher diante de JP. Fomos criados do mesmo jeito, somos farinha do mesmo saco. Ninguém é melhor que ninguém nesse quarto.

-Edite, eu não estaria onde estou hoje se não fosse por Vince. Sabia disso? – Ele sussurrou.

-Eu sei, JP...

-NÃO me chame assim dentro da casa ou perto de qualquer um de nossa família! Esse é meu nome da rua, dentro da nossa família, sou apenas João.

-Para de frescura, Joãozinho. Eu sei sim que não estaria onde está hoje se não fosse por Vincente. Ele me disse, disso você sabia? Ele jogou na minha cara, enquanto falava mal do que você vende, falava mal de você e fazia pouco caso do nosso trabalho. Nem ao menos pagou.

-Precisa fazer aquilo, Edite? –Ele me fitou preocupado – Ele pode mandar gente ruim e sem piedade atrás de você. Atrás de nós dois.

-Ele não vai fazer isso, João. – Me fitei no espelho – A minha mãe notou que eu estava machucada mas não me questionou, o que será que aconteceu?- Tentei trocar de assunto.

-O Vince me ligou e disse que tinha enchido você de porrada...

-OPA, OPA, OPA! Se teve alguém que encheu alguém que ACHA que me encheu de porrada, fui EU. Eu que enchi aquele magrelo de porrada. Otário do caralho NOSSA EU TO MUITO PUTASSA!

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Jul 21, 2018 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

Junção dos impetuososWhere stories live. Discover now