Prólogo

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Eu passei a minha vida toda ouvindo o quão cruéis eles eram, fato este que eu nunca discordei e realmente tinha certeza que nunca o faria. A história do meu povo não era bonita, afinal quem nasce para ser uma mera prostituta não pode esperar flores. Em uma terra onde viviam humanos, lobos, vampiros e bruxas, nós não éramos nada disso. Não tínhamos força sobrenatural, velocidade ou magia, a única porra que tínhamos era um ventre premiado. Sim isso mesmo, nós somos as Selenes, criaturas com uma beleza incomparável e feitas excepcionalmente para serem meras incubadoras.

Mas depois de séculos, de puro sofrimento, minhas antepassadas conseguiram fugir e trazer para nós a paz encontrada na liberdade. A duzentos anos deixamos de ser meras parideiras e hoje lutamos para deixar nossa identidade oculta, esta que se for descoberta juramos nunca nos entregar, juramos lutar pelo presente que nos foi dado pelas mulheres que lutaram por nós, que morreram por nós. Ainda somos as Selenes, contudo, hoje nos escondemos como qualquer outra criatura sobrenatural.

Com a ajuda de algumas bruxas conseguimos nos esconder dos nossos carrascos. Toda criança recém nascida mulher, recebe uma capa vermelha e a cada ano recebe outra maior. Quando uma Selene se descobre gravida vai ate as bruxas, caso elas digam que é uma menina, a mulher deve ir em busca de uma madrinha para a criança. A bruxa escolhida lhe presenteia todos os anos com uma capa vermelha feita pela mesma, esta que tem dois propósitos em um só; esconder dois cheiros.

Como toda criatura sobrenatural temos o nosso cheiro próprio, este que é perfeito para saberem quem nós somos, porém esconder somente este não seria suficiente. Vinte anos após a nossa partida, a deusa da lua deu um presente aos lobos, uma chance de consertarem seus erros. A partir dali a relação entre nós seria de companheiros de alma, alguém que lhe completaria por toa a vida. E isso, essa palhaçada que para mim é só mais uma forma de nos prender, também é encontrada pelo cheiro. Sendo assim, essa capa serve como uma proteção para impedir que eles sintam estes dois cheiros.

Mas todo esse drama de fugitivas sofridas, não nos impede de vivermos, afinal não seriamos livres se nos prendêssemos aos nossos medos. E era por isso que eu estava aqui, no meio de todas essas pessoas, pulando e dançando a batida contagiante de alguma música. Mas era obvio que eu não passaria despercebida, ainda mais para os olhos azuis como o céu que me olhavam de longe como se fossem me devorar. E quando eu percebi ele já estava ao meu lado, mas essa não foi a pior parte. Tola fui eu de achar que seria só isso, tola fui eu de não perceber que ali a minha sentença já havia sido decidida.

Eu não sabia que eu podia amar e me entregar tão intensamente, e quando a verdade veio a toda, já era tarde de mais para se esconder.

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