Prefácio

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O dia estava deliciosamente frio. Através da janela era possível ver os flocos de neve caindo, transformando a paisagem, anunciando a proximidade do Natal. Mas nem mesmo a bela paisagem provocada pela minha estação preferida do ano era capaz de trazer algum alívio ao meu coração. Nada poderia curar a dor que eu sentia. Meus olhos vermelhos e inchados ardiam pelas longas horas de choro. Ainda não sei como encontrei forças para continuar sentada no sofá da sala, enrolada em um cobertor... vendo o fogo crepitando na lareira. Eu sentia falta da nossa casa, da nossa varanda onde sempre nos deitávamos na rede, mesmo nas noites frias. Eu sentia falta dele.

De uma forma meio masoquista, eu tentava imaginar como ele estaria agora. Aquela mulher também se encolhia nos braços dele se sentindo imediatamente aquecida? Ela fechava os olhos completamente deleitada enquanto ele acariciava seus cabelos? Ela fingia dormir para que ele a levasse nos braços até a cama?

Eu forcei minha mente a se desligar completamente. Eu não 'podia imaginar os dois na cama... na nossa cama. Na mesma cama em que ele me amou por incontáveis noites, tardes e manhãs. Meu Deus... por quê? Doía... doía muito.

No entanto, eu aprendi que ninguém, ser humano ou não, vive feliz se estiver se sentindo preso. Sei que de alguma forma, Daniel me amava. Mas em um relacionamento nem sempre o amor é o alicerce. Entre nós não havia mais cumplicidade, não havia mais companheirismo. Mesmo quando ele estava batalhando para conquistar tudo o que tinha, Daniel jamais chegou em casa tão tarde. Ele fazia questão de passarmos algumas horas juntos.

E tudo isso mudou quando aquela mulher retornou à vida dele. Eu a odiava.

E não era ódio por ela ter me roubado o homem que eu amava porque ela não fez isso. Ela não o roubou, pelo menos não totalmente. Eu o deixei ir. Mas eu a odiava por ser quem ela era. Alguém que o desprezou e o chutou sem a menor consideração. Alguem que so pensava em status e dinheiro. Hoje, Daniel era um homem bem de vida... e assim conseguiu conquista-la.

Se eu o perdoava? Claro que sim. Ele não me traiu e eu tenho certeza disso. Pelo menos, não fisicamente. Mas ninguém manda no próprio coração. E com ele não poderia ser diferente. Finalmente Daniel ia poder viver o seu grande amor da adolescência. Eu sai de cena para que outra protagonista, o amor de sua adolescência ocupasse meu lugar. Ou melhor, ela estava retornando ao seu lugar.

E eu? Eu seguiria meu caminho, sozinha como estive por muito tempo. Eu ia seguir em frente, porque como eu disse a ele certa vez: ninguém morre por amor. E eu não seria a primeira. Sei que não seria fácil porque eu o amava muito... mas eu também me amava. 

Noites de inverno - Livro II -  LIVRO  RETIRADO Coleção As quatro estaçõesWhere stories live. Discover now