O rubor agora corria pelo rosto de Elizabeth com a instantânea convicção de ser uma carta do sobrinho, ao invés da tia; e ela estava indecisa se deveria estar mais satisfeita do que ele se explicasse de uma vez, ou ofendida pela carta não ter sido enviada diretamente para ela; quando seu pai continuou:

"Você parece consciente. As jovens têm grande compreensão sobre assuntos como estes; mas eu creio que eu possa até desafiar a sua sagacidade, para descobrir o nome de seu admirador. Esta carta é de Mr. Collins."

"De Mr. Collins! E o que ele pode ter a dizer?"

"Algo muito próximo do propósito, claro. Ele começa com as felicitações sobre as núpcias que se aproximam de minha filha mais velha, as quais, parece, ele soube por algum dos bons e fofoqueiros Lucas. Não brincarei com sua impaciência, ao ler o que ele diz a respeito. O que ele tem a relatar sobre você é o seguinte: 'Tendo, assim, oferecido-lhe as mais sinceras congratulações da parte de Mrs. Collins e de mim mesmo por este feliz evento, deixe-me agora acrescentar uma pequena deixa para o tema de outro; do qual fomos avisados pela mesma fonte respeitável. Presume-se que sua filha Elizabeth, não carregará o nome Bennet por muito tempo, depois que sua irmã mais velha o trocar e o parceiro escolhido de seu destino pode ser razoavelmente considerado como um dos mais ilustres personagens desta terra'."

"Pode possivelmente adivinhar, Lizzy, a quem isto se refere?" 'Este cavalheiro é abençoado, de modo particular, com tudo o que o coração de um mortal pode desejar: esplêndida propriedade, nobre descendência e ampla patronagem. Ainda assim, apesar de todas as tentações, deixe-me avisar minha prima Elizabeth, e a si, dos males que podem incorrer por um término precipitado com as propostas deste cavalheiro, das quais, decerto, você estará inclinado a se beneficiar imediatamente'."

"Tem alguma ideia, Lizzy, de quem é este cavalheiro? Mas agora se revela:

'Meu motivo para alertá-lo é o que se segue. Temos motivo para imaginar que a tia dele, Lady Catherine de Bourgh, não vê a união com olhos simpáticos'.

"Veja, Mr. Darcy é o homem! Agora, Lizzy, creio que a surpreendi. Poderia ele, ou os Lucas, ter agarrado qualquer homem dentro do nosso círculo de relacionamento, cujo nome teria dado a mentira mais eficaz a tudo o que eles contam? Mr. Darcy, aquele que nunca olha para qualquer mulher a não ser para descobrir um defeito e que provavelmente nunca olhou para você na vida! É admirável!"

Elizabeth tentou se unir ao gracejo de seu pai, mas apenas conseguiu forçar um sorriso dos mais relutantes. Nunca a sagacidade dele tinha sido dirigida de modo tão pouco agradável com relação a ela.

"Você está se divertindo?"

"Ó! Sim, por favor, continue a ler."

"'Depois de mencionar a probabilidade desse casamento à sua senhoria noite passada, ela imediatamente, com sua habitual condescendência, expressou o que sentia na ocasião; tornou-se aparente, com a amostra de algumas das objeções de família da parte de minha prima, que ela nunca daria seu consentimento ao que denominou como uma união tão vergonhosa. Pensei ser meu dever dar a informação rapidamente à minha prima, para que ela e seu nobre admirador possam estar cientes e não correrem apressadamente para um casamento que não foi sancionado apropriadamente'. Mr. Collins acrescenta ainda mais, 'Estou verdadeiramente exultante que o triste caso de minha prima Lydia tenha sido tão bem silenciado, e estou apenas preocupado que a vida deles em conjunto antes do casamento ter acontecido seja tão amplamente conhecida. Não devo, porém, abandonar os deveres de meu cargo ou evitar declarar minha surpresa por saber que recebeu o jovem casal em sua casa assim que se casaram. Foi um encorajamento do vício; e fosse eu o reitor de Longbourn, deveria incansavelmente ter me oposto a isso. Deve, certamente, perdoá-los, como cristão, mas nunca admiti-los diante de si ou permitir que seus nomes sejam mencionados'. Essa é a noção dele do perdão cristão! O resto da carta é apenas sobre a situação de sua querida Charlotte, e sua expectativa de um jovem ramo de oliveira. Mas, Lizzy, você parece que não gostou disso. Não vá ficar sentida, espero, e fingir estar afrontada por um boato ocioso. Para o que vivemos, senão para divertir nossos vizinhos e rir deles quando chega a nossa vez?"

"Ó!", exclamou Elizabeth, "Eu me diverti muito. Mas isso é tão estranho!"

"Sim... é o que faz ser tão engraçado. Se eles tivessem se fixado em qualquer outro homem, não teria sido nada; mas a perfeita indiferença dele, e seu acentuado desprazer, tornam isto um absurdo tão prazeroso! Apesar de tanto abominar escrever, não deixaria a carta de Mr. Collins sem nenhuma resposta. Não, quando leio uma carta dele, não posso dar a preferência a ele, mesmo sobre Wickham, por tanto que prezo a impudência e a hipocrisia de meu genro. E, por favor, Lizzy, o que disse Lady Catherine sobre este boato? Ela nos visitou para recusar seu consentimento?"

Sua filha respondeu a essa questão apenas com uma risada; e como a pergunta não trouxe nem a menor das suspeitas, ela não estava incomodada com sua repetição. Elizabeth nunca esteve tão incapacitada de fazer seus sentimentos se parecerem com o que não eram. Era necessário sorrir quando preferia chorar. Seu pai a tinha mortificado cruelmente, pelo o que disse sobre a indiferença de Mr. Darcy, e ela não poderia fazer nada a não ser se surpreender com tal falta de compreensão ou medo que, talvez, ao invés de vê-lo tão pouco, ela pudesse ter fantasiado demais.

Orgulho e Preconceito (1813)Where stories live. Discover now