Acho que eu estou mudando

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— É lindo quando te acerta na cara, com certeza – Lavínia falou.

— Tenho certeza de que é. Mas vocês descobriram algo além disso?

Acho que essa é minha deixa.

— A Lu… – eu falei. – Droga. Não consigo acreditar que ela era um monstro.

— Ei, garota cobra – Lavínia disse. – Foco.

Fechei a cara para Lavínia e ela abriu um sorrisinho entojado.

— Ela falou alguma coisa sobre um massacre – eu disse. – Que eu tinha feito um. Eu não entendi.

— Um massacre? – Marcos repetiu. – Mais nada?

— A Aalto disse de novo que eu devia ir procurar o meu passado.

Minhas mãos estavam tremendo um pouco.

— Acho que é o que eu vou fazer – eu disse. – Não. É o que eu vou fazer. Eu vou visitar a cidade onde eu morei antes.

Uma mão no meu ombro.

Daniel estava ao meu lado, me olhando confiante como alguém que tenta te passar apoio sem falar nada.

— Então vamos viajar? – Lavínia disse. – Ótimo. Ao menos uma coisa boa disso tudo.

Ela saltou do banco em que estava, agarrou o braço de Daniel e o puxou para perto de si.

— Faz tempo que você não me leva para fora da cidade – ela disse. – Infelizmente meu namorado é ocupado demais para sair comigo, não é? Embora eu não tenha nada contra bater em algumas pessoas junto com você, às vezes não é ruim fazer algo menos agitado.

— Você tem a personalidade de uma gata, sabia disso? – Daniel disse.

Um soco.

Ai.

— Babaca – Lavínia disse.

Meu coração batia rápido, meu olhar fugiu para o lado e acabou encontrando Marcos. Ele me olhou de volta, sério, e fechou o livro que estava lendo.

Jung.

 

No quarto em que eu estava dormindo, troquei de roupas e me preparei psicologicamente para a viagem. Mesmo que fosse, ou devesse ser, algo que eu já esperava fazer, ainda assim eu não conseguia tirar aquela sensação esquisita de dentro de mim.

Medo?

Enquanto me trocava, acabei parando na frente do espelho vestindo só o colar. Apertei ele com força na minha mão, não sei por quê. Só senti que precisava fazer isso.

Acho que eu estou mudando.

Mas o que isso significa?

Encostei a mão no espelho, parecia que eu estava tocando algo tão diferente, e fechei os olhos. Tentei formar uma imagem na minha cabeça ou qualquer coisa assim. Eu não fazia ideia do que estava fazendo. E mesmo assim eu sentia… sentia que devia fazer.

Escuro. Uma forma. O quê? Verde. Grande. A serpente. O gorila. O dinossauro.

“Qual é o meu nome?”.

Abri os olhos.

Uma garota.

— Quem é você?

Umas duas horas mais tarde, Daniel chegou de carro à frente da loja e buzinou. Desci até a frente do antiquário, onde Marcos esperava, de pé, solene e sério como sempre fazia questão de parecer.

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