– Não se preocupem comigo – Crystal diz. – Vocês precisam ir ajudar. Eu não consigo mais. Só fiquem alertas, por favor, porque o que quer que esteja acontecendo no meio das árvores, não é nada comparado com o que já vimos por aqui. Eles não matam como estamos acostumados. Cuidado para não serem pegas de surpresa.

Dou um passo para trás e abro a minha mochila. De lá, retiro meus óculos e um cinto cheio de adagas, o prendendo na minha cintura. Há vinte adagas aqui. Podem ser as últimas vinte adagas que vou usar na minha vida, mas eu estou disposta a lutar.

Todos nós sabemos que nosso fim será em uma batalha. Nos meus 17 anos de clã, não conheci um guerreiro sequer que morreu de causas naturais ou de velhice. Nem um sequer.

– Vamos, Emma – chamo a minha irmã e seguimos por um dos cantos da floresta.

Vou me metendo no meio das árvores, seguindo para o mais longe possível, até não ver mais nenhum vestígio de calor corporal pelos óculos. Não quero me confundir com toda a bagunça que está acontecendo no meio do parque, até para não atacar ninguém sem querer.

Desvio dos troncos e dos pequenos animais que vagam pela floresta de noite, torcendo para não encontrar um urso. Não que eles normalmente estejam acordados no meio de outubro. Pelo menos eu espero que não estejam.

– Emma – chamo, virando-me para trás, apenas para perceber que minha irmã não está comigo. – Emma?

Confusa, paro no meio do caminho. Quando foi que eu me separei dela? Será que Emma ficou para trás?

Ouço um barulho vindo da minha frente e ignoro completamente o fato de que eu estou sozinha no meio do mato. O som dos passos vai ficando mais alto e mais próximo, e com a ajuda dos óculos, vejo onde esta pessoa está.

Escondo-me atrás duma árvore até que a pessoa esteja próxima o suficiente para eu conseguir ver as roupas que ela usa. Se forem roupas especiais como as minhas, tenho que alertar a minha posição para evitar ser atacada por um membro do meu clã. Se for um shifter, preciso pensar em uma estratégia rápida para escanear o seu corpo e lançar uma adaga em algum ponto vital, evitando chamar atenção de outros shifters do bando.

Tal corpo vem da minha lateral esquerda, mas a árvore é muito grossa, o que me faz ter certa dificuldade para saber a distância exata entre eu e esta pessoa. Pode ser tarde demais quando eu finalmente conseguir vê-la por completo.

Depois de alguns segundos, o barulho de passos cessa e tenho a estranha sensação de estar sendo observada. Olho para cima para ter certeza de que esse ser que compartilha o mesmo ambiente que eu não escalou uma das árvores e nem vai tentar me atacar por cima, como o shifter que matou o Líder Ezequiel fez.

Após concluir que não há nada me cercando em direção nenhuma, me arrasto lentamente pelo tronco da árvore, com o corpo agachado para contorná-la e encontrar o indivíduo que tenta esconder sua presença. Penso em jogar pó de sílica no ar e aguardar a reação dele, mas eu não estou com o pó em mãos e acho que ao tentar coletá-lo, além de me deixar com a guarda baixa, também vou fazer barulho.

Levanto os óculos até a minha cabeça para ter uma visão melhor da criatura que espreita por aqui e vejo calças jeans.

Jeans não era uma vestimenta Crossfire para caça.

É um shifter.

Saio de trás da árvore com uma adaga em punho, pronta para cravá-la no peito desse ser, até me deparar com o seu rosto surpreso. Certamente não tão surpreso quanto o meu.

– Gabe?

Gabe sai correndo o mais rápido que suas pernas conseguem me deixando para trás enquanto tento lidar com o choque de vê-lo no meio da floresta sozinho.

A traição - Livro 1 - Série ShapeshiftersWhere stories live. Discover now