CAPÍTULO 2

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Mr. Bennet era uma mescla tão estranha de tiradas rápidas, humor sarcástico, reserva e capricho, que a experiência de 23 anos era insuficiente para fazer sua esposa compreender a sua personalidade. A mente dela era menos difícil de evoluir. Ela era uma mulher de compreensão medíocre, pouca informação e de temperamento incerto. Quando descontente, imaginava-se nervosa. A razão de ser de sua vida era ver suas filhas casadas; seu consolo eram visitas e novidades.

Mr. Bennet foi um dos primeiros a visitar Mr. Bingley. Ele sempre pretendera visitá-lo, embora até o fim sempre assegurara a sua esposa de que ele não deveria ir; e, até a noite depois da visita que foi prestada, ela não tinha nenhum conhecimento disso. A visita então foi revelada da seguinte maneira. Observando sua segunda filha ocupada em aparar um chapéu, ele lhe falou de súbito:

"Espero que Mr. Bingley goste dele, Lizzy."

"Não temos como saber do que Mr. Bingley gosta", disse sua mãe ressentida, "já que não o visitaremos."

"Mas você se esquece, mamãe", disse Elizabeth, "que devemos encontrá-lo nas reuniões e que Mrs. Long prometeu nos apresentá-lo."

"Não acredito que Mrs. Long fará algo de tal monta. Ela mesma tem duas sobrinhas. Ela é uma mulher egoísta e hipócrita e não gosto nem um pouco dela."

"Não mais do que eu", disse Mr. Bennet; "e estou feliz por saber que você não depende dela para ajudá-la."

Mrs. Bennet não se dignou a dar qualquer resposta, mas, incapaz de se conter, começou a ralhar com uma de suas filhas.

"Não continue a tossir assim, Kitty, pelo amor de Deus! Tenha um pouco de compaixão pelos meus nervos. Você os deixa em pedaços."

"Kitty não é discreta com sua tosse", disse seu pai; "sempre está adoentada."

"Eu não tusso para minha própria diversão", replicou Kitty, irascível. "Quando será seu próximo baile, Lizzy?"

"Na próxima quinzena."

"Ah, é mesmo", exclamou sua mãe, "e Mrs. Long não estará de volta até a véspera; portanto será impossível para ela nos apresentá-lo, pois ela mesma não o conhecerá."

"Então, minha cara, você pode tomar a dianteira de sua amiga e apresentar Mr. Bingley a ela."

"Impossível, Mr. Bennet, impossível, quando eu mesma não tenho relações com ele; como você pode ser tão irritante?"

"Honro sua circunspeção. Um relacionamento de quinzena certamente é muito pouco. Ninguém pode saber o que um homem realmente é ao término de duas semanas. Mas se não nos aventurarmos, alguém irá; e, afinal de contas, Mrs. Long e suas filhas devem buscar sua oportunidade; e, portanto, como ela considerará um ato de bondade, se você declinar da tarefa, eu mesmo a aceitarei."

As jovens encararam o pai. Mrs. Bennet apenas disse, "Bobagem, bobagem!".

"Qual pode ser o significado de tal enfática exclamação?", exclamou ele. "Você considera as formas de apresentação e a pressão que se deposita nelas como bobagem? Não posso concordar muito com você nisso. O que diz, Mary? Pois você é uma jovem dama de profunda reflexão, eu sei, e lê grandes livros e faz resumos."

Mary desejou dizer algo sensível, mas não soube como.

"Enquanto Mary está ajustando suas ideias", continuou ele, "voltemos a Mr. Bingley."

"Estou cansada de Mr. Bingley", exclamou sua esposa.

"Lamento muito em ouvir isso; mas por que não me disse isto antes? Se soubesse disto nesta manhã, certamente não o teria visitado. É muita falta de sorte; mas realmente o visitei, não podemos fugir da relação agora."

A surpresa das damas era justamente o que ele desejava; a de Mrs. Bennet talvez maior do que a das outras; embora, quando o primeiro tumulto de alegria se passou, começou por declarar que aquilo era tudo o que ela esperava no momento.

"Quanta bondade de sua parte, meu querido Mr. Bennet! Mas eu sabia que iria convencê-lo por fim. Estava certa de que amava muito suas filhas para negligenciar tal relação. Bem, quão feliz estou! e é uma boa piada, também, que você tenha saído esta manhã e nunca dissera nenhuma palavra a respeito até agora."

"Agora, Kitty, você pode tossir o quanto quiser", disse Mr. Bennet e, enquanto falava, deixou a sala, cansado do arrebatamento de sua esposa.

"Que excelente pai vocês têm, meninas!", disse ela, quando a porta se fechou. "Eu não sei como vocês retribuirão sua bondade; ou para mim, também, por esse motivo. Em nossa idade, não é agradável, posso lhes dizer, fazer novas amizades todos os dias; mas, para o bem de vocês, faríamos qualquer coisa. Lydia, meu amor, embora você seja a mais jovem, ouso dizer que Mr. Bingley dançará com você no próximo baile."

"Ó!", disse Lydia, com firmeza, "não tenho medo; pois embora seja a mais nova, sou a mais alta."

O restante da noite foi passado em conjeturar quão logo ele retribuiria a visita de Mr. Bennet e em determinar quando elas deveriam convidá-lo para jantar.

Orgulho e Preconceito (1813)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora